Por:
André Araujo, Doutor em Ciências Políticas e Sociais e Professor Convidado, Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) / The Conversation
Foto-BBC
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No mês de agosto, foi anunciada a instalação, no Paraguai, de um novo centro de combate ao terrorismo e que os policiais de tal unidade receberiam treinamento inclusive do FBI estadunidense. De acordo com declarações das autoridades de Assunção, capital do país vizinho, o objetivo é combater as ações do Hezbollah na Tríplice Fronteira.
A medida se insere na política externa do presidente Santiago Peña (Partido Colorado), que busca marcas e ganhos no seu mandato. Ela ocorreu em um momento no qual os Estados Unidos endurecem suas políticas na América Latina e retomam discussões sobre as atividades conduzidas por Washington no continente, seja com presença direta ou indireta.
Justificativa para ações militares
Conforme anunciado no discurso de posse, Donald Trump declarou uma lista de cartéis como organizações terroristas. Esta reclassificação direciona a abordagem para que não sejam encarados como questões de ordem pública, mas como ameaças à segurança nacional a serem combatidas transnacionalmente. Essa foi a base da argumentação do governo estadunidense para as recentes ações na América Latina e que se somam ao histórico anterior de intervenções na região.
No período contemporâneo, o combate ao narcotráfico vem sendo utilizado como justificativa para as ações militares dos Estados Unidos ao redor da Venezuela, incluindo o ataque a um barco no Caribe. Em particular, há acusação de que o presidente venezuelano Nicolás Maduro lidere o Cartel de los Soles, o que sustentaria as ações dos Estados Unidos contra o governo venezuelano.
Em outra frente, os Estados Unidos ampliaram as tensões com o México, reforçando as barreiras físicas no muro na fronteira e deslocando pessoal militar naquela zona, que foi classificada como emergência nacional - o que se insere em contexto mais amplo de políticas conservadoras e repressivas contra a migração inclusive dentro dos EUA, conforme visto no uso da Guarda Nacional em Los Angeles.
Mais bases na América Latina?
Soma-se a isso as negociações recentes para instalar base militar estadunidense no sul da Argentina e no Equador. Ao longo de muitas décadas, as Forças Armadas dos Estados Unidos implementaram bases sob seu controle direto na América Latina, como a Base de Guantánamo, na ilha de Cuba, além de cooperações com militares dos demais países, evidenciado pelos acordos com a Colômbia. Ademais, historicamente houve intervenções na região, como houve em Cuba e no Haiti, no início do século XX.
A conjuntura contemporânea, incluindo o centro antiterrorista no Paraguai, coloca as forças estadunidenses mais próximas das fronteiras brasileiras. Isso levanta preocupações históricas no Brasil de manutenção da soberania e a resistência em permitir bases estrangeiras em seu território, visualizando um cenário de risco à segurança nacional.
A presença dos Estados Unidos perto do Brasil, em zonas como a Tríplice Fronteira, gera receio de que as ações poderiam transbordar e afetar o próprio Brasil. Além disso, desconstruiria a autonomia sul-americana construída ao longo das últimas décadas, inclusive com iniciativas como o Conselho de Defesa da UNASUL. Portanto, as incertezas e as instabilidades aumentam o risco e demandam ações que preservem a autonomia dos países sul-americanos.