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Política Terça-feira, 12 de Agosto de 2025, 13:02 - A | A

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BASTIDORES DA POLÍTICA

De coadjuvantes a protagonistas: vice-prefeitos de Cuiabá acumulam trajetória conturbada desde a redemocratização

Entre licenças, renúncias e crises políticas, os vice-prefeitos marcaram presença e, em algumas gestões, sequer existiram

Conteúdo Hipernotícias
Da Redação

Reprodução

dante de oliveira

 Dante Martins de Olveira, o 'homem das diretas'. 

Em 1985, Cuiabá elegia seu primeiro prefeito após 21 anos de ditadura militar. Na ocasião, Dante de Oliveira se tornou o primeiro chefe do Executivo da Capital mato-grossense no período pós-redemocratização. Com um militar a tiracolo, Dante se licenciou para assumir o Ministério do Desenvolvimento Agrário de José Sarney, e Estevão Torquato da Silva, o Coronel Torquato, comandou o Palácio Alencastro. Ao longo de 40 anos, ele não foi o único vice a substituir o titular da prefeitura: renúncias e afastamentos judiciais também colocaram vice-prefeitos no poder em Cuiabá. A história recente da Capital é marcada ainda por duas gestões em que a figura do vice sequer existiu e por crises políticas envolvendo os “números dois” do Executivo.

Estevão Torquato da Silva permaneceu na chefia da prefeitura entre 1986 e 1987. Em 1988, Dante finalizou o mandato. No mesmo ano, foi eleito Frederico Campos com Bia Spinelli como vice. Ela ficou longe da cadeira mais alta do Alencastro e manteve uma relação harmônica com o então prefeito. Depois, foi eleita vereadora e chegou a se candidatar à prefeitura em 1996, mas perdeu para Roberto França. 

OS ENTRAVES DE MEIRELLES

Ao logo de 40 anos, renuncias e afastamentos judiciais também colocaram vice-prefeitos no poder em Cuiabá. Em duas gestões, a figura do vice sequer existiu e crises políticas abalaram os 'números dois' do Executivo. 

Em 1992, Dante retornou ao Executivo municipal. Dessa vez, acompanhado pelo, também militar, José Meirelles. Pela segunda vez, Dante se distanciou do Alencastro. O prefeito renunciou para disputar o governo em 1994 e saiu vitorioso. José Meirelles, descrito como espírita, humanista, crítico da ditadura e de índole 'extremamente boa', também era conhecido como pai da Cuiabá-Santarém, por ter comandado a abertura do trecho da BR-163 que ligou Mato Grosso ao Pará. 

Na prefeitura, o cenário era mais complicado que no Exército. As contas desorganizadas, a baixa arrecadação, a falta de planejamento, o fluxo migratório e o cenário nacional, com a transição Cruzeiro-Real, expandiam a pobreza e pressionavam as demandas por serviços públicos. Entusiasta da social democracia, Meirelles buscou na aproximação com as associações de moradores uma via descentralizada para destinar os poucos recursos disponíveis para atender as demandas dos bairros mais periféricos. 

A reação da Câmara foi imediata e Meirelles foi criticado até pela própria base. Para os vereadores, o prefeito representava uma ameaça às bases eleitorais. O coronel sofreu pedidos pedidos de afastamento, de comissões de inquérito, além de tensões dentro do próprio staff. O secretariado extremamente autônomo deliberava de forma contraditória e, aos poucos, a situação ficou insustentável.

O militar chegou a cogitar a renúncia, mas Zulmira Meirelles, esposa do ex-prefeito, não permitiu que assim o fizesse. O folêgo veio quando, pelo período de 60 dias, o então presidente da Câmara, Carlos Brito, assumiu a gestão enquanto Meirelles tratava um problema cardíaco. 

Mayke Toscano/Hipernotícias

dem/Roberto França

Roberto França, prefeito de Cuiabá em duas ocasiões.

O PREFEITO SEM VICE

Depois dos entraves de Meirelles, em 1996, Roberto França o substituiu no cargo. O então deputado estadual Roberto Nunes deveria ter assumido a vice-prefeitura, mas preferiu renunciar para continuar no Legislativo. Roberto França levou o primeiro mandato até o fim, sem a figura do vice no Alencastro. 

Em 2000, foi reeleito e corrigiu a rota. Escolheu Luiz Antônio Soares como vice. Durante o mandato, Soares comandou a Secretaria de Saúde sem rusgas com o titular do Alencastro. Na sua trajetória, também acumulou passagens pela Assembleia Legislativa, pelo Senado, pela Secretaria de Saúde de Várzea Grande e do Estado. 

Em 2010, mais um prefeito de Cuiabá renuncia e a Capital vive gestão controversa sobre comando de Chico Galindo

WILSON RENUNCIA

Em 2004, Wilson Santos foi eleio pela primeira vez à prefeitura de Cuiabá com Jacy Proença como vice. A gestão foi, mais uma vez, tranquila. Sem grandes problemas ou mudanças. No segundo mandato, porém, Wilson não teve a mesma sorte. Eleito em 2008, o então prefeito renunciou em 2010 crendo que repetiria o feito de Dante de Oliveira e se elegeria ao governo, o que não ocorreu. 

Chico Galindo, vice de Wilson, ficou dois anos no comando da Capital e protagonizou uma gestão controversa. Dentre os momentos emblemáticos da gestão, cujos índices de rejeição ultrapassaram 60%, estão a concessão da Sanecap, responsável pelos serviços de água e esgoto da Capital, que ficaria sob responsabilidade da CAB Ambiental, empresa paulista. Os serviços não demonstraram melhoria, mas o faturamento chamava atenção. 

Outro projeto desastroso foi a inclusão de Cuiabá como tema do samba-enredo da Estação 1ª de Mangueira ao custo de R$ 3,6 milhões no carnaval de 2013. Em valores atualizados, a 'publicidade' de Cuiabá no carnaval do Rio de Janeiro custou aos cofres públicos mais de R$ 8 milhões. No fim da gestão, ainda encaminhou o aumento de 25% no IPTU e aumento do salário para o próximo prefeito, secretariado e outros cargos. 

SEM VICE, DE NOVO 

Em 2012, Mauro Mendes ganhou as eleições e conduziu, por quatro anos, o Alencastro. João Malheiros renunciou um dia depois da diplomação. À época, Mauro lamentou a decisão, mas seguiu no ofício. Mendes não concorreu à reeleição em 2016 e voltou ao cenário político em 2018, quando foi eleito governador. 

Reprodução

Emanuel e Stopa

 Emanuel Pinheiro, de branco e seu segundo vice-prefeito, José Roberto Stopa, no canto direito, vestindo camisa azul. 

ERA EMANUEL: DA CRISE AO FIEL ESCUDEIRO

Seu sucessor foi Emanuel Pinheiro, que não teve boa relação com o primeiro vice-prefeito, Niuan Ribeiro. Em 2019, Niuan e Emanuel romperam oficialmente. O vice-prefeito afirmava, à época, que um 'vice-prefeito ativo' tinha incomodado Pinheiro. Depois do rompimento público e críticas feitas pela imprensa, o ex-prefeito respondeu Niuan com a exoneração de todos os 10 assessores lotados no gabinete do vice-prefeito. 

Embora a situação tenha se tornado insustentável, Niuan permaneceu na gestão até 2020. Emanuel se reelegeu e, desta vez, escolheu José Roberto Stopa (PV) como vice. 

Em 2021, a Justiça determinou o afastamento de Emanuel do cargo após operação que tratava de supostas nomeações irregulares na Saúde do município. Fiel, Stopa manteve os princípios da gestão do titular da cadeira e voltou a auxiliar na Secretaria de Obras quando Pinheiro foi liberado para retornar ao cargo. Em 2022, Stopa chegou a receber a primeira-dama de Cuiabá, Márcia Pinheiro, no seu partido, o PV, e embarcar no projeto endossado por Emanuel de lançá-la ao governo. 

Em 2024, a Justiça mais uma vez retirou Emanuel do sétimo andar do Palácio Alencastro. Stopa voltou aos holofotes, tentou abrir o diálogo com o governo de Mato Grosso, cuja relação com Cuiabá estava fragilizada devido à inimizade entre Emanuel e Mauro Mendes. O vice-prefeito, embora com melhor trânsito do Paiaguás, manteve postura cautelosa e buscou respeitar seu aliado, Emanuel. 

Da Assessoria

ABILIO E VANIA

 Abilio Brunini à esquerda e sua vice, Vânia Rosa, à direita. 

IRA BOLSONARISTA: HARMONIZA AMEAÇADA?

Encerrando o ciclo de 40 anos desde a redemocratização, os bolsonaristas roxos, Abilio Brunini (PL) e Coronel Vânia (Novo), se elegeram em 2024 impulsionados pela simpatia da população mato-grossense com a direita. 

Ao longo do primeiro semestre, Vânia esteve à frente da Secretaria de Assistência social e depois foi remanejada para auxiliar o prefeito na Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) de uma cidade recortada por obras de infraestrutura.

O calcanhar de aquiles da vice-prefeita, porém, não foi seu trabalho, mas a interlocução política com o Legislativo. Militar, Vânia assumiu uma postura combativa quando criticada pela falta de diálogo com vereadores. Em resposta, acusou os parlamentares de assédio político e foi alvo de repúdio. 

Com oito meses à frente do Alencastro, Abilio e Vânia se esforçam para superar a primeira crise depois de desvaneças da vice com o Legislativo.

A postura também não agradou o prefeito que, após uma semana de desgastes entre vice-prefeita e Câmara, optou por exonerá-la da Semob na sexta-feira (8) dando margem aos rumores de descontentamento entre os dois. Inicialmente, a prefeitura tentou minimizar a exoneração afirmando que Vânia seria remanejada para outros projetos. 

Contudo, a divergência ganhou novos contornos quando Abilio, no sábado (9), fez uma vistoria surpresa na Semob. Lá, encontrou macas e apetrechos, que, posteriormente, Vânia explicou se tratarem de instrumentos utilizados na promoção de atividades de saúde e bem-estar para os servidores da Pasta. 

Mas não foram só as macas e apetrechos que incomodaram: Abilio deu de cara com a Polícia Militar, deslocada à Semob a pedido de Vânia, para coibir uma 'eventual violência', de acordo com a advogada que acompanhava a vice-prefeita. 'Afrontosa', a advogada queria que o prefeito assinasse um termo de entrega das chaves da Pasta, mas Abilio se recusou ao saber que Vânia mantinha outras cópias consigo. 

A representante legal de Vânia sugeriu que a situação fosse levada à delegacia e exigiu que fosse lavrado um boletim de ocorrência. Toda situação foi exposta em vídeo pelo próprio prefeito para, segundo ele, se proteger de notícias falsas que foram veículadas depois do episódio dando conta de que houve 'troca de agressões' na Semob, o que, conforme Vânia e Abilio, nunca ocorreu. 

Depois da 'torta de climão', Abilio e Vânia trabalham para 'apagar o incêndio' que formou-se em torno da relação entre os dois devido à repercussão negativa do desentendimento. Por hora, Vânia permanece sem Pastas, mas segundo Abilio, será bem recebida de volta ao seu gabinete, localizado em frente ao dele.  

 

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