Silvana Ribas
O mês de junho foi sombrio em Mato Grosso em relação à violência máxima imposta às mulheres, com o registro de 10 casos de feminicídio. O número representa 34,4% do percentual destes crimes do ano, que somam 27 mortes, total 42% maior que no ano passado que, até o último dia de junho, somava 19 assassinatos de mulheres. Mas a ação de feminicidas domésticos ou comunitários não deve parar por aí e o ciclo de violência vai continuar, alerta a médica legista Alessandra Carvalho Mariano, Diretora Metropolitana de Medicina Legal em Cuiabá.
Isso porque, estes criminosos estão inseridos na mesma base da pirâmide social que naturaliza a violência contra as mulheres por meio de gestos, músicas, conceitos misóginos, entre outros, desde a infância, na educação dos lares mato-grossenses. Só mudando essa educação que os crimes de feminicídio vão reduzir, alerta a diretora.
A médica assegura que existem estudos que identificam os perfis destes criminosos: homens que mutilam os corpos de suas presas, usando de extrema violência. Mulheres que têm parte de seus órgãos cortados e levados como “troféus” por feminicidas que hoje vivem na sociedade e estão prontos a agir a qualquer momento, em bares, nas avenidas das cidades e, principalmente, dentro dos lares. Apesar da diferença de perfil dos assassinos, os crimes são praticados com o mesmo requinte de violência ao destruírem os corpos das mulheres.
Mas Alessandra assegura que existe como evitar muitas dessas mortes, pois os feminicidas dão pistas claras de que estão diante de uma vítima em potencial. Mas muitas mulheres ignoram estes sinais e acabam mortas. Quanto aos feminicidas comunitários são aqueles que não têm vínculo emocional com a vítima. Eles podem escolher ela em via pública, em um ponto de ônibus ou durante um encontro casual em um bar, ou na balada. Agem de dois modos na abordagem: ou com extrema violência, ou através da sedução.
No primeiro caso, Alessandra alerta para os riscos graves e reais impostos a adolescentes e crianças que transitam sem a companhia de pais ou responsáveis ao deixarem escolas, cursos. “Crianças ou adolescentes sozinhos estão expostos a esse tipo de criminoso e o responsável pode responder pelo crime de abandono de incapaz”. A diretora lembra que enquanto a criança está na escola, está sob responsabilidade da direção. Mas quando deixa a unidade, a responsabilidade é toda da família.