O ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) foi um dos poucos que saiu fortalecido diante da guerra promovida pelos bolsonaristas durante esta quarta-feira (6/8). Foi a ele que líderes do Centrão e da oposição recorreram para negociar a desobstrução do plenário, onde parlamentares de direita fizeram campana para impedir que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), sentasse à mesa e desse início à sessão.
No final, um entendimento foi construído pelo Centrão, tendo as digitais de Lira em destaque, entre as várias mãos que construíram o acordo. Para convencer os bolsonaristas a deixarem o plenário, PP e União Brasil, entre outros partidos, garantiram que apoiariam a anistia ao 8 de Janeiro, além do projeto que limita o foro privilegiado, visando diminuir o alcance do Supremo Tribunal Federal (STF) a parlamentares.
Para construir esse entendimento, parlamentares do Centrão e oposição foram ao gabinete de Lira e discutiram a portas fechadas. Motta só apareceu no plenário por volta das 22h15, e ainda passou cerca de cinco minutos tentando encontrar espaço entre os diversos deputados que bloquearam seu caminho.
Motta se aproximou da cadeira da presidência e se afastou. Transitou entre os pares por alguns minutos, enquanto seus “bombeiros” demoviam os últimos bolsonaristas que sentavam à mesa, até convencê-los a liberarem o espaço para que o presidente da Casa chegasse ao seu posto. Por fim, ele conseguiu seu objetivo e abriu a sessão, mas sem votar proposta alguma.
Ao abrir os trabalhos, Motta reclamou, mas não falou sobre punições aos grevistas: “Vivemos uma série de acontecimentos recentes que geraram um sentimento de ebulição nesta Casa. É comum? Não. Estamos em tempos normais? Também não. Mas é justamente nesses momentos que não podemos negociar nossa democracia e o que esta casa representa: a capacidade de dialogar, de enfrentar os debates necessários e de permitir que a maioria se estabeleça”, disse.
Resistência
Bolsonaristas resistiam e afirmavam que não deixariam o plenário e que impediriam qualquer votação até que o projeto de anistia ao 8 de Janeiro seja pautado. O protesto ocorreu após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinar a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Líderes, do Centrão ao PT, cobraram o dia todo que Motta controlasse a situação. O presidente da Câmara ameaçou que determinaria a suspensão do mandato de quem permanecesse no plenário, mas bolsonaristas demonstraram disposição de permanecer, mesmo diante de eventual ordem para a Polícia Legislativa retirar os parlamentares oposicionistas.
Lira, avaliam líderes de centro e governistas, encerrou a noite não somente como “bombeiro” da confusão, mas como ferramenta de mediação para Motta, e também como uma figura a quem os deputados recorrem diante de bombas a serem desarmadas.