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PRIVATIZAÇÃO OU SUCATEAMENTO?

Em meio a “Todes”, Abilio Brunini defende privatização da educação e provoca reação de educadores

Audiência pública sobre a privatização escolar terminou em clima de tensão, com críticas de professores, sindicatos e estudantes à prefeitura de Abilio Brunini

Conteúdo Hipernotícias
Da Redação/Do Local

A audiência pública desta terça-feira (9), para tratar da proposta de privatização do ensino público municipal defendida pelo prefeito da capital, Abilio Brunini (PL), terminou em clima de tensão, com protestos, críticas e embates ideológicos entre prefeitura, professores, sindicatos e estudantes. O líder municipal chegou até mesmo a ameaçar deixar a sessão, após ouvir a palavra “Todes”, dita por Leiliane Borges (PT), sindicalista e ex-candidata à prefeitura.

Durante toda a sua fala, o prefeito defendeu que a proposta de modelo de parceria público-privada (PPP) é mais viável, usando o argumento de que um aluno da rede municipal de ensino custa aos cofres da prefeitura R$ 1.600,00 por mês, e citou que o preço da mensalidade da escola particular adventista é igual ou menor.

Essa fala gerou revolta e vaias na sessão, que tinha majoritariamente como público representantes do movimento estudantil e sindicalistas.

As polêmicas começaram após o prefeito ouvir comentários negativos das pessoas presentes na sessão sobre a escola particular, e, depois disso, ele afirmou gostar ainda mais do modelo dela.

“Quanto custa um aluno na escola Adventista? Uma boa escola aqui de Cuiabá? (Falas negativas dos representantes). Bom, se vocês não gostam (da escola), eu já comecei a gostar mais ainda da escola”, disse o prefeito.

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Abilio teve sua fala interrompida, e o presidente da audiência, professor e vereador Mário Nadaf (PV), teve que intervir e pedir para que quem estivesse na audiência deixasse o prefeito defender seu ponto, garantindo que, posteriormente, quem tivesse alguma retórica à proposta também teria seu tempo de fala respeitado na tribuna.

“Vamos escutar o prefeito, para todo mundo aqui ser ouvido e respeitado igualmente”, disse o presidente da audiência.

Após a exaltação dos ânimos, o prefeito novamente cutucou os representantes e atacou a esquerda cuiabana.

“Eu não estou me preocupando com o posicionamento político de muitos de vocês, eu vim fazer um esclarecimento a pedido do vereador Mário Nadaf. Se quiserem fazer um confronto político, deixem para as eleições, que nós ganhamos de vocês de novo. Podem vaiar, faz parte do processo democrático, mas não tem nenhum vereador do PT na Câmara Municipal”, cutucou o líder municipal.

Novamente, Nadaf interveio e pediu para que a fala do prefeito fosse respeitada. Edna Sampaio (PT), ex-vereadora cassada da câmara e atual suplente do deputado estadual Valdir Barranco (PT) na Assembleia Legislativa do estado, presente na audiência, afirmou que a Câmara dos Vereadores não possui um membro do Partido dos Trabalhadores (PT) porque, segundo ela, “deram um golpe”.

O vereador Jeferson Siqueira (PSD) criticou o prefeito e pediu que, neste momento, não deveria estar sendo discutida uma proposta de privatização das escolas, mas sim sobre a saúde mental e financeira dos professores, além de melhorias pedagógicas que podem ser aplicadas nas escolas do município.

“Ouvi aqui o prefeito falar sobre estruturas, uma política voltada para a questão administrativa, mas eu queria dizer que os nossos professores são muito mais valiosos que tudo isso, porque não ouvi o prefeito falar sobre a saúde emocional dos professores, da saúde financeira, não ouvi falar sobre um espaço em que o servidor público se sinta acolhido”, disse o vereador.

Ao deixar a tribuna, quem falou logo em seguida foi Leiliane Borges (PT), sindicalista e ex-candidata à prefeitura, que abriu seu discurso cumprimentando a todas, todos e todes presentes na audiência. Essa simples fala fez com que o prefeito ameaçasse deixar a sessão.

“Boa noite a todas as mulheres aqui presentes, a todos os homens e a todes”, disse a sindicalista.

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O prefeito levantou-se da mesa da câmara, cumprimentou outros vereadores ali presentes e ameaçou deixar o local, mas permaneceu e ouviu o restante da fala de Leiliane, que defendeu que todas as pessoas que trabalham em uma escola fazem parte do processo pedagógico e que a educação infantil é responsabilidade do município, além de pedir que as ideologias políticas sejam deixadas de lado para que a prefeitura possa “gestar” uma boa educação.

Ao usar a tribuna novamente, Abilio Brunini não perdeu a chance de ironizar a fala da professora e sindicalista Leiliane Borges (PT). Ele debochou publicamente do uso da linguagem neutra e do verbo por ela utilizado.

“O que eu pude identificar na primeira fala são duas palavras que estão incorretas. Primeiro, 'Todes' não existe. E 'gestar' não é uma palavra correta. Vamos gerir. Vamos gestar com dados? Então, se for discutir a educação cometendo erros dessa forma, acho que estamos também errados. Vamos gerir, vamos administrar, vamos cuidar melhor de tudo”, disse o prefeito, provocando reações na plateia.

O prefeito também foi alvo de críticas diretas e contundentes. Um dos professores presentes, exasperado com a defesa da proposta e as ironias do chefe do Executivo, dirigiu-se a ele com um desabafo que sintetizou o sentimento de muitos docentes presentes.

Em referência à popular rede social de vídeos curtos, o professor criticou a superficialidade percebida na abordagem do prefeito: “Larga o Tok Tok, para de pipipi e popopó e vem cuidar da educação de verdade!”, bradou, ecoando um sentimento de que a administração municipal estaria mais preocupada com gestos de impacto e narrativas simplistas do que com um debate profundo e estrutural sobre os reais problemas da educação.

PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA (PPP)

Em meio aos embates, a proposta de Parceria Público-Privada (PPP) para a gestão da infraestrutura escolar, que era o motivo formal da audiência, quase ficou em segundo plano. O prefeito manteve sua defesa, argumentando que o modelo liberaria recursos para investimentos pedagógicos, como aulas de reforço, ao transferir para a iniciativa privada a manutenção predial, aquisição de materiais e limpeza. No entanto, a desconfiança e a oposição majoritária dos presentes, que veem na medida um risco de privatização velada e um desmonte do serviço público, garantiram que a discussão técnica ficasse eclipsada pelas polêmicas e pelo conflito político que dominou o encontro.

A audiência terminou sem consenso, aprofundando a polarização entre a prefeitura e a comunidade educacional, e deixando claro que qualquer avanço da proposta enfrentará uma resistência ferrenha.

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