O governo dos Estados Unidos anunciou, na última quarta-feira (9), a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil. A medida, segundo autoridades americanas, afeta diretamente o maior produtor mundial de café, cuja relação comercial com os EUA tem o grão como um dos principais itens exportados.
O Brasil é o 15º maior parceiro comercial dos Estados Unidos. As exportações brasileiras para o país incluem petróleo bruto, aço semiacabado, ferro-gusa, café e outros alimentos, como suco de laranja, carne e ovos. Já os EUA exportam principalmente aeronaves comerciais, produtos petrolíferos, carvão e semicondutores para o Brasil.
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De acordo com Laleska Moda, analista de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets, o impacto imediato da medida poderá ser sentido na inflação americana. “A preocupação imediata para o mercado é um possível aumento da inflação como resultado da imposição de tarifas a parceiros comerciais, como o Brasil, especialmente porque os EUA são um importador líquido de bens, o que também poderia deixar menos espaço para futuros cortes nas taxas de juros”, afirma.
A analista observa ainda que, mesmo com uma leve recuperação do dólar, o cenário econômico dos EUA segue instável. “Nesse sentido, apesar da recuperação do valor do dólar durante a semana, o índice permanece próximo ao seu menor patamar em três anos e meio, tendo recuado cerca de 10% neste ano”, diz.
Segundo Moda, os investidores avaliam com cautela a economia americana diante de incertezas fiscais e comerciais. Além das tarifas, o mercado também acompanha o corte de impostos proposto por Donald Trump, o novo projeto de lei de gastos e os próximos passos do Federal Reserve (Fed).
No caso específico do café, a tarifa de 50% sobre os grãos brasileiros pode gerar efeitos. “Uma cobrança de 50% sobre produtos brasileiros poderia ter um impacto direto no setor, já que não só o Brasil é o maior produtor do mundo, mas os EUA são seu maior importador”, afirma Moda. Atualmente, os grãos brasileiros respondem por cerca de 30% das importações americanas do produto. “Vale ressaltar que, apesar do aumento dos preços do café, os dados de importação de café dos EUA mostraram uma recuperação próxima aos níveis médios até agora na temporada 24/25, após cair nas temporadas 23/24 e 22/23. Embora os preços do café estejam mais altos do que nos anos anteriores, o impacto na renda dos consumidores é menor do que em economias como o Brasil, onde o produto ainda recebe uma parte maior da renda”, destaca a analista.
A tarifa, segundo Moda, também poderá alterar o fluxo mundial de café. Com menor competitividade do produto brasileiro nos EUA, os embarques podem ser redirecionados a outros mercados, e os consumidores americanos tendem a sentir os efeitos nos preços.
O cenário é agravado pelo fato de o Brasil estar com maior disponibilidade de café no momento, enquanto outros grandes produtores de arábica enfrentam entressafra. Além disso, países como o Vietnã já enfrentam tarifas de 20% nas exportações para os EUA, o que limita alternativas de oferta e pode contribuir para a elevação dos preços.