O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era quem escolhia os nomes que comandariam a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), apesar de o órgão estar vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), então chefiado pelo general Augusto Heleno.
A informação foi prestada pelo servidor da Abin Christian Perillier Schneider, durante depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) como testemunha de defesa de Heleno no processo que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Schneider, que atuou como assessor na agência durante a gestão de Alexandre Ramagem, relatou que já havia trabalhado em outros governos, mas destacou que, pela primeira vez, sob a gestão Bolsonaro, o chefe da Abin mantinha relacionamento direto com o presidente da República.
“A primeira vez que a Abin teve sala no Planalto foi no governo Bolsonaro. Antes, não existia relacionamento de diretores da Abin com o presidente em outros governos. Os nomes de Ramagem e do outro diretor [Luiz Fernando Corrêa], que nem chegou a ser sabatinado no Senado, não foram escolhas do Heleno. Foram escolhas do ex-presidente”, afirmou.
Segundo Schneider, Ramagem tinha uma sala dentro do Planalto e despachava diretamente com Bolsonaro — muitas vezes, sem o conhecimento do próprio general Heleno.
“Com certeza havia [agendas entre Ramagem e Bolsonaro]. Eu fazia parte da chefia de gabinete da Abin. O diretor Ramagem, normalmente, tinha um despacho semanal — ou na segunda-feira à tarde ou na terça de manhã — com o ministro Heleno. Mas ele também tinha uma sala no Planalto para tratar de assuntos diretamente com o ex-presidente. Muitas vezes, despachava sem que o ministro Heleno sequer soubesse”, contou.
“Infiltração”
A estrutura da Abin estava vinculada ao GSI desde 2016, mas deixou de estar subordinada ao órgão a partir de março de 2023, já no governo Lula.
Schneider declarou que nunca teve conhecimento de qualquer tratativa, por parte de Heleno, relacionada a tentativa de golpe de Estado. O servidor também destacou que a Abin não tem prerrogativas legais para infiltrar agentes em outros órgãos, uma vez que não existe uma lei que regulamente essa prática no Brasil.
“Talvez possa ocorrer o que chamamos de recrutamento de fonte. É nada mais que alguém que está naquele ambiente e pode trocar informações com agente da Abin para troca de informações legais. Mas, a entrada de agentes é proibida. A Rússia, por exemplo, coloca um agente por oito, 10 anos. É proibido no Brasil”, ressaltou o servidor.