Segunda-feira, 01 de Setembro de 2025
icon-weather
DÓLAR R$ 5,44 | EURO R$ 6,38

01 de Setembro de2025


Área Restrita

Justiça Segunda-feira, 01 de Setembro de 2025, 18:14 - A | A

Segunda-feira, 01 de Setembro de 2025, 18h:14 - A | A

COMBATE AO FEMINICÍDIO

Projeto une Psicanálise e Círculos de Paz no combate ao feminicídio em VG

Iniciativa de professoras da rede municipal alia escuta coletiva e psicanálise para fortalecer mulheres e romper ciclos de violência em Mato Grosso

Conteúdo Hipernotícias

Em Mato Grosso, um grupo de professoras da rede municipal de Educação de Várzea Grande desenvolve um projeto que une os Círculos de Construção de Paz, metodologia da Justiça Restaurativa, e a Psicanálise como estratégia de enfrentamento ao feminicídio. A proposta foi apresentada durante o III Congresso Internacional: Novas Abordagens em Saúde Mental, realizado nos dias 19 e 20 de agosto, em Cuiabá.

A proposta foi apresentada durante o III Congresso Internacional: Novas Abordagens em Saúde Mental, realizado pelo Centro Educacional de Novas Abordagens Terapêuticas (Cenat), nos dias 19 e 20 de agosto, no Teatro Zulmira Canavarros, em Cuiabá. O encontro teve como objetivo abrir espaço para debates e apresentação de boas práticas voltadas à melhoria da qualidade de vida de pessoas em sofrimento psíquico.

Os Círculos de Construção de Paz e a Psicanálise partem da ideia de que falar, ser escutado e elaborar narrativas sobre si mesmo possui potencial terapêutico e transformador. Ambos utilizam a palavra como via de cura e mudança: seja para restaurar relações sociais e promover autoconhecimento, como nos círculos, ou para elaborar conflitos internos, como na psicanálise.

“A escuta ativa realizada pelo psicólogo ou pelo psicanalista é essencial para ajudar mulheres vítimas de violência a verbalizar e compreender suas experiências em um relacionamento, desenvolver um olhar crítico diante das situações e recuperar sua identidade. É exatamente nesse ponto que os círculos de construção de paz criam um ambiente seguro para a revelação espontânea, permitindo que as participantes reconheçam suas dores, desafiem narrativas de culpa cristalizadas na sociedade e se expressem sem julgamentos. A conexão entre o aprofundamento psicanalítico e o diálogo restaurativo possibilita buscar resultados positivos para os envolvidos”, explicou a professora e psicóloga Leyze Grecco, que também integra a rede de enfrentamento à violência contra a mulher e de fortalecimento da Justiça Restaurativa no município.

Facilitadora de Círculos de Construção de Paz, Leyze relata que o projeto foi desenvolvido a partir de encontros realizados inicialmente com 60 mulheres, profissionais da rede municipal de Educação, com o objetivo de promover autoconhecimento, despertar valores e fortalecer a identidade feminina. A meta é alcançar 100% das mulheres lotadas nas 97 unidades de ensino de Várzea Grande, entre Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e Escolas Municipais de Educação Básica (EMEBs).

“Quando trazemos a temática da identidade para dentro dos Círculos de Paz, abrimos caminho para reflexões sobre quem somos e como nos enxergamos. Quando temos convicção de quem somos, conseguimos agir de forma diferente. Essa convicção não está apenas no aspecto físico, mas também no psíquico, emocional e comportamental. Essa investigação do eu, como aponta a psicanálise, é fundamental para provocar mudanças. Quando a mulher se reconhece de forma clara, encontra forças para mudar sua forma de agir e romper o ciclo da violência. Diferente do atendimento individualizado em consultório, os círculos possibilitam um aprofundamento coletivo sobre a identidade”, destacou Leyze.

Enquanto a Psicanálise busca transformar sintomas em narrativa, permitindo ao sujeito ressignificar sua dor, os Círculos de Paz atuam no plano coletivo, dando espaço à expressão de mágoas, medos e ressentimentos, que podem ser elaborados e transformados em novas percepções. Tanto a Psicanálise quanto os círculos entendem a fala como via de elaboração psíquica de conflitos.

No livro Recordar, repetir e elaborar, o psicanalista austríaco Sigmund Freud defende o dispositivo clínico da escuta como um espaço de acolhimento, onde a pessoa pode narrar, recordar e elaborar suas dores e traumas. De forma semelhante, nos Círculos de Paz, cada participante tem assegurado o direito de fala e de escuta, criando um ambiente de reconhecimento e apoio mútuo.

Entretanto, romper o ciclo da violência não é simples. A ausência de espaços seguros de diálogo e de fortalecimento emocional pode reduzir o encorajamento para que mulheres denunciem agressores.

Dados de 2024 do Comitê para a Análise dos Feminicídios em Mato Grosso, formado pelo Poder Judiciário, Defensoria Pública, Ministério Público, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Assembleia Legislativa e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), apontam um cenário preocupante: em pesquisa com familiares e amigos de quinze vítimas, 60% dos casos não tinham boletim de ocorrência, quase 70% das vítimas deixaram filhos menores, e 67% dos familiares tinham conhecimento das agressões, mas permaneceram em silêncio.

Para a professora e facilitadora de Círculos de Paz, Nailza Gomes, mestre em Educação e doutora em História, o alto índice de feminicídios mobiliza instituições do sistema de Justiça e da sociedade civil na busca por alternativas que possam romper o ciclo de agressões.

“Acabamos de participar da elaboração de um protocolo sobre violência contra a mulher, que será implementado nas escolas da rede municipal. O documento estabelece procedimentos definidos para professores, gestores e coordenadores diante de revelações de violência, seja contra mães, avós ou profissionais da escola. O protocolo será publicado e acompanhado de uma capacitação em outubro, garantindo que toda a rede esteja preparada para acolher denúncias e agir corretamente”, afirmou.

Nailza acrescenta que já está em andamento um segundo protocolo, voltado para casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, com participação de gestores escolares para orientar sua aplicação nas unidades de ensino.

✅ Clique aqui para seguir o canal do CliqueF5 no WhatsApp

✅ Clique aqui para entrar no grupo de whatsapp 

Comente esta notícia

Rua Rondonópolis - Centro - 91 - Primavera do Leste - MT

(66) 3498-1615

[email protected]