A Justiça de Mato Grosso reconheceu que o Comando Vermelho foi o mandante de um duplo homicídio ocorrido em 2022, em Cuiabá, após suspeita de que as vítimas teriam “traído” a facção. A sentença da 7ª Vara Criminal da Capital, assinada pela juíza Ana Cristina Silva Mendes, foi proferida no início de junho e aponta que os assassinatos de Marylha Ribeiro da Silva e Marcos Aurélio Fernandes Filho foram ordenados por um integrante de alto escalão da organização criminosa.
O executor foi um adolescente com posto de “disciplina”, que recebeu a ordem por mensagem de voz via "birico" — canal de comunicação interna da facção. Após os homicídios, os corpos foram ocultados em uma região de mata na Capital com o apoio dos demais réus, que também teriam participado da vigilância e captura das vítimas.
Segundo a investigação, Marylha e Marcos foram mortos sob a acusação de serem “X9”, expressão usada para designar delatores ou traidores dentro do CV. A mulher teria sido assassinada primeiro. O rapaz, ao saber do sumiço dela, foi atraído ao local e igualmente executado.
Três réus foram condenados por ocultação de cadáver e corrupção de menor. Um deles também foi sentenciado por integrar organização criminosa. A juíza absolveu outros dois da acusação de envolvimento com a facção, por ausência de provas sobre vínculo direto com a estrutura do CV.
Apesar das condenações, nenhum dos réus foi responsabilizado diretamente pelas execuções, atribuídas ao menor de idade, cuja ação foi confirmada com base em depoimentos e elementos colhidos no inquérito.
A sentença descreve ainda a existência de uma estrutura hierárquica organizada dentro do Comando Vermelho, com funções como “disciplina”, “espelho” e “tropa do tribunal”, além de um sistema de comunicação estruturado, com normas internas e punições aplicadas a quem desrespeita o código da organização.