Gazeta Mercantil
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O Brasil assumiu uma postura mais firme nas negociações da COP30, realizada em Belém, ao propor uma estratégia inédita para acelerar o fechamento de um acordo climático global. Em um movimento considerado ousado por diplomatas estrangeiros, o país anfitrião passou a pressionar por um desfecho em duas etapas, com um primeiro pacote de decisões já nesta quarta-feira e outro até o encerramento oficial da conferência, na sexta-feira.
A iniciativa ganhou força durante a madrugada de terça-feira, quando delegados de diversas nações trabalharam até as primeiras horas do dia para avançar em pontos considerados sensíveis da agenda climática. A proposta brasileira busca reorganizar a dinâmica de debates, que historicamente se estende além dos prazos previstos, e abrir caminho para compromissos climáticos mais robustos e com implementação acelerada.
Com a presença de chefes de delegações, negociadores e observadores internacionais, o governo brasileiro tenta aproveitar o papel de país anfitrião para impulsionar um resultado capaz de reposicionar a liderança global do Brasil na diplomacia ambiental. A expectativa é de que a estratégia reduza as chances de impasse, ao propor que parte dos temas seja resolvida imediatamente, evitando que tudo se acumule para o final da cúpula — situação comum nas últimas COPs.
Brasil propõe acordo dividido em duas etapas
A COP30 ocorre em um momento de grande pressão internacional. A emergência climática exige respostas rápidas, e o Brasil busca conduzir as discussões com um método capaz de destravar negociações complexas. A estratégia apresentada por interlocutores brasileiros prevê que uma parcela dos temas, inclusive alguns tradicionalmente espinhosos, seja decidida ainda no meio da semana.
Diplomatas de diferentes países consideram a investida arriscada, mas admitem que ela pode funcionar ao redistribuir a carga de decisão e reduzir tensões acumuladas. A avaliação é de que, ao oferecer um caminho mais organizado, o Brasil tenta evitar o prolongamento excessivo de debates que, historicamente, dificultam o fechamento dos textos finais.
Durante a abertura da conferência, não estava claro se haveria condições para negociar um acordo final ainda nesta semana. Entretanto, diante da iniciativa brasileira, delegações começaram a demonstrar maior disposição de avançar em tópicos que, até poucos dias atrás, sequer constavam na agenda formal.
Nos bastidores, diplomatas europeus e latino-americanos reconhecem que a proposta surpreendeu pela ambição, especialmente por ter surgido em um evento onde tradicionalmente as decisões só ocorrem na reta final. A estratégia brasileira, contudo, tem o mérito de indicar que o país pretende conduzir a COP30 com maior protagonismo, evitando o desgaste político de uma conferência marcada por atrasos, impasses e eventuais acusações de ineficiência.
Agenda global: financiamento climático e metas de emissões no centro das divergências
Os principais pontos de impasse permanecem relacionados ao financiamento climático e às metas de redução de emissões. Esse conjunto de temas divide países desenvolvidos, pressionados por restrições fiscais e prioridades internas, e nações mais vulneráveis, especialmente pequenos Estados insulares que já enfrentam riscos existenciais decorrentes da elevação do nível do mar.
Entre as questões mais sensíveis, destaca-se a definição de novos mecanismos de apoio financeiro para países em desenvolvimento avançarem na transição energética. O debate sobre o chamado gap de emissões — diferença entre o que é prometido e o que é necessário para limitar o aquecimento global — também permanece no centro das discussões.
O Brasil, assim como outras economias emergentes, defende que a COP30 estabeleça um roteiro claro para implementar o acordo firmado na COP28, em 2023, que determinou a eliminação gradual do uso de combustíveis fósseis. A proposta enfrenta resistência de países com forte dependência dessas matrizes energéticas, mas tem ganhado força entre nações latino-americanas e europeias.
O esboço de documento apresentado pela presidência da COP30 mostra uma ampla diversidade de opções de redação para cada tópico, indicando que ainda não há consenso firme entre as delegações. Observadores que participam das sessões relatam que as discussões avançam lentamente, com negociações constantemente interrompidas por divergências temáticas que retornam ao debate de maneira recorrente.
Lula e Guterres reforçam pressão política por avanço nas negociações
A COP30 ganha contornos estratégicos com o retorno do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a Belém. Ele se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a condução das negociações e reforçar a necessidade de compromissos ambiciosos.
Lula tem reiterado que o objetivo central da conferência é fortalecer a governança climática global e reaproximar países em torno de um multilateralismo efetivo. O governo brasileiro entende que o avanço nas negociações depende de pressão política, especialmente diante da fragmentação crescente do cenário internacional.
A presença de Guterres é vista como uma oportunidade para impulsionar temas prioritários e aproximar posições divergentes. O secretário-geral defende que o mundo precisa acelerar drasticamente a redução de emissões e ampliar o financiamento climático para que a transição energética ocorra em ritmo compatível com a urgência ambiental.
Negociações seguem madrugada adentro em busca de consenso
A conferência manteve reuniões até depois da meia-noite de segunda-feira, com programação estendida novamente para terça-feira. A presidência da COP30, liderada pelo Brasil, afirmou que há apoio para avançar rapidamente, reduzindo o tempo entre as discussões técnicas e a formulação do documento final.
Apesar do ritmo acelerado, divergências continuam a dificultar o progresso. Delegados relatam que a estratégia de concentrar temas polêmicos em grupos menores nem sempre produz resultados eficientes. Sempre que um debate avança, outro item é introduzido e desvia o foco das discussões.
Mesmo assim, o Brasil acredita que o esforço conjunto pode resultar em um acordo parcial ainda hoje, abrindo caminho para a segunda etapa, prevista para sexta-feira. A intenção é evitar que o acúmulo de temas transforme a reta final da conferência em um ambiente insustentável, como frequentemente ocorre nas COPs.
Divergências históricas dificultam avanço sobre financiamento
O debate sobre financiamento climático se tornou o ponto mais desafiador das negociações. Países ricos argumentam que suas capacidades fiscais estão pressionadas por crises econômicas, conflitos geopolíticos e políticas domésticas sensíveis. Nações mais vulneráveis, por sua vez, afirmam que não é possível cumprir metas climáticas sem apoio financeiro consistente.
Essa tensão estrutural atravessa anos de conferências internacionais e vem sendo agravada pela crescente defasagem entre compromissos assumidos e resultados concretos. Economias dependentes de setores tradicionais, como petróleo e gás, também resistem à adoção de metas mais rígidas.
O Brasil tenta mediar as posições, articulando-se com diferentes blocos para viabilizar um acordo equilibrado. A estratégia brasileira aposta na construção de convergências graduais, evitando pressões excessivas que possam levar ao colapso das negociações.
Esforço diplomático do Brasil reforça papel estratégico da COP30
A COP30 em Belém representa uma oportunidade única para o Brasil consolidar sua posição como liderança global na agenda climática. O país prepara-se para assumir protagonismo ainda maior ao sediar debates globais e tentar costurar acordos que influenciarão a política climática dos próximos anos.
O governo brasileiro trabalha com diferentes frentes simultaneamente — diplomática, técnica e política — para construir um ambiente de maior confiança dentro da conferência. A realização da COP na Amazônia é vista por analistas como um gesto simbólico que fortalece a narrativa brasileira de defesa ambiental.
Delegações estrangeiras reconhecem que a estratégia do Brasil pode redefinir a condução das negociações internacionais, oferecendo um modelo alternativo às reuniões arrastadas que acabam estendendo as COPs por horas além do previsto.
Um acordo possível, mas ainda incerto
Apesar dos esforços diplomáticos e da intensificação das reuniões, o desfecho da COP30 permanece imprevisível. Há uma compreensão generalizada entre negociadores de que as diferenças são profundas e de que o esforço brasileiro envolve riscos significativos.
A proposta em duas etapas, porém, é vista como uma tentativa de romper com a lógica das conferências anteriores, nas quais a pressão pelo encerramento impõe decisões emergenciais de última hora, geralmente menos ambiciosas do que o desejado.
Com a expectativa de que uma primeira parte do acordo seja definida ainda hoje, cresce a tensão entre delegações. A presença de Lula e Guterres nos bastidores amplia a pressão política, reforçando o sentido de urgência.
A COP30 chega à metade com desafios técnicos, embates históricos e temas delicados disputados linha por linha. Mas, pela primeira vez em anos, uma conferência climática parece disposta a testar um novo método de negociação — e o Brasil assume a responsabilidade de liderar essa mudança.

















