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Impacto ao consumidor americano

7 produtos que podem ficar mais caros para os americanos com tarifa de Trump ao Brasil

Impacto negativo da tarifa de 50% imposta a milhares de produtos brasileiros vai além dos setores afetados no Brasil, podendo prejudicar inclusive o consumidor americano.

Camilla Veras Mota - Da BBC News Brasil em São Paulo

Foto-Viver Bem Unimed

O presidente americano, Donald Trump, assinou na quarta-feira (30/7) a ordem executiva que institui tarifa de 50% sobre produtos brasileiros que entrarem nos Estados Unidos a partir do dia 6 de agosto.

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Após dias de tensão à espera da definição do chamado tarifaço, a medida veio acompanhada de uma lista de isenções com quase 700 itens, o que trouxe alívio para setores como o de suco de laranja e o de fabricação de aeronaves.
Considerando o que o Brasil embarcou para os EUA em 2024, esses produtos somam cerca de 43,4% das exportações para o mercado americano.

Cerca de 3,8 mil itens ainda estariam sujeitos à sobretaxa de 50%.

Entre eles estão alguns produtos dos quais o Brasil é fornecedor relevante para os EUA, como café e açúcar orgânico.

As indústrias afetadas têm esboçado preocupação e calculado prejuízos diante da possibilidade de redução ou inviabilidade de exportação para os EUA.

Mas o que isso significa para o consumidor americano? O impacto deve ficar mais claro nos próximos meses.

A taxação pode, por exemplo, inibir a importação de produtos do Brasil, levando os EUA a tentar aumentar a produção interna, a buscar mercados substitutos ou, caso essas duas alternativas não sejam bem-sucedidas, a reduzir a oferta interna desses itens.

Nesse último cenário, se não houver redução da demanda, a menor oferta pode ter como consequência aumento de preços.

Em um cenário alternativo, no caso dos produtos em que o apetite de consumo dos americanos for menos sensível a aumentos de preço, as importações podem acontecer mesmo com a tarifa de 50%, que podem ser repassadas parcial ou totalmente ao cliente final.

Em uma análise publicada na segunda-feira (28/7), o The Budget Lab, centro de pesquisa da Universidade de Yale, previa, com todas tarifas anunciadas até aquela data, um aumento da inflação americana de 1,8% no curto prazo (antes de os consumidores mudarem seus hábitos em reação às tarifas, conforme o parâmetro usado pela pesquisa), o equivalente à perda de US$ 2.400 (cerca de R$ 13,4 mil) por domicílio em 2025.

A BBC News Brasil cruzou dados da lista de produtos tarifados com informações da US International Trade Commission (Comissão de Comércio Internacional dos EUA) e do Observatory of Economic Complexity (Observatório da Complexidade Econômica) para entender quais produtos podem ficar mais caros para os americanos diante da medida contra o Brasil.

Conheça 7 deles a seguir:

Café
Os EUA são o maior consumidor de café do mundo e, com exceção de pequenos cafezais no Havaí e em Porto Rico, não produzem a commodity.

O Brasil é de longe o maior fornecedor, respondendo por cerca de um terço de tudo o que é importado pelos americanos.

Em entrevista recente à BBC News Brasil, o ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da consultoria BMJ Welber Barral pontuou que, justamente pela importância do café brasileiro na pauta de importação dos EUA, acreditava que o país teria dificuldade para encontrar um substituto.

A Colômbia é o segundo maior vendedor de café para os EUA e está sujeita a uma tarifa bem mais baixa que a do Brasil, de 10%.

O país é responsável, contudo, por apenas 8% da produção global da commodity, enquanto o Brasil concentra 37% de todo o café cultivado no mundo.

Assim, ainda que houvesse um eventual aumento de interesse, os colombianos poderiam ter dificuldade de suprir um aumento de demanda. O mesmo vale para o Vietnã, o segundo maior produtor do mundo, com 17% do total.

O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, chegou a falar nesta semana que produtos não cultivados em território americano poderiam entrar em uma lista global de itens isentos de tarifas. Não está claro, entretanto, quando essa decisão seria tomada e se produtos brasileiros seriam contemplados.

O café brasileiro foi destacado em uma análise recente do centro de pesquisa sobre políticas fiscais Tax Foundation que argumentava que as tarifas impostas por Trump levariam ao aumento de preços de alimentos para os americanos.

"Considerando que o café brasileiro pode ter um perfil de sabor único, produtores americanos não conseguem simplesmente produzir 'café brasileiro' nos EUA. Nessa situação, alguns consumidores podem optar por simplesmente pagar o preço de importação mais alto pelo café brasileiro, em vez de trocar por outro tipo", diz o texto.

Manga e goiaba
A análise do Tax Foundation destaca o Brasil como quarto maior fornecedor de alimentos para os EUA, com US$ 7,4 bilhões em importações, atrás de União Europeia (US$ 31 bilhões), México (US$ 17,6 bilhões) e Canadá (US$ 15,6 bilhões).

Conforme os dados do Observatório de Complexidade Econômica, o país é também o quarto maior fornecedor de mangas e goiabas (que estão juntos na nomenclatura de mercadorias usada no comércio exterior) para os americanos, tendo embarcado cerca de US$ 56 milhões desses produtos ao país em 2024.

O México é o maior fornecedor, com US$ 550 milhões, seguido do Peru (US$ 96,9 milhões) e do Equador (US$ 56 milhões).

Os EUA cultivam manga em Estados como Flórida, Califórnia e Havaí, mas boa parte do consumo interno é suprido com importações. O mesmo vale para a goiaba, com cultivo modesto na Flórida, no Havaí e em Porto Rico.

Produtores brasileiros de manga afirmam que a tarifa de 50% inviabiliza as exportações e já relatam cancelamentos de pedidos.

Caso os EUA não consigam encontrar mercados alternativos onde as tarifas são menores e que consigam suprir a demanda, a menor oferta interna pode levar a um aumento de preços nos supermercados.

Na análise do The Budget Lab, a estimativa é que os preços de frutas e legumes cresçam 6,9% no curto prazo. 

Carne
O Brasil é o maior exportador de carne do mundo e responde por 23% das importações americanas do produto, segundo cálculo da Genial Investimentos.

Os EUA são o segundo maior mercado para o produto brasileiro, atrás apenas da China.

A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) já se manifestou dizendo que uma tarifa adicional de 50% poderia inviabilizar as vendas ao mercado americano.

Ao contrário do café e de frutas como a manga, no caso da carne os EUA são também um grande produtor.

Ainda assim, a equipe do The Budget Lab estima um aumento de cerca de 1,1% nos preços da carne bovina nos meses imediatamente seguintes à vigência do tarifaço.

O custo da carne nos EUA já vinha, aliás, atingindo valores recordes neste ano, antes da implementação das tarifas.

A alta, na opinião de especialistas, se deve a uma questão estrutural: enquanto o rebanho bovino se manteve relativamente estável nas últimas duas décadas, o consumo continua a expandir.

Se a tarifa de 50% tornar de fato proibitivas as importações de países como o Brasil, a dificuldade da indústria americana de suprir a demanda pode pressionar ainda mais os preços.

Açúcar orgânico
No caso do açúcar orgânico, os EUA importam praticamente tudo o que consomem — e o Brasil foi responsável por 49% do que entrou no país entre 2023 e 2024, seguido do Paraguai (19%) e da Colômbia (13%), conforme os dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).

A Organic Trade Association, que representa o setor de orgânicos dos EUA, alertou que o aumento de custo com as tarifas pode comprometer diversas cadeias de produção.

Para terem o selo de certificação de orgânico pela USDA, os produtos que levam açúcar têm que ser produzidos com açúcar orgânico.

Assim, itens que vão de iogurtes, sorvetes e achocolatados a kombucha e barras de cereal poderiam sofrer aumentos de preços, alerta a OTA, que citou nominalmente o Brasil em sua análise.

Chocolate
O cacau é outra commodity que os EUA praticamente não cultivam, à exceção de uma produção modesta no Havaí e em Porto Rico.

O Brasil, por sua vez, é importante fornecedor de manteiga de cacau para os americanos, uma das principais matérias-primas do chocolate.

Conforme os dados do Observatório da Complexidade Econômica, embarcou o equivalente a US$ 61,4 milhões do produto, ocupando o quinto lugar de uma lista que inclui Indonésia (US$ 308 milhões), Malásia (US$ 275 milhões), Peru (US$ 138 milhões) e Índia (US$ 88 milhões).

O preço do chocolate já vem subindo no mundo inteiro, devido especialmente ao impacto de condições climáticas adversas nas principais regiões produtoras de cacau, como o oeste da África, e a pragas como o cacao swollen shoot virus (CSSV).
Carros
No estudo de impacto potencial das tarifas do The Budget Lab, os metais ocupam o primeiro lugar na lista de estimativas de aumento de preços, com 39,4% de alta nos meses seguintes ao tarifaço e 17,9% no longo prazo (quando os consumidores mudarem seus hábitos em reação às tarifas).

Essa alta deve ter impacto em diversos setores. Um deles é o automotivo, que usa uma série de commodities metálicas exportadas pelo Brasil.

O país é, por exemplo, o segundo maior fornecedor de aço aos EUA (atrás apenas do Canadá), e é o maior exportador de nióbio, muito usado nas ligas de aço que vão no chassi e na barra de proteção aos passageiros nas portas.

O aço, assim como o alumínio, já tinha sido alvo de uma tarifa global de 50% imposta em junho.

Encarecendo o preço das importações, Trump espera revitalizar a indústria siderúrgica americana, uma de suas promessas de campanha alimentadas pelo slogan Make America Great Again ("faça a América grande novamente", em tradução literal).

A medida foi elogiada por associações de empresas e sindicatos do setor de aço, mas criticada por entidades que usam o produto como matéria-prima. Uma delas foi a que reúne os fabricantes de latas (Can Manufacturers Institute), que alertou para um possível aumento de preços de alimentos enlatados.

Trump já havia sobretaxado aço e alumínio em sua primeira gestão. Uma análise da Comissão de Comércio Internacional dos EUA pontuou que a medida chegou a ser benéfica para produtores do setor, mas que no agregado teve impacto negativo na economia por ter gerado aumento de preços de várias produtos, inclusive de veículos.

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