O governo recém-empossado do Peru vai impor o estado de emergência em Lima por conta das manifestações contra a violência no país, que terminaram com uma pessoa morta e mais de 100 feridas em confronto com a polícia.
Na quarta-feira (15), Lima foi cenário dos confrontos mais graves desde o início das manifestações, mês passado, na capital peruana. Um rapper, Eduardo Ruiz Sáenz, foi morto durante os protestos por um policial infiltrado.
Um outro manifestante ficou em coma após ser atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo.
Os protestos são liderados por jovens da geração Z em repúdio ao Congresso e ao governo do presidente interino José Jerí, que tomou posse recentemente, após a destituição de Dina Boluarte.
???? Geração Z é o nome popular dado às pessoas nascidas entre 1995 e 2009, com algo entre 16 e 30 anos.
A ex-presidente foi removida do cargo após um julgamento político expresso em 10 de outubro, motivado pela crise de violência. Os impeachments têm sido rotina em Lima nos últimos anos.
Jerí, de 38 anos e até então presidente do Parlamento, assumiu a presidência de forma interina até julho de 2026, quando deverá entregar o cargo após eleições gerais. Ele descartou um pedido de renúncia.
"Vamos anunciar a decisão de declarar emergência pelo menos na Lima Metropolitana", disse à imprensa o chefe do gabinete Ernesto Álvarez, após uma reunião de ministros no Palácio de Governo.
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Manifestantes entram em confronto com policiais antidistúrbio durante protesto contra o presidente interino do Peru, José Jerí, em Lima, em 15 de outubro de 2025 — Foto: CONNIE FRANCE / AFP
A medida afetará 10 milhões de pessoas que vivem na capital e na cidade portuária vizinha de Callao.
Sob estado de emergência, o governo pode mobilizar os militares nas ruas para patrulhar e restringir direitos como a liberdade de reunião.
"Não foi descartado o toque de recolher, considerando que a criminalidade não respeita a noite", afirmou Álvarez.
'Assassinato covarde'

Protestos da geração Z no Peru nesta quarta-feira (15)
Com velas, flores e cartazes contra Jerí, dezenas de jovens homenagearam na noite de quinta-feira (16) o rapper Eduardo Ruiz Sáenz, de 32 anos, conhecido como 'Trvko'.
O artista morreu ao ser atingido por um tiro de um policial que agiu por conta própria e será afastado da força de segurança, anunciou o comandante da instituição, general Óscar Arriola.
O autor do disparo foi detido ao lado de outro policial. Os dois foram identificados pelas imagens gravadas nas câmeras de segurança da prefeitura de Lima. O agente apontado como autor do tiro foi hospitalizado após ser atacado pelos manifestantes.
Além da morte de Ruiz, a jornada de protestos de quarta-feira deixou 113 feridos: 84 policiais e 29 civis, segundo o balanço oficial.
Na quinta-feira, Jerí pediu ao Congresso "faculdades legislativas" que permitam enfrentar a crise de violência.
O presidente espera adotar medidas de urgência sem a necessidade de passar pela aprovação dos parlamentares.
"Queremos solicitar faculdades legislativas para legislar principalmente em temas de segurança cidadã, que é o principal problema", disse o presidente interino.
"Dentro delas está o tema dos presídios, de onde as gangues praticam extorsão", disse Jerí, sem detalhar o tipo de intervenção que espera aplicar nas prisões.
Jeri diz que não vai renunciar
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José Jeri toma posse como novo presidente do Peru, após o Congresso votar pela destituição da ex-presidente Dina Boluarte, em Lima — Foto: REUTERS/Angela Ponce
O descontentamento da população também aponta para a impopular classe política. O Peru passou por sete governos na última década, incluindo o que substituiu Boluarte.
"Não vou renunciar, vou continuar com a responsabilidade", respondeu Jerí à imprensa ao ser questionado sobre sua permanência no cargo.
O chefe de Estado lamentou novamente a morte do manifestante em Lima, mas insistiu que o protesto foi infiltrado por um pequeno grupo que tentou impor "o caos".
Quase 200 pessoas ficaram feridas durante os protestos em Lima no último mês, incluindo policiais, manifestantes e jornalistas.
No âmbito dos protestos, a Geração Z exibe a bandeira da série de mangá 'One Piece', o novo símbolo de protesto dos jovens contra governos considerados ruins ao redor do mundo.
Geração Z
Num movimento que teve início na Ásia e se espalhou para outros países, diversos protestos encabeçados pela geração Z – termo que se refere a pessoas nascidas aproximadamente entre 1997 e 2012 – têm levado multidões às ruas e até derrubado governos nas últimas semanas.
No Nepal, protestos de jovens contra a proibição das redes sociais e a corrupção derrubaram o governo do primeiro-ministro Khadga Prasad Oli na semana passada. Manifestantes invadiram e incendiaram prédios governamentais e casas de ministros. O Parlamento foi dissolvido e novas eleições foram convocadas.
A Indonésia também testemunhou protestos em larga escala recentemente, desencadeados por insatisfação da população com benefícios generosos concedidos aos congressistas do país, entre outras queixas. O governo do presidente Prabowo Subianto mal conseguiu se manter e se esforçou para atender às demandas dos jovens, demitindo ministros e revogando as regalias.
Em Bangladesh, protestos em massa liderados por estudantes em julho e agosto de 2024 encerraram o governo de 15 anos da primeira-ministra Sheikh Hasina e a forçaram a fugir para a vizinha Índia.
Houve também uma série de atos de jovens no Marrocos, em protesto contra os gastos para receber a Copa do Mundo, em 2030.
Em Madagascar, os protestos motivaram a saída do país de Andry Rajoelina, destituído pela oposição e por unidades do Exército que se juntaram aos protestos.