Para alguns dos líderes do Centrão, a intervenção do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), no acordo que desobstruiu o plenário, na quarta-feira (6/8), foi considerada “desnecessária”. Parlamentares ouvidos pelo Metrópoles avaliam que o gesto foi “malvisto” e que o acordo com a oposição, responsável pela paralisação, não foi previamente comunicado ao atual presidente, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A relação entre Motta e Lira, que pavimentou a eleição do sucessor à presidência da Câmara, teria ficado estremecida, após os últimos acontecimentos. O ex-presidente saiu fortalecido, demonstrou mais uma vez seu poder de articulação e deixou o atual comandante da Casa enfraquecido politicamente.
Na quarta, apesar da convocação de sessão feita por Motta e da ameaça de suspensão dos deputados que participavam do bloqueio da Mesa Diretora, a oposição manteve a ocupação, em protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O ato, iniciado um dia antes, na terça (5/8), durou mais de 40 horas.
Em meio ao impasse que se instalava na Casa, uma movimentação nos bastidores chamou a atenção: o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do Partido Liberal (PL) na Câmara e um dos principais articuladores do grupo bolsonarista, decidiu buscar diretamente Arthur Lira. O gesto foi acompanhado por líderes do Centrão aliados ao ex-presidente da Casa, como Dr. Luizinho (PP-RJ).
Negociação
Após extensas negociações, Motta conseguiu marcar simbolicamente o fim da ocupação bolsonarista, sentou-se em sua cadeira, abriu a sessão, apesar dos gritos e protestos, e proferiu um discurso em defesa da institucionalidade, pedindo que o plenário fosse liberado para o funcionamento regular.
A sessão foi oficialmente aberta sem pautas de votação, mas marcou a desmobilização do ato dos parlamentares que obstruíam a Mesa Diretora.
Reduzido o clima de tensão, Motta enfrenta, agora, um desafio interno: sem qualquer sinalização de Lira sobre a pauta da anistia e do fim do foro privilegiado, o presidente da Câmara se vê sob pressão para conduzir os trabalhos diante da crescente expectativa dos parlamentares envolvidos na obstrução.
Reivindicações
A pauta da obstrução girava em torno do chamado “pacote da paz”, idealizado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). As exigências incluíam a anistia aos condenados pelos atos de 8 de Janeiro, o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que encerra o foro privilegiado para parlamentares.
A Mesa Diretora reagiu: Hugo Motta (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado) se reuniram com lideranças para buscar uma solução. Alcolumbre chegou a convocar uma sessão online, evitando enfrentar os parlamentares no plenário, enquanto Motta ameaçou suspender por seis meses qualquer deputado que insistisse na paralisação.
Em entrevista à coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, nesta quinta-feira (7/8), o presidente da Câmara disse que a possibilidade de punição aos deputados está sob avaliação:
“Existem pedidos de lideranças para punir este ou aquele deputado. Estamos avaliando. É uma decisão conjunta da Mesa. Mas está, sim, em avaliação a possibilidade de punição a alguns parlamentares que ontem [quarta-feira (6/8)] se excederam, digamos assim, do ponto de vista a dificultar o reinício dos trabalhos”, declarou.