O deputado federal Júnior Lourenço, do PL do Maranhão, emprega a própria sogra em seu gabinete na Câmara dos Deputados. A situação configura nepotismo, o que significa que o parlamentar pode responder por improbidade administrativa.
Maria Jackeline Jesus Gonçalves Trovão, de 61 anos, foi nomeada secretária parlamentar do genro em 10 de maio de 2022, com salário de R$ 1.328,41, mais auxílios. Na ocasião, o deputado e a esposa já estavam casados. Em dezembro de 2023, a sogra foi promovida, e atualmente ganha R$ 1.764,93, mais os benefícios, ultrapassando R$ 3,2 mil por mês.
No total, a Câmara dos Deputados já desembolsou R$ 120 mil para pagar a sogra do parlamentar.
Maria Jackeline Trovão é mãe de Carolina Trovão Bonfim, esposa de Júnior Lourenço. Em conversa com a coluna, o deputado federal confirmou, sem demonstrar qualquer constrangimento, que emprega a própria sogra. “Ela trabalha comigo no Maranhão… no gabinete lá.” Questionado sobre quais eram as atribuições da mãe da esposa dele, limitou-se a responder que “ela é secretária”, sem dar mais detalhes e encerrando a conversa. A sogra não se manifestou.
Em 3 de agosto passado, o deputado e a esposa comemoraram cinco anos de casamento. A prática de nepotismo é vedada pela Constituição Federal de 1988 por ferir os princípios da moralidade, impessoalidade, eficiência e isonomia.

Uma súmula publicada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2008 reforçou a proibição de nomeação de “cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau da autoridade nomeante” para cargos comissionados, como é o caso de Maria Jackeline Trovão. A sogra é parente por afinidade em primeiro grau, em linha reta.
Segundo especialistas, o deputado federal pode responder por improbidade administrativa e, como consequência, ter que ressarcir o valor pago pela Câmara à sogra, pagar multa e até mesmo ter os direitos políticos suspensos.
Mulher já acusou deputado do PL de agredi-la
Nas redes sociais, Júnior Lourenço costuma postar fotos em diversas viagens internacionais com a esposa. Entre os destinos estão Paris, Maldivas e Dubai.
Mas nem tudo são flores na vida do casal. Carolina Trovão Bonfim chegou a registrar na delegacia, em agosto de 2024, boletim de ocorrência contra o marido por violência doméstica. Júnior Lourenço teria arrastado a esposa pelos cabelos no chão de um hotel em que eles estavam hospedados em Ipojuca, Pernambuco, durante lua de mel.
Após o caso repercutir na imprensa, contudo, Carolina Trovão Bonfim divulgou nota, por meio das redes sociais do marido, em que alega que tudo não passou de um “mal-entendido”, negando qualquer tipo de agressão.
Quem é Júnior Lourenço, o deputado que emprega a própria sogra
Júnior Lourenço, de 46 anos, foi eleito deputado federal pela primeira vez em 2018. Antes disso, foi prefeito de Miranda do Norte (MA) pelo PTB entre 2009 e 2016. É formado em ciências contábeis.
Atualmente filiado ao PL, mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, Júnior Lourenço faz parte de uma ala mais moderada da sigla.
Em 2024, ele se tornou alvo de críticas de correligionários após ser o único deputado do PL presente na sessão do Conselho de Ética da Câmara, de um total de cinco, a votar pelo arquivamento de processo contra André Janones (Avante) no caso da rachadinha. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) chegou a dizer publicamente que Júnior Lourenço seria expulso do PL, o que não aconteceu até então.
Nas eleições de 2022, Júnior Lourenço apoiou a campanha de Flávio Dino ao Senado. Hoje, Dino é ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) por indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Júnior Lourenço é também um dos deputados mais ausentes da Câmara dos Deputados.
