Condenado a 56 anos de prisão, o empresário Francisley Valdevino da Silva, o Sheik do Bitcoin, investiu R$ 30 milhões em uma sociedade com o pastor Silas Malafaia, fundador da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo. O valor do aporte foi revelado em depoimento, até então inédito, de uma testemunha-chave do processo criminal que resultou na condenação do Sheik do Bitcoin, em outubro passado.
À coluna Silas Malafaia confirmou que recebeu investimentos de Francisley, mas ponderou que a sociedade durou cerca de um ano e terminou antes mesmo de o Sheik do Bitcoin ser denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF).
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Silas Malafaia e Francisley foram sócios na Alvox Gospel Livros Marketing Direto, uma loja digital com foco no segmento evangélico. A empresa foi aberta em maio de 2021 e encerrada em julho de 2022. O aporte milionário realizado pelo Sheik do Bitcoin tinha como principal objetivo ajudar financeiramente a Central Gospel LTDA, editora que pertence ao pastor e que, em 2019, entrou em recuperação judicial no valor de quase R$ 16 milhões.
O início da parceria entre Silas Malafaia e Francisley é detalhado pelo empresário Davi Zocal à Polícia Federal. Davi atua no ramo da música gospel e é considerado uma testemunha-chave em razão da proximidade que mantinha com o Sheik do Bitcoin. O depoimento ocorreu em agosto de 2022, mas só agora o seu conteúdo está sendo divulgado pela imprensa. Confira:
"Se perguntar é mais fácil. Que nem Malafaia. Eu vi do começo do processo até o fim. Nessa, nessa, nessa sede do Francis em ter pessoas influentes por perto, o Malafaia… Pô, por mais que eu não concorde com o evangelho dele, é um dos maiores. E aí, a Central Gospel, que é a empresa principal dele, de livro, tava quebrada, com R$ 38 milhões de arresto. ‘Não, pastorzão. Vou te ajudar. Deixa comigo. Eu vou comprar essa dívida’. O Francis entrou”, relata Davi Zocal.
“Ele [Francis] gastou muito. Juntando informações, entre confecção e tudo, foram R$ 30 milhões… R$ 30 milhões para erguer a empresa. Só que eles combinaram o quê? Eu estava do lado. O Silas falou assim pra ele: ‘Cara, vamos fazer uma empresa com outro nome para não ferrar para nós, né?’ Então abriram a Alvox, mas o foco do Malafaia… O Francis foi sócio direto dele na principal empresa, mas foi só para dar uma esquivada, né?”, prossegue a testemunha.
O Sheik do Bitcoin foi alvo de operação da Polícia Federal em outubro de 2022, cerca de três meses depois do fim da sociedade com Silas Malafaia, e condenado a 56 anos de prisão em outubro de 2024 pela Justiça Federal do Paraná (JFPR). Ele era dono da Rental Coins e de outras 100 empresas, que movimentaram cerca de R$ 4 bilhões entre 2018 e 2022.
O esquema de pirâmide financeira teria prejudicado cerca de 15 mil pessoas, entre elas Sasha Meneghel, filha da apresentadora Xuxa. De acordo com a PF, Fracisley convencia as vítimas a investirem em uma de suas empresas com a promessa de um grande retorno, a partir da operação de criptomoedas.
Malafaia confirma investimento de Sheik do Bitcoin
Em mensagem enviada à coluna, o pastor Silas Malafaia, hoje investigado por atuar em ações coordenadas de desinformação e pressão sobre integrantes do Judiciário para favorecer interesses do grupo ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, confirmou ter recebido o investimento do empresário. Ele ressaltou, no entanto, que tem a presunção de inocência e acrescentou que, quando recebeu o aporte milionário do Sheik do Bitcoin, não havia denúncias contra ele.
“Quando você tem uma empresa em recuperação judicial, você não pode ter sócio. Esse cara, evangélico que ele era, abriu mais de 100 empresas legais, não laranja, com várias pessoas. E aí ele chegou para mim e disse: ‘Pastor, vamos abrir uma empresa de marketing multinível para a gente comprar produtos da editora, e a gente vende nessa empresa, fora as outras empresas que eu tenho, empresa de óculos, empresa de perfume’, um porrilhão de empresas que esse cara tinha. É bom informar que quando ele foi sócio comigo, ele foi sócio um ano. Não havia uma denúncia em Ministério Público e Polícia Federal contra ele”, detalhou Silas Malafaia.
O pastor também afirmou que não mantinha poder de decisão sobre a Alvox e que Francis era o gestor da empresa. “E quando começou os rumos de conversa, eu caí fora e saí da empresa. Eu saí em março, tá? Aí começou em junho as notícias de que ele estava sendo investigado”, completou.
“Eu tenho alguma coisa com isso, com alguém que abriu a boca para falar asneira? Meu irmão, delação fala bobagem quem quer. Como eu sou um cara conhecido, aí usaram, tentando me usar, de que vamos dar um golpe, que golpe? Ele botou dinheiro na minha editora para comprar material, para me ajudar no momento mais difícil da minha recuperação. O que que eu tenho com os crimes de bitcoin, de moeda, de criptomoeda dele?”, pontuou o pastor.
Por fim, Silas Malafaia negou que tenha feito qualquer propaganda para favorecer o Sheik do Bitcoin para os membros de sua igreja.
“Onde é que eu fiz uma propaganda para alguém comprar coisa ou membros da minha igreja? Onde? Em lugar nenhum. Eu fui sócio dele de uma empresa, repito, onde ele era o sócio controlador, e eu saí da empresa antes de ser denunciado pela Polícia Federal. Então, querem me acusar de quê? Vão prender os 100 caras que tinham empresas com ele?”, prosseguiu o líder religioso.
