A produção de uvas para vinho cresce em Minas Gerais, ocupando áreas dominadas pelo café. O número de projetos de vinícolas, que era de 50 em 2020, chegou a 130 neste ano, de acordo com o Sindicato da Indústria do Vinho de Minas Gerais (Sindvinho), e a produção da bebida no Estado já é de 4,5 milhões de litros, a maior parte concentrada na região da Serra da Mantiqueira, no sul de Minas. São 2,5 mil toneladas de uvas destinadas à produção de vinho no Estado a cada ano.
Tradicional produtor de café, o município de São Gonçalo do Sapucaí (MG) tem a maior área de plantio de uvas no Estado, com 160 hectares. Entre os produtores está a Vinícola Alma Gerais, controlada por Alessandro Rios, fundador do laticínio Verde Campo, e Antônio Alberto Júnior, sócio da panificadora Jeito Caseiro. A empresa começou a plantar vinhedos em 2020 e hoje tem 16 hectares.
A primeira safra foi lançada há dois anos e já foi premiada. O vinho Alma Gerais Sauvignon Blanc 2023 recebeu medalha de prata no Decanter World Wine Awards 2025, e o Alma Gerais Syrah 2023, medalha de bronze. “Foi uma surpresa muito grande”, afirma Thiago Sfreddo Hunoff, enólogo da Alma Gerais.
A vinícola produz as variedades syrah, viognier, cabernet sauvignon, cabernet franc e marselan, usadas na produção de seis rótulos de vinhos brancos e rosé. Hunoff observa que as propriedades ficam em altitudes de 850 a 1,3 mil metros. As plantações estão rodeadas por cafezais, e a região fica coberta por uma densa neblina nas manhãs dos meses junho e julho.
“A luminosidade menor favorece a concentração dos aromas primários das variedades, conferindo mais acidez e diferença nos aromas dos vinhos. Tudo isso garante um terroir diferenciado”, diz Hunoff. A Alma Gerais processou 50 toneladas de uvas neste ano. Em 2026, a vinícola espera alcançar 80 toneladas.
No mesmo município, em 2015, foi fundada a Vinícola Barbara Eliodora. Guilherme Bernardes Filho, dono e diretor da vinícola, afirma que no início era um projeto pessoal, com 3 hectares de uvas syrah e sauvignon blanc.
O primeiro vinho ficou pronto em 2019, e dois anos mais tarde ele recebeu medalha de bronze no International Wine Challenge (IWC). “Daí virei a chave, decidi fazer um projeto maior”, conta Bernardes. O plantio passou a 18 hectares de uvas syrah, sauvignon blanc, cabernet sauvignon, cabernet franc, entre outras.
Segundo Bernardes, a vinícola produz 30 mil garrafas por ano, divididas em dez rótulos. Para 2026, a expectativa é alcançar uma produção de 70 toneladas de uvas, o suficiente para a produção de 50 mil garrafas.
Em Jacutinga (MG), Marcelo Pioli produzia café quando começou a plantar uva, em 2017. “A família é italiana, e ele sempre teve o sonho de tomar o próprio vinho. Começou com 1 hectare”, conta Lirya Pioli, diretora de marketing da Vinícola Pioli e filha de Marcelo. Atualmente, a propriedade utiliza 12 hectares para produzir uvas chardonnay, pinot noir, cabernet franc, sauvignon e merlot. Outros 200 mil hectares seguem com o plantio de café.
A Vinícola Pioli começou a produzir o vinho na propriedade em 2022. Dois anos mais tarde, o Pioli Syrah Solar Pretenzioso 2021 obteve medalha de prata no Decanter World Wine Awards. Neste ano, a vinícola produziu 40 mil garrafas e oito rótulos. Para o ano que vem, a previsão é adicionar mais um hectare com uvas merlot. “A dupla poda, a altitude de mil metros e o solo mais pedregoso dão uma característica especial ao vinho”, afirma.
A Serra da Mantiqueira tem 80 projetos de vinícolas em um raio de 100 quilômetros. A família Junqueira Nogueira, tradicional na produção de café, começou a plantar uvas em Boa Esperança (MG) em 2009. Os Junqueira Nogueira são donos da Vinícola Maria Maria, que ganhou esse nome em homenagem ao ícone da música Milton Nascimento, que é amigo da família. Em 2025, o vinho Isabela Syrah 2023 recebeu medalha de ouro no Decanter World Wine Awards.
“Com a dupla poda, conseguimos fazer vinhos mais concentrados, com um pouco mais de teor alcoólico e mais estruturados”, explica Eduardo Junqueira Nogueira Neto, diretor comercial e agrônomo da vinícola, que cultiva 21 hectares de syrah e sauvignon blanc e produz 50 mil garrafas por ano.
O cultivo de café ocupa 400 hectares no entorno das videiras, o que, segundo ele, influencia o terroir. “Por estarem no mesmo ambiente, acredito que há uma interferência no terroir e no sabor das uvas”, diz Nogueira.
Vinhos em Minas Gerais
A produção vinícola em Minas Gerais começou a ganhar destaque na década passada, quando a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) passou a adotar a dupla poda. A técnica consiste em deslocar o ciclo da uva do verão para o inverno, o que ajuda a evitar perdas com chuvas e calor. Uma poda ocorre no verão e a segunda, meses depois, induzindo à produção no inverno.
“A dupla poda proporcionou uma renovação na produção de vinhos no Sudeste”, afirma Heloísa Bertoli, presidente do Sindvinho. As uvas mais adaptadas para essa produção de inverno são syrah, sauvignon blanc, cabernet franc e viognier, acrescenta.
De acordo com Deny Sanábio, coordenador técnico estadual de fruticultura da Emater-MG, o cultivo de uvas no Estado ocupa 815 hectares, com produção de 48,4 mil toneladas de uvas. A produção para vinho ocupa 403 hectares, sendo 268 hectares em produção e 133 hectares em formação. Em 2024, os produtores de Minas Gerais colheram 2,5 mil toneladas de uva para vinho.

















