A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou, em seu relatório mais recente sobre as ocorrências de Influenza Aviária (gripe aviária), provocada pelo vírus H1N5, que a doença provocou quase mil surtos em humanos apenas entre os anos de 2003 e 2025. Desses casos, 48% resultaram em mortes e esse número pode subir ainda mais nos próximos anos, já que os vírus causadores da gripe aviária estão se multiplicando rapidamente.
Na semana passada, uma pessoa morreu, nos Estados Unidos, após o vírus apresentar uma mutação rara, a H5N5, nunca antes registrada em seres humanos. Nesta semana, um estudo do Instituto Pasteur, mostrou que a adaptação do vírus aos mamíferos pode provocar o aumento descontrolado da doença e provocar uma pandemia mais grave que a da Covid-19.
A diretora médica do centro de infecções respiratórias do Instituto Pasteur, Marie-Anne Rameix-Weiti, declarou à imprensa europeia, nesta quarta-feira (26) que as mutações e adaptações do vírus da gripe aviária em animais mamíferos pode permitir a transmissão sustentada entre os seres humanos.
Ela alertou que, ao contrário das gripes sazonais H1 e H3 — para as quais grande parte da população possui anticorpos —, não há imunidade prévia contra o vírus da gripe aviária H5, que já infecta aves, mamíferos e, por enquanto em menor escala, os seres humanos. Marie-Anne reforça que, diferente da Covid-19, que atingiu mais severamente grupos vulneráveis, vírus influenza também podem matar pessoas saudáveis, incluindo crianças. “Uma pandemia de gripe aviária provavelmente seria bastante grave, potencialmente até mais grave do que a pandemia que vivenciamos”, afirmou a médica.
Casos humanos da gripe aviária foram registrados ao longo dos anos, geralmente ligados ao contato direto com animais infectados. O subtipo H5N1, que atualmente circula entre aves em quase todos os países do mundo, inclusive no Brasil, com 185 casos, permanece sob monitoramento global.
Alertas globais de uma possível pandemia
Em junho deste ano, um grupo de cientistas de mais de 40 países, o Global Virus Network (GNV) já havia alertado sobre o risco de uma possível nova pandemia, a partir do H5N1. De acordo com eles, o maior problema é a dinâmica viral do H5N1: rápida e facilmente adaptável, o que aumenta a sua transmissibilidade.
O médico veterinário Ab Osterhaus, diretor do GNV e fundador do Centro de Medicina Infecciosa e Pesquisa em Zoonoses da Universidade de Medicina Veterinária de Hannover, Alemanha, afirmou que existe uma necessidade urgente de interromper a transmissão do vírus em rebanhos de gado e a vacinação é ‘imprescindível’. “Fortalecer a vigilância nas interfaces animal-humano é crucial, visto que os esforços atuais de monitoramento são insuficientes para orientar estratégias eficazes de prevenção.”, afirma Osterhaus.
A especialista Elyse Stachler, pesquisadora do Broad Institute do MIT e Harvard, EUA, e membro do GVN, diz que ainda há pouco conhecimento e monitoramento no potencial de transmissão de animais infectados e os seres humanos. “Um sistema de monitoramento robusto é essencial para detectar e colocar em quarentena rapidamente os animais afetados, além de implementar medidas preventivas para conter a disseminação e a infecção humana”, afirmou. “Além disso, acreditamos ser crucial manter a confiança e a adesão das partes interessadas aos programas de monitoramento, especialmente dos trabalhadores rurais.”
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a gripe aviária já foi reportada em 108 países, em todos os continentes. Somente nos Estados Unidos, entre 2024 e 2025, o surto de gripe aviária já afetou cerca de mil fazendas de gado leiteiro, granjas já abateram cerca de 170 milhões de aves e pelo menos 70 pessoas foram contaminadas – uma morte foi confirmada em decorrência da doença nos Estados Unidos. Pessoas também morreram no México e na China. Em alguns países da Europa, como a Finlândia e a Polônia, tornaram a vacinação contra a doença obrigatória.
O Brasil registrou 185 casos da doença desde maio de 2023, a maioria em aves silvestres migratórias, aves de subsistência e em mamíferos aquáticos, como leões-marinhos. O primeiro caso registrado no país, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), ocorreu em 15 de maio de 2023 e, em maio deste ano, o país registrou um caso em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. Não há registros de casos em humanos no Brasil.
Em julho, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou o Instituto Butantan a iniciar ensaios clínicos para avaliar a segurança e a imunogenicidade (capacidade de gerar uma resposta imunológica) da vacina para gripe aviária. Desenvolvida pelo Instituto Butantan, a primeira vacina brasileira contra a gripe aviária em humanos entrou na fase de testes clínicos em Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo, co m voluntários divididos entre dois grupos etários (18-59 anos e 60+).
Os participantes recebem duas doses da vacina ou do placebo, com intervalo de 21 dias entre as aplicações. Apenas 1 em cada 7 voluntários receberá o placebo. Até meados de março de 2026, os participantes serão acompanhados com visitas e exames para avaliar a segurança e a eficácia imunológica do imunizante. Os testes incluem também uma triagem inicial com exames bioquímicos, hematológicos e sorológicos e análise de imunidade celular da vacina.
















