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Energias Renováveis

Estudo aponta prejuízo bilionário com hidrelétricas no Pantanal

Levantamento do WWF-Brasil revela que 59 PCHs na Bacia do Alto Paraguai podem gerar perdas de até R$ 7,6 bilhões e impactar pesca, turismo e modos de vida tradicionais

 
Correio Braziliens
Foto-Jornal A Gazeta
 

A construção de 59 empreendimentos de energia hidráulica, em sua maioria Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), na Bacia do Alto Paraguai — região que abrange o Pantanal e áreas de planalto — pode resultar em um prejuízo de pelo menos R$ 7,04 bilhões para a sociedade brasileira. A conclusão é de um estudo inédito encomendado pelo WWF-Brasil, baseado em dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e na metodologia oficial de Análise de Custo-Benefício (ACB) do governo federal.

De acordo com a análise, o cenário atual, que prevê a instalação das PCHs, traria uma perda líquida de R$ 2,20 bilhões. Já a alternativa de apostar em um mix de energias renováveis não-hídricas — composto por 50% de energia eólica, 42% de solar, 4% de biomassa e 4% de biogás — não apenas garantiria a mesma potência firme (409,55 MW), como também geraria um retorno positivo de R$ 4,84 bilhões. A diferença entre os dois cenários permitiria dobrar a capacidade de geração com fontes renováveis e ainda garantir uma economia de R$ 531,88 milhões, segundo o levantamento.

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O estudo do WWF-Brasil também incorporou os efeitos das mudanças climáticas sobre a geração hidrelétrica. A ANA projeta uma queda de 16% na vazão dos rios da Bacia do Alto Paraguai até 2055, o que reduziria a eficiência das PCHs, que não contam com reservatórios de acumulação. Simulações apontam que, nesse cenário, o prejuízo pode chegar a R$ 7,61 bilhões, aumento de 25% em relação à projeção inicial.

Impactos socioeconômicos

Os maiores danos econômicos recairiam sobre a pesca, atividade central para a economia local e para a cultura da região. Estima-se uma perda anual de R$ 502,6 milhões apenas na pesca difusa, com impacto direto sobre 1,4 milhão de pessoas — entre elas, 617 mil que dependem fortemente dessa atividade. Ao longo de 30 anos, as perdas acumuladas para pescadores profissionais e suas famílias podem ultrapassar R$ 838 milhões.

Outros setores também seriam afetados. O turismo de pesca, por exemplo, teria prejuízos anuais de R$ 54,55 milhões em gastos diretos, além de R$ 12,27 milhões em cadeia produtiva. Já a perda de qualidade nutricional pelo menor consumo de pescado foi estimada em R$ 29,29 milhões ao ano. Modos de vida tradicionais da região também sofreriam impactos avaliados em R$ 8,29 milhões anuais. Somados, os prejuízos ultrapassam R$ 6,3 bilhões.

Críticas e recomendações

Na visão do WWF-Brasil, investir em PCHs no Pantanal é uma decisão economicamente ineficiente e socialmente injusta. “Estamos falando de um modelo que gera prejuízo bilionário, destrói cadeias produtivas consolidadas — como a pesca e o turismo — e transfere renda pública para um setor concentrador de benefícios”, afirma Alexandre Gross, especialista de Conservação e líder de Infraestrutura e Transição Energética da organização.

A ONG também chama atenção para os subsídios que sustentam a viabilidade das PCHs, como isenção de compensação financeira pelo uso da água, descontos nas tarifas de transmissão e contratação compulsória em leilões de energia. Esses incentivos somam R$ 364 milhões — valor superior aos próprios custos operacionais.

“Na prática, a sociedade está pagando para viabilizar empreendimentos que geram prejuízos à coletividade”, avalia Silvia Zanatta, especialista de Conservação do WWF-Brasil.

Entre as recomendações, a organização defende a exclusão imediata das PCHs previstas para a Bacia do Alto Paraguai dos planos de expansão energética, o redirecionamento de subsídios para fontes renováveis de baixo impacto e a adoção obrigatória da metodologia de Análise de Custo-Benefício na tomada de decisões sobre infraestrutura.

O WWF-Brasil destaca que, em pleno ano da COP30, o Brasil precisa demonstrar liderança ao priorizar alternativas energéticas mais sustentáveis, como solar e eólica, capazes de garantir segurança energética sem impor um custo desproporcional à sociedade e ao meio ambiente.

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