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Grãos com melhor sabor

Em busca do 'amendoim perfeito', fabricante de doces aposta na ciência

Mars investe U$ 15 milhões para desenvolver grãos com o melhor sabor para M&M's, Snickers e Twix

Por Maria Emília Zampieri — Vinhedo (SP)
Globo Rural 
Foto-Terra Magna

A produção global de M&M's, Snickers e Twix utiliza anualmente 136 mil toneladas de amendoins. A importância da oleaginosa para os negócios da Mars, responsável por essas marcas, é tamanha que a companhia investe há mais de uma década na busca pelo “amendoim perfeito”. 

Desde 2013, foram investidos cerca de U$ 10 milhões em pesquisa para desenvolvimento de novas cultivares de amendoins e até 2030 serão aportados mais U$ 5 milhões, informou ao Valor/Globo Rural a vice-presidente global de sustentabilidade da Mars, Amanda Davies. “Quando o assunto é sustentabilidade, não pensamos na evolução em trimestres, mas em gerações”, diz.

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Desde o início, o desafio era grande: alcançar a produção de amendoins simétricos, que atendessem ao padrão para produção de M&M's, ao mesmo que apresentassem notas doces e torradas, com gordura na medida para não ficarem rançosos com o tempo. E tudo isso em uma forma de cultivo mais sustentável, a partir de plantas mais resistentes a pragas e doenças.

“O cultivo do amendoim significa muito para a Mars e atuar junto aos produtores é um fator fundamental. Estamos satisfeitos com o que conseguimos até agora, com relação à forma e sabor, mas um novo desafio se apresenta. É a busca por cultivos cada vez mais sustentáveis”, afirma a executiva.

“Há a questão ambiental e financeira. Plantas mais resistentes podem significar economia de milhões em custos para os produtores. Hoje, 30% do amendoim cultivado não chega à mesa do consumidor por perdas no cultivo”, destaca Amanda.

Amanda Davies, vice-presidente global de sustentabilidade da Mars — Foto: Mars/Divulgação
Amanda Davies, vice-presidente global de sustentabilidade da Mars — Foto: Mars/Divulgação

Para resolver essas questões, a Mars tem parceria com universidades e centros de pesquisa de diversos países, incluindo o Brasil. O projeto funciona com modelo de colaboração aberta, no qual qualquer pesquisador do mundo pode acessar e usar os resultados dos estudos, sem a necessidade de vínculo com a companhia, ou qualquer tipo de restrição com relação a patentes ou propriedade intelectual.

 

Na Universidade da Geórgia, é uma brasileira que trabalha junto à Mars, dentro do Wild Peanut Lab (Laboratório de Amendoins Selvagens). Soraya Bertioli, cuja carreira no Brasil inclui longa passagem pela Embrapa, iniciou o trabalho com o laboratório ao lado do marido, David Bertioli, em 2013, para desvendar os genes dos amendoins selvagens.

O objetivo final, segundo a pesquisadora, é cruzar genes de determinadas variedades de amendoins selvagens para criar amendoins que sejam mais resistentes às pragas e doenças – principalmente os temidos fungos que atrapalham a produtividade da oleaginosa.

Soraya e o marido estavam preparados para se debruçarem por décadas sobre o assunto, mas em 2019 um consórcio internacional de pesquisadores liderado pela Universidade da Geórgia e financiado com ajuda da Mars conseguiu mapear o genoma do amendoim, considerado supreendentemente complexo.

“Essa conquista acelerou o processo de melhoramento, permitindo que fossem identificados os genes responsáveis, por exemplo, à tolerância à seca, solos mais pobres, constituição oleica e sabor”, diz Soraya. “Os amendoins selvagens que estudamos, que são as versões mais antigas das plantas produtivas que conhecemos, têm genes resistentes que podem funcionar como vacinas para as variedades atuais”, exemplifica.

Pesquisa de amendoins de Mars — Foto: Mars/Divulgação
Pesquisa de amendoins de Mars — Foto: Mars/Divulgação

 

Brasil 

No Brasil, a companhia compra 7 mil toneladas de amendoim por ano, das quais 50% são destinadas à exportação e a outra metada à produção nacional, na fábrica da Guararema (SP). A maioria desses grãos é para os Snickers, que contam com 16 amendoins partidos sem casca para cada barra. 

Aqui, a Mars tem parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). No IAC, as pesquisas permitiram o desenvolvimento de novas variedades para atender às necessidades do mercado, principalmente com o desenvolvimento de cultivares de amendoim com alto teor de gordura monoinsaturada, como a encontrada no azeite de oliva.

“O ácido oleico é atrativo para os produtores e indústria, pois permite manter o produto armazenado mais tempo que de outros amendoins, sem rancificar e perder o sabor”, explica Inácio J. Godoy, pesquisador do IAC.

No Programa de Melhoramento Genético de Amendoim do IAC as cultivares também são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar alta resistência à mancha preta e ferrugem. “Esse perfil traz benefícios para a cultura do amendoim por meio da redução substancial do uso de defensivos para controle dessas doenças, além de impacto importante na redução do custo de produção”, afirma Godoy.

Com apoio da Mars, o IAC desenvolveu a variedade Sempre Verde (Forever Green), para cultivo orgânico de amendoim, pois dispensa o uso de fungicidas, com produtividade em torno de 5 mil quilos por hectares (a média com uso de fungicidas varia entre 6mil e 7 mil quilos).

Outra criação da parceria é a variedade de amendoim HOAP de ciclo curto, cultivado em rotação com a cana-de-açúcar.

Entre os países que também conta com sistema colaborativo junto à Mars na busca pelo amendoim perfeito estão Nicarágua e China. “Cada local tem suas especificidades de condições do solo e clima e agricultores que trabalham há anos testando suas ideias. A ideia é caminharmos juntos, respeitando os históricos locais”, finaliza Amanda Davies.

 

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