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Falta mão de obra

Em um ano, produção de tabaco atraiu mais de 5.000 famílias no Sul do país

Associação de fumicultores diz que renda por hectare é R$ 45,9 mil, ante R$ 5,7 mil de soja

Por 
Eliane Silva — Ribeirão Preto (SP)
Foto-Jornal do Comércio
 
 

Marcílio Laurindo Drescher sempre foi produtor de tabaco em Cunha Porã, no Paraná, mas há dois anos assumiu o cargo de presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e se afastou da lavoura. Segundo ele, a maioria dos fumicultores são pequenos agricultores familiares com pouca terra ou área arrendada que sustentam a família com o tabaco cultivado em áreas médias de três hectares. 

“Falta mão de obra, que representa de 40% a 50% do custo de produção, para a atividade e o produtor empresarial não se dá bem nos anos em que o tabaco não consegue bom preço.”

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Apesar dos desincentivos patrocinados pelo combate ao fumo, Drescher diz que na última safra mais de 5 mil famílias aderiram ao plantio, somando 38 mil famílias produtoras, devido aos bons preços do tabaco nos últimos três anos e à queda de preço de outras culturas.

Neste ano, a Afubra chegou a fazer campanha alertando os fumicultores a não aumentar sua área de plantio para não causar um desequilíbrio entre a produção e a demanda do produto, que tem 90% do seu volume embarcado para 113 países, incluindo os Estados Unidos.

Desde a Convenção Quadro da OMS de 2005, diz o dirigente, a exportação brasileira se estabilizou em 400 mil a 500 mil toneladas. A produção no ano passado teve uma quebra de quase 20% devido aos problemas climáticos, mas a expectativa na safra que está sendo plantada é de produzir 690 mil toneladas.

O dirigente destaca que, diferentemente do que se apregoa na mídia, a cultura mudou sua forma de produção e atualmente é uma das que menos usa veneno. Além disso, a cadeia do fumo é pioneira na produção integrada há mais de cem anos, o que garante uma segurança financeira a cerca de 90% dos produtores. Segundo ele, só quem tem bem mais estabilidade planta tabaco por sua conta e risco, sem contrato com as indústrias. 

Drescher destaca que uma pesquisa realizada em 2023 pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEPA/UFRGS), constatou que o produtor de tabaco ganha 117% a mais do que a média do trabalhador brasileiro.

Segundo o levantamento da Afubra, o rendimento com o cultivo de tabaco na região Sul do Brasil supera o registrado com importantes culturas de verão, como a soja e o milho. Por hectare, a renda do produtor de tabaco é de R$ 45.989,85. Na soja, um hectare rende R$ 5.755,88 e no milho, R$ 7.008,80.

“A renda líquida se torna maior porque o próprio produtor assume todo o trabalho e não há custo com mão-de-obra. No tabaco, o agricultor pequeno ainda encontra uma vida digna e, mesmo com as campanhas antitabagistas e a migração para o cigarro eletrônico, que também tem tabaco, acredito que nossa geração ainda vai ter muito tempo de produção”, diz o dirigente, que se declara não-fumante.

Drescher garante que, nos últimos anos, houve muitos incentivos da Afubra e das próprias indústrias para os fumicultores diversificarem sua produção e, hoje, 45% da renda das propriedades que plantam tabaco vêm de outras culturas ou criações.

“A Afubra incentiva a diversificação porque qualquer monocultura produz perdas quando o preço do produto fica instável. Não se pode colocar todos os ovos em uma só cesta.” 

Exportação 

Valmor Thesing, presidente do SindiTabaco, que representa 14 grandes indústrias do setor, diz que o Brasil vai muito bem nas exportações, apesar do tarifaço de 50% imposto pelo presidente americano, Donald Trump, aos produtos brasileiros. Neste ano, o país antecipou seus embarques de 40 mil toneladas para os EUA (9% do total) e já busca novos compradores para esse volume em 2026, caso o tarifaço não seja revertido.

O Brasil embarca quase 90% do que colhe e se mantém há 32 anos como maior exportador de tabaco do mundo, com o dobro do volume do segundo do ranking, a Índia. União Europeia e Extremo Oriente são os destinos principais, com 34% do volume. Em 2024, o tabaco representou 0,88 % do total das exportações brasileiras, com US$ 2,977 bilhões.

Fumante, o dirigente diz que, após a Convenção Quadro em 2005, houve um acordo no Brasil para não desincentivar o produtor de tabaco, a maioria composta por agricultores familiares, mas o acordo não foi cumprido e houve ataques frequentes à produção para reduzir a prevalência de fumantes.

“O setor ofereceu 44 mil empregos diretos e gerou R$ 17,8 bilhões de tributos no ano passado. O fato é que estamos transferindo impostos, empregos e renda para outros países. Enquanto o Brasil se manteve estável na produção nos últimos 30 anos, a África aumentou 40% a produção e vendeu tudo.”

Thesing faz questão de ressaltar que as áreas que produzem tabaco têm mais cobertura vegetal e há um incentivo para não haver desmatamento.

Na questão dos venenos, diz que é a segunda cultura que menos usa agrotóxicos. Segundo ele, uma pesquisa da Esalq-USP apontou que os produtores usam 1 kg de ingrediente ativo enquanto outras culturas como batata e tomate usam até 70 kg. 

Carla Andreia Schuh, assessora de política agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), concorda com Thesing.

“As narrativas não retratam a realidade da produção do tabaco. Estudos mostram que não é a cultura que mais usa agrotóxicos. Hortifrútis usam muito mais e há um esforço das empresas integradoras em relação ao manuseio dos agrotóxicos e uso de EPIs, embora, é claro, não haja 100% de adesão porque alguns produtores amarrados à cultura do passado acham que não é necessário.”

Segundo o presidente do SindiTabaco, o tabaco também se destaca no combate ao trabalho infantil, com campanhas e termos assinados com o Ministério Público do Trabalho, sendo um exemplo desde a década de 90, e a cultura não provoca suicídios.

"Isso é uma grande mentira. Passo Fundo tem um índice de suicídios muito maior do que Venâncio Aires (um dos pólos de produção de fumo) e não planta tabaco", diz Thesing.

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