Agrolink - Aline Merladete
A imposição de uma tarifa extra de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, representa uma ameaça de grandes proporções à economia brasileira. Para Ivan Wedekin, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e especialista em mercado financeiro, a medida é “extremamente grave” e pode abalar setores estratégicos do agronegócio, além de comprometer relações comerciais consolidadas entre os dois países.
“Essa tarifa é adicional às que já existem, o que amplia ainda mais seu impacto econômico. E o mais preocupante: ela vem acompanhada de uma narrativa política, com menções à atuação do Judiciário e do Executivo brasileiros, além da participação do Brasil nos BRICS. A medida é motivada por razões geopolíticas, especialmente pela aproximação com a China, que os Estados Unidos veem como seu principal adversário comercial”, explicou Wedekin. Segundo ele, essa postura de confronto coloca em risco um histórico de cooperação e neutralidade que o Brasil sempre procurou manter entre os grandes blocos econômicos.
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A nova tarifa deve passar a valer a partir de 1º de agosto de 2025 e será aplicada a qualquer produto brasileiro, incluindo aqueles redirecionados por terceiros países, numa tentativa de evitar possíveis desvios comerciais. A justificativa americana cita práticas desiguais por parte do Brasil, o que, para Wedekin, não condiz com a realidade. “A balança comercial entre os dois países é praticamente neutra, com um leve superávit para os Estados Unidos. O argumento não se sustenta, especialmente se compararmos com o déficit que os americanos têm com a China e a União Europeia.”
Entre os setores mais ameaçados, o agro aparece no topo da lista. Em 2023, o Brasil exportou US$ 12,9 bilhões em carne bovina, sendo US$ 1,35 bilhão destinados aos EUA. “As cadeias produtivas são muito interligadas. No caso das carnes, café e suco de laranja, temos empresas brasileiras com forte presença nos Estados Unidos. Algumas podem até manter as exportações a partir de outras unidades no exterior, mas o impacto sobre as operações aqui será inevitável”, analisou Wedekin.
O ex-secretário também chamou atenção para a dependência mútua entre as indústrias dos dois países. “O Brasil importa turbinas de avião e exporta aeronaves para os Estados Unidos. É um sistema integrado. Romper esse equilíbrio com tarifas punitivas afeta as duas pontas da cadeia”, destacou. Para ele, o momento exige articulação diplomática urgente. “O Brasil precisa acionar sua rede de relações exteriores e o setor privado deve mobilizar suas contrapartes nos EUA. Essas decisões unilaterais assustam e trazem instabilidade.”
Wedekin conclui com um alerta sobre os riscos de escalada nas tensões comerciais. “Esperamos que os próximos passos não nos levem para o buraco. É hora de diálogo e ação coordenada para evitar danos irreversíveis.”