O Partido Liberal de Valdemar Costa Neto investiu, em 2024, R$ 49,6 milhões no Instituto Álvaro Valle (IAV), que deveria funcionar como uma espécie de think thank do partido com o maior fundo eleitoral do país. O site da fundação, porém, contrasta com o alto volume de recursos recebidos. Tem design dos anos 2000, e a última atualização sobre atividade foi o oferecimento de um curso on-line de direito eleitoral em 2022.
Por lei, os partidos devem destinar pelo menos 20% da receita para suas fundações de formação política. No caso, há uma espécie de duplo cashback. O PL paga R$ 50 mil por mês para o próprio IAV a título de aluguel, num contrato de locatário e locador. Segundo os registros da instituição e da sigla, elas funcionam no mesmo endereço. Além disso, o instituto devolveu à legenda R$ 34,5 milhões em 2024 a título de “sobras financeiras não utilizadas”.
Uma brecha na lei permite que eventuais sobras sejam devolvidas para serem utilizadas em outras atividades do partido político. No exercício de 2024, o PL recebeu de volta R$ 45,9 milhões do Instituto Álvaro Valle. Ou seja, a fundação ficou com R$ 3,7 milhões, sem destino certo ou transparente. Não há dados no site da organização que permitam a averiguação do que foi feito com a verba.
O Instituto Álvaro Valle é presidido por Mariucia Tozatti. Ela foi secretária-geral do partido e está lotada, desde 2016, como assessora parlamentar especial no gabinete do deputado estadual pelo PL de São Paulo Marcos Damásio. Quem assina os recibos de aluguel entre o PL e a fundação é Jucivaldo Salazar Pereira, tesoureiro da sigla e nome de confiança de Valdemar Costa Neto.
Ao todo, foram R$ 600 mil transferidos pelo PL ao IAV para aluguel, e R$ 49 milhões descritos apenas como despesa com “fundação de pesquisa ou de doutrinação e educação política”.
O fundo do PL
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PL arrecadou R$ 1.1 bilhão e gastou R$ 1,2 bilhão em 2024, sendo o Instituto Álvaro Valle o principal destino dos recursos do partido. A legenda direcionou 31,25% da sua verba em 2024 para a fundação.
Ainda segundo os dados disponibilizados pelo PL ao TSE, o partido desembolsou R$ 46 milhões com gastos próprios. Foram R$ 45,9 milhões pagos com descrição de “outras despesas gerais” e R$ 87 mil com “material de consumo de copa e cozinha”.
O Metrópoles entrou em contato com o PL para se manifestar a respeito do caso e, até o momento da publicação, não tinha se posicionado. O espaço segue aberto.