O ex-secretário de Segurança Pública, Defesa Civil e Trânsito de Itaguaí (RJ) Roberto Lúcio Guimarães teria cogitado “plantar” cocaína no carro do prefeito da cidade, Doutor Rubão (Podemos), para culpá-lo em meio a uma disputa pelo comando do Executivo municipal.
Em áudio o ex-secretário, conhecido como Robertinho, fala sobre o assunto com o presidente da Câmara de Vereadores e ex-prefeito interino, Haroldo Jesus (PDT), o Haroldinho.
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A permanência de Rubão na Prefeitura de Itaguaí depende de um julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que decidirá se ele poderá ocupar o cargo por mais quatro anos ou se esse configura o terceiro mandato seguido, que é vetado por lei. O político tomou posse em 18 de junho de 2025, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Antes, quem esteve na função, de forma interina, por seis meses, foi Haroldinho.
O áudio teria sido gravado pouco após a posse de Rubão, em 2 de julho de 2025. Um dia depois, a Câmara de Vereadores aprovou a instalação de uma Comissão Especial Processante (CEP) e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o prefeito Rubão. A gravação mostra uma conversa de Haroldinho com Robertinho, o ex-secretário, e com outros aliados.
No diálogo, Haroldinho combina com Robertinho como será a votação. Ele também fala da urgência de encerrar o caso antes do julgamento do TSE. “Se cai a chapa antes da votação [marcada para agosto], o processo perde o objeto. Tem que cassar ele antes de sair o resultado (…)”, afirma Haroldinho. Robertinho responde: “Aí tá morto duas vezes” e Haroldinho concorda: “É, tem que matar ele”.
Ouça:
Em outro trecho do áudio, Robertinho fala em voltar para a pasta da segurança e armar flagrante para “foder a vida” de Rubão: “Quando eu voltar para secretário (…), vou armar um bote pra ele [Rubão], porra, enfiar cocaína no carro dele. Foder a vida dele”.
Escute:
Os nomes citados no áudio são dos vereadores Adilson Pimpo (PP), Fabinho Taciano (PP), Agenor Teixeira (Solidariedade), Nando Rodrigues (PDT) e Valter de Almeida (PSD), ex-vereador e atual secretário de Ordem Pública e Limpeza Urbana.
Robertinho era vereador antes de assumir o cargo de secretário de Segurança de Itaguaí. Ele foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) por contratar uma funcionária fantasma na Câmara. Segundo investigações, a suposta assessora do gabinete prestava, na verdade, serviços de empregada doméstica na residência do vereador. Ela recebeu um total de R$ 62 mil.
Na época, o MPRJ requereu à Justiça a condenação de Robertinho por peculato e solicitou a devolução dos recursos desviados aos cofres públicos. Em junho de 2024, um acordo de não persecução penal foi firmado pelo ex-vereador, que admitiu o crime. Com a negociação, Robertinho teve que devolver R$ 20 mil ao município e prestar serviços à comunidade durante 14 meses.
Robertinho é casado com Rachel Secundo (Podemos), a única mulher entre os 11 vereadores da Câmara de Itaguaí.
Processo eleitoral
Rubão assumiu a prefeitura de Itaguaí pela primeira vez em julho de 2020, em razão do impeachment do prefeito Carlo Busatto Júnior e de seu vice, Abeilard Goulart. Rubão era vereador e presidia a Câmara municipal à época. O político se candidatou à Prefeitura Municipal em 2020 e em 2024, sendo eleito e reeleito nas disputas.
Porém, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) impediu o registro da candidatura nas eleições mais recentes. Com isso, em janeiro deste ano, Haroldinho assumiu a prefeitura no lugar de Rubão. O prefeito recorreu ao TSE, mas ainda aguarda julgamento, que está marcado para agosto.
No dia 16 de junho, o ministro do STF Dias Toffoli determinou que Rubão poderia assumir o cargo provisoriamente até que o TSE julgue o caso. Assim, ele retornou à Prefeitura de Itaguaí e Haroldinho voltou a ocupar a presidência da Câmara de Vereadores.
Semanas após Rubão reassumir a prefeitura de Itaguaí, a Câmara de Vereadores instaurou uma Comissão Especial Processante (CEP) e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que pode levar à cassação do mandato do prefeito.
O objetivo da CEP é investigar denúncia de uma ex-funcionária da prefeitura que aponta suposto desvio de R$ 60 milhões em contratos de limpeza urbana. Já a CPI surgiu de uma denúncia de Haroldinho e deve apurar suspeitas de irregularidades em um contrato emergencial de R$ 22 milhões com uma organização social responsável pela gestão da UPA de Itaguaí.
Outro lado
Procurado pela coluna, Haroldo de Jesus informou que não reconhece a existência das gravações. “Desconheço as demais falas atribuídas a mim e sequer as considero reais. Reforço que, independentemente de supostas gravações, jamais concordei ou concordarei com qualquer prática ilícita, e repudio de forma veemente tal possibilidade”, disse.
“Reafirmo meu compromisso com uma atuação política pautada na legalidade e na ética, como tenho feito ao longo de toda a minha trajetória pública”, completou Haroldinho.
Roberto Lúcio foi procurado e não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
O prefeito de Itaguaí, Rubão, também não comentou os áudios até a publicação deste texto.