A crise de segurança no Rio de Janeiro abriu uma brecha para governadores de direita se afastarem da pauta da anistia e reforçarem propostas voltadas à “vida real”. O tema, tradicionalmente bem recebido pelo eleitorado, oferece aos governadores a chance de fortalecer sua imagem junto à opinião pública, segundo analistas e aliados aos gestores.
Segundo as informações, os governadores da direita se organizaram em dois encontros nos últimos meses, numa tentativa de retomar a união política buscada em agosto em torno da anistia e do ex-presidente, mas que não se concretizou.
O primeiro encontro, conduzido pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), reuniu o próprio mineiro, Jorginho de Mello (PL), de Santa Catarina, e outros três governadores em videoconferência: Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; e Mauro Mendes (União Brasil), de Mato Grosso. Entre os cinco, três são considerados presidenciáveis, sendo Tarcísio o único que afirma priorizar a reeleição.
Em seguida, Jorginho organizou um encontro mais amplo no Rio de Janeiro, com a participação de Cláudio Castro (PL), com o objetivo de propor medidas de apoio ao governo estadual diante da crise de segurança.
A operação policial no Rio, que resultou na morte de pelo menos 119 pessoas recebeu apoio público de governadores de direita e aliados. Por outro lado, o presidente do PT, Edinho Silva, criticou o uso político da tragédia, afirmando que não se combate o crime organizado com “politicagem sobre os corpos de centenas de mortos”.
Apesar do alinhamento em torno da pauta de segurança, interlocutores afirmam que ainda existem dúvidas sobre a implementação de medidas concretas. Alguns gestores defendem que o Congresso poderia liderar iniciativas, como o projeto que classifica facções criminosas como organizações terroristas.
Durante a semana, o governador do Rio, Cláudio Castro, criticou a falta de apoio do governo federal, mas em seguida ressaltou que a operação foi um sucesso, com exceção das mortes de quatro policiais. Zema, por sua vez, afirmou que as facções estão tomando conta do país e mencionou declaração recente do presidente Lula sobre traficantes, que depois foi retratada pelo próprio presidente.
Outros governadores de direita, como Ronaldo Caiado, defenderam o combate às organizações criminosas como prioridade da população, independentemente de bandeira partidária, e destacaram que a pauta de segurança não é exclusiva da direita. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), reforçou a importância de evitar que a segurança pública se transforme em campo de guerra ideológica e cobrou maior coordenação do governo federal.
Em São Paulo, integrantes da base de Tarcísio de Freitas avaliaram que a crise no Rio devolveu à direita a oportunidade de retomar apoio popular por meio de propostas práticas de segurança. O governador manteve silêncio sobre o assunto, mas seu governo divulgou uma operação policial no ABC com 1.500 agentes, drones e ações estratégicas, sem mortes. Além disso, Tarcísio autorizou seu secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, a retomar a discussão no Congresso sobre o projeto que classifica facções como organizações terroristas.
As informações foram publicadas pela Folha de S. Paulo.














