Apesar do tom amigável na conversa de Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, a oposição ligada a Jair Bolsonaro (PL) agora aposta suas fichas no nome indicado para conduzir as negociações do tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil: o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, que também é o chefe da diplomacia.
Conversa entre Trump e Lula
- Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva conversaram nessa segunda-feira (6/10), em um telefonema de 30 minutos.
- O tema central da conversa, segundo o Itamaraty, foi o tarifaço norte-americano contra produtos do Brasil.
- Além disso, Lula pediu que o presidente dos EUA reconsidere as sanções impostas contra autoridades brasileiras.
- A conversa entre os dois aconteceu após rápido encontro na Assembleia Geral da ONU, onde Trump disse ter tido uma “química excelente” com o líder brasileiro.
Logo após o telefonema, aliados do ex-presidente iniciaram um movimento quase que orquestrado nas redes sociais, e mostraram esperança de que a condenação de Bolsonaro seja levada em consideração durante as negociações entre Brasília e Washington.
Isso porque o atual secretário de Estados dos EUA, nomeado como o chefe das discussões pelo lado norte-americano, possui um histórico de críticas a governos progressistas.
“Eu estou em breves férias familiares, mas acordei embasbacado vendo a imprensa comemorando porque Trump colocou MARCO RUBIO para NEGOCIAR com o Brasil”, escreveu o blogueiro Paulo Figueiredo em uma publicação no X. “O grau de desconexão com a realidade é patológico. Como disse: a luz no fim do túnel é um trem”.
A mesma retórica do neto de João Figueiredo, um dos ex-presidentes do Brasil no regime militar, também foi adotada pelos filhos de Bolsonaro.
Em entrevista ao Metrópoles, na coluna Paulo Cappelli, o senador Flávio Bolsonaro (PL) disse que as negociações entre EUA e Brasil agora estão nas mãos de alguém que “conhece os males que o socialismo causa numa nação”, se referindo a Rubio.
Já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) — que, desde março deste ano, está nos EUA articulando sanções norte-americanas contra o Brasil, na tentativa de interferir no processo judicial contra o próprio pai — afirmou que Rubio “não cairá na conversa mole” de Lula.
Histórico de Marco Rubio
Filhos de imigrantes cubanos, Marco Rubio se tornou o primeiro chefe da diplomacia dos EUA de origem latina ao Trump reassumir a Casa Branca. Antes de assumir o posto, o secretário de Estado norte-americano ocupou cadeiras no poder Legislativo do país, e atuou como senador entre 2010 e 2025.
Visto como um dos nomes fortes da ala ideológica da administração Trump, Rubio possui um histórico de declarações e posicionamentos contra governos de esquerda.
Durante a ofensiva norte-americana contra autoridades do Supremo Tribunal Federal (STF), com foco no ministro Alexandre de Moraes, o chefe de diplomacia norte-americana fez duras críticas ao julgamento que condenou Bolsonaro a 27 anos de prisão.
“As perseguições políticas pelo abusador de direitos humanos sancionado, Alexandre de Moares, continuam enquanto ele e outros no Supremo Tribunal do Brasil decidiram injustamente prender o ex-presidente Jair Bolsonaro”, disse Rubio ao fim do julgamento do ex-presidente brasileiro. “Os Estados Unidos responderão adequadamente a essa caça às bruxas”.
Recentemente, a visão de Rubio também foi exposta durante uma rodada de sanções contra autoridades ligadas ao Mais Médicos, que incluiu o atual ministro da Saúde do Brasil, Alexandre Padilha.
Na época, Rubio afirmou que a revogação de vistos de autoridades brasileiras ligadas ao programa era uma resposta ao “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano”. De acordo com fontes ouvidas pela coluna Igor Gadelha, a decisão foi uma espécie de “acerto de contas” do chanceler norte-americano contra a nação em que seus pais nasceram.
Além das declarações favoráveis à Bolsonaro, outro fator animou aliados do ex-presidente. Diferente de outros casos, a negociação sobre o tarifaço norte-americano não será conduzida pelo representante comercial dos EUA, Jamieson Greer.
Com a escolha, parte da oposição brasileira acreditam que as discussões não devem girar em torno apenas da questão comercial, como também podem envolver questões políticas e consequentemente Bolsonaro.
Até o momento, porém, ainda não está claro se o assunto será colocado na mesa de negociações pelo secretário de Estado dos EUA. O governo brasileiro, por sua vez, já declarou que o assunto — e a soberania do país — não será colocado nas discussões comerciais.“Bom homem”
Mesmo com a esperança de aliados de Bolsonaro, Trump deu sinais positivos para Lula não só durante o telefonema de 30 minutos, mas também após a conversa.
Durante conversa com jornalistas no Salão Oval da Casa Branca, horas após conversar com o líder brasileiro, Trump classificou Lula como um “bom homem”. Ele ainda acrescentou que negociará com o homólogo brasileiro, e disse que deve se reunir presencialmente, em breve, com o presidente do Brasil.