O preço da laranja pago pelas indústrias no mercado brasileiro registrou queda no início de novembro de 2025, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), em Piracicaba (SP). A redução reflete o aumento da oferta de fruta para processamento e a desaceleração das exportações de suco de laranja, que têm enfrentado menor demanda internacional.
De acordo com o Cepea, a caixa de 40,8 quilos de laranja, que vinha sendo negociada em torno de R$ 50, passou a ser vendida por cerca de R$ 45 na árvore na primeira semana do mês. Essa queda representa um recuo médio de 10% em relação a outubro, marcando o primeiro declínio expressivo da safra 2024/25.
A pressão sobre o preço da laranja vem principalmente da demanda externa mais fraca, somada à maior disponibilidade de fruta nas regiões produtoras do interior paulista, especialmente nas áreas de Limeira, Bebedouro e Avaré — polos da citricultura nacional.
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Demanda internacional enfraquece e reduz o preço da laranja
Entre julho e outubro de 2025, as exportações brasileiras de suco de laranja somaram 283,2 mil toneladas em equivalente concentrado, uma redução de 7,1% em relação ao mesmo período da safra anterior.
A receita com os embarques também apresentou retração de cerca de 15%, somando US$ 751,3 milhões, de acordo com dados da Comex Stat. O enfraquecimento do mercado internacional é atribuído ao aumento da oferta global, principalmente nos Estados Unidos e Europa, e ao comportamento mais cauteloso dos importadores, que têm evitado formar estoques elevados diante da desaceleração econômica.
O resultado é uma combinação que pressiona a cadeia produtiva e reduz o preço da laranja no mercado interno, mesmo com custos de produção ainda elevados.
Exportações mantêm receita alta, mas volume cai
Apesar da queda nos embarques, a safra 2024/25 foi marcada por receita recorde nas exportações de suco de laranja, com US$ 3,48 bilhões em faturamento — crescimento de 28,4% em relação à safra anterior.
Essa performance foi sustentada pela oferta restrita de suco brasileiro, que manteve os preços externos em patamares elevados. Entretanto, o cenário começou a mudar neste fim de ano com a normalização da produção global, levando à queda nos preços internacionais e, consequentemente, no preço da laranja pago pela indústria.
Os Estados Unidos e a União Europeia seguem como principais compradores, com participação equilibrada de 48% cada um nas exportações brasileiras. No entanto, as vendas para a Europa caíram 8%, impactadas por uma redução no consumo e problemas de qualidade observados na safra anterior. Já o mercado norte-americano avançou 13%, mesmo com tarifas residuais de 10%.
Impactos das tarifas e do “tarifaço” americano
O setor citrícola também enfrenta os efeitos do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Embora o suco de laranja tenha sido isento da sobretaxa de 40%, seus subprodutos — como óleos e farelos — continuam sendo taxados em até 50%.
Segundo o Cepea, essa distinção tarifária prejudica a competitividade dos derivados do suco brasileiro, reduzindo a margem de lucro e restringindo a diversificação de exportações.
Atualmente, o suco segue sujeito à tarifa de 10%, acrescida de uma taxa fixa de US$ 415 por tonelada, o que reforça a necessidade de novos acordos bilaterais para manter o setor competitivo.
O Cepea ressalta que o setor exportador de laranja vive um momento de transição, em que estratégia e inovação serão essenciais para enfrentar os desafios de margens estreitas e da concorrência internacional.
Aumento da oferta interna pressiona o mercado
além da desaceleração das exportações, o aumento da oferta interna de laranja também tem contribuído para a queda dos preços pagos pela indústria.
Com o início da nova safra e condições climáticas favoráveis em São Paulo, o volume de fruta disponível para processamento cresceu. Muitas indústrias estão com capacidade de esmagamento próxima ao limite, o que amplia o estoque de suco e reduz a urgência de novas compras.
Esse cenário cria um excesso momentâneo de oferta, fazendo com que o preço da laranja caia no campo. A expectativa dos analistas é que o movimento persista até o fim do mês, quando o mercado tende a se ajustar à demanda industrial.
EUA e Europa: os principais destinos do suco brasileiro
O Brasil é o maior exportador mundial de suco de laranja, respondendo por cerca de 70% do comércio global. Historicamente, os Estados Unidos e a União Europeia são os principais compradores.
Pela primeira vez em vários anos, o volume exportado para os dois blocos ficou igualado, com 48% de participação cada um. Esse equilíbrio reflete tanto a dependência norte-americana do suco brasileiro, quanto o enfraquecimento da demanda europeia, resultado dos altos preços de 2024 e das incertezas econômicas regionais.
Mesmo assim, o Brasil mantém vantagem competitiva, sustentada pela eficiência logística, pela capacidade industrial e pela qualidade do produto.
Greening e calor extremo agravam os desafios
Apesar do avanço na produção, o setor citrícola continua enfrentando ameaças estruturais, entre elas o greening, doença bacteriana que afeta a saúde das plantas e reduz o potencial produtivo.
O greening é transmitido por um inseto vetor, o psilídeo, e está concentrado principalmente nas regiões de Limeira, Avaré e Bebedouro — áreas onde o Fundecitrus detecta as maiores populações do inseto.
Além disso, o calor intenso registrado em 2024 e 2025 agravou o estresse hídrico e aumentou a queda prematura de frutos, elevando os custos de manejo. Esses fatores dificultam a recuperação completa da produtividade, mesmo em meio à melhora da demanda industrial.
Perspectivas para o setor de laranja em 2026
As perspectivas para o preço da laranja e para o setor de citricultura em 2026 são de ajuste gradual, com maior equilíbrio entre oferta e demanda.
O mercado tende a se estabilizar com a redução dos estoques de suco, o que pode sustentar preços próximos de R$ 47 por caixa até o primeiro trimestre de 2026. No entanto, a performance dependerá de três variáveis principais:
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Acordos comerciais com os Estados Unidos e a Europa;
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Controle do greening nas principais regiões produtoras;
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Cenário climático favorável.
Segundo o Cepea, a continuidade de investimentos em tecnologia agrícola e a busca por novos mercados, especialmente na Ásia, serão cruciais para manter a rentabilidade da citricultura brasileira.
Setor entra em fase de reestruturação
O cenário atual reforça a necessidade de reestruturação estratégica do setor citrícola. Com a volatilidade dos preços e a concentração das exportações em poucos mercados, produtores e indústrias buscam diversificar os canais de venda e agregar valor ao produto.
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A expansão de linhas de sucos naturais prontos para consumo;
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O aumento das exportações de derivados com apelo sustentável;
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E a adoção de práticas ESG (ambientais, sociais e de governança), que têm se tornado exigência crescente de importadores internacionais.
O objetivo é reduzir a dependência de tarifas e ampliar a margem de lucro com produtos de maior valor agregado.
Queda de preços e desafios para o futuro
A queda no preço da laranja em novembro sinaliza o início de uma nova fase para a citricultura brasileira — marcada por desafios estruturais e necessidade de adaptação.
Apesar da redução nas cotações, o Brasil segue líder mundial na exportação de suco de laranja, com forte presença no mercado internacional e capacidade de resposta rápida às oscilações globais.
O setor entra em 2026 com foco em competitividade, inovação e sustentabilidade, buscando manter a relevância do país na cadeia global de alimentos e bebidas.

















