O relatório parcial da Polícia Federal (PF), que apura supostas vendas de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e em tribunais estaduais, incluindo o de Mato Grosso, aponta que o contador Nilvan Marques Medrado pode ser a peça final para entender todo o esquema liderado pelo lobista Andreson Gonçalves. Medrado atuaria principalmente na lavagem de dinheiro resultante das negociações.
Segundo relatório parcial da investigação, Nilvan é identificado como responsável técnico-contábil de diversas empresas controladas por Andreson e sua esposa, Mirian Ribeiro. Entre essas empresas estão Florais Transportes Ltda, Florais Auto Posto Ltda, Florais Terraplanagem Ltda e Florais Táxi Aéreo Ltda, todas utilizadas como instrumentos para movimentação e dissimulação de valores ilícitos.
De acordo com a PF, ele figura como contador de 152 pessoas jurídicas, das quais 126 têm sede em Mato Grosso, sendo que cerca de 75% atuam no setor de transporte rodoviário de cargas, segmento frequentemente associado a esquemas de lavagem de capitais devido à dificuldade de fiscalização individual de serviços e à possibilidade de emissão de notas fiscais com descrições genéricas.
A investigação identificou que 49 dessas empresas foram constituídas entre 2021 e 2022, o que indica um padrão de rotatividade empresarial típico de estruturas voltadas à ocultação de recursos ilícitos. A PF ressalta, ainda, que Nilvan também é contador da Marvan Logística e Transportes Eireli, registrada em nome de Vanessa Resende Gonçalves, esposa do ex-servidor do STJ Márcio Toledo Pinto Márcio, demitido pelo envolvimento direto na manipulação de decisões judiciais.
Os investigadores destacam a Florais Transportes Ltda como o principal núcleo financeiro do esquema criminoso, responsável por introduzir e redistribuir os valores obtidos de forma ilícita. O relatório aponta que a empresa, adquirida por Andreson em 2013, movimentou mais de R$ 72 milhões em créditos e R$ 73 milhões em débitos entre 2014 e 2024, segundo dados do COAF.
Conforme os extratos analisados, Roberto Zampieri, advogado assassinado em 2023 em Cuiabá, cujo crime deu origem a investigação, transferiu R$ 7,18 milhões à Florais Transportes entre 2019 e 2023, operação que caracterizaria a fase de introdução da lavagem de capitais.
A PF descreve que o esquema utilizava contratos fictícios de transporte e notas fiscais simuladas para justificar grandes movimentações de dinheiro, conferindo aparência de legalidade às operações fraudulentas. As empresas funcionavam como contas de passagem, redistribuindo valores a pessoas e firmas de fachada ligadas aos servidores e agentes públicos beneficiados pelas decisões judiciais manipuladas.
Na conclusão do relatório, a Polícia Federal afirma que as provas reunidas até o momento comprovam a existência de um sistema de corrupção judicial sustentado por um consórcio de beneficiários e uma rede contábil-financeira comandada por Nilvan Medrado.
“Recomenda-se, ainda, para o avanço das apurações, o aprofundamento da análise societária das 152 empresas vinculadas a Nilvan Medrado, uma vez que os vínculos entre sócios, familiares e servidores públicos podem revelar novas ramificações do núcleo de corrupção judicial, ampliando o alcance probatório e permitindo o mapeamento integral da rede contábil e financeira que sustenta o esquema”, finaliza o relatório.