Investigações demonstraram que os militares Jackson Pereira Barbosa e Ícaro Nathan Santos Ferreira, apontados como o intermediário principal e o fornecedor da arma e repasse de pagamento para execução de Renato Gomes Nery, teriam articulado a morte do advogado de dentro do próprio Batalhão da Rotam e inclusive na presença de testemunhas. Após o crime, tentaram esconder celular para ocultar provas e até vender uma Hilux para justificar movimentações financeiras suspeitas.
Conforme a denúncia apresentada pelo Ministério Público (MPMT), após o crime que vitimou o advogado Renato Nery, a dupla teria promovido ativamente esquema de fraude processual e ocultação de provas. Ícaro teria adotado comportamento considerado “claramente evasivo” durante sua prisão temporária, escondendo seu celular em uma bolsa que estava com seu pai durante procedimento médico em clínica.
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Segundo as investigações, Ícaro teria chegado à clínica sem carteira e sem celular, alegando não ter nada, mas imagens de segurança comprovaram que colocou o aparelho na bolsa do pai, sendo posteriormente recuperado um iPhone diferente do que estava usando inicialmente. Para o MP, a conduta evidenciou uma “intenção deliberada” de ocultar provas eletrônicas que pudessem incriminá-lo.
Já Jackson, na tentativa de justificar movimentações financeiras suspeitas, colocou uma caminhonete Hilux à venda na garagem de um amigo como se fosse para venda e enviar o dinheiro aos mandantes, conforme relatado por Heron em interrogatório.
Consta também que Jackson encaminhou mensagens de visualização única com foto escura com um ponto de interrogação para pressionar o cumprimento do serviço, evidenciando seu controle sobre a operação criminosa.
Além disso, 10 dias após o assassinato de Nery, Ícaro cobrou pessoalmente a devolução da arma de Heron, em uma conversa presenciada por testemunhas no Batalhão da ROTAM, dizendo: "ó cara preciso que cê desenrola pra me devolver a situação lá", referindo-se à pistola como "bomba de tereré".
As investigações ainda revelaram que Jackson realizou contatos via WhatsApp e ligações de vídeo com advogados de defesa de Heron entre os dias 4 e 10 de abril deste ano, demonstrando monitoramento ativo das investigações em curso. Os contatos ocorreram antes mesmo das buscas e apreensões deflagradas contra Jackson, o que, na visão do MP, evidenciou “articulação prévia para obstruir as investigações”.
Advogado constituído na defesa de Heron desde 24 de março deste ano, teria mantido contato com Jackson nos dias que antecederam as buscas domiciliares, corroborando a versão de que advogados o procuraram para tentar resolver a "questão financeira" de Heron, a fim de garantir seu silêncio.
Arma que vitimou Nery
As investigações revelaram que Jackson atuou como intermediário principal entre os mandantes e o núcleo executor do crime. Conforme depoimentos, ele apresentou o "serviço" a Heron Teixeira Pena Vieira como sendo uma encomenda de seu "sogro", oferecendo o valor de R$ 200 mil pelo assassinato do advogado. Foi também ele quem repassou as informações do endereço do escritório da vítima.
Durante encontros realizados em Primavera do Leste, atuou na coordenação dos detalhes da operação criminosa, utilizando-se, para os deslocamentos, de veículos Toyota Hilux SW4, de cor branca, e Mercedes-Benz.
Ícaro foi responsável por fornecer a pistola Glock, modelo G17, calibre 9mm, equipada com adaptador de automação para disparos em rajada, utilizada no homicídio. Ela foi entregue a Heron nas dependências do próprio batalhão.
Após a execução do crime, Jackson realizou pagamentos parciais através de Ícaro, que serviu como intermediário para o repasse de envelope contendo aproximadamente R$ 40 mil a R$ 50 mil em notas de R$ 200 e R$ 100 a Heron, no bairro Chapéu do Sol, em Várzea Grande.
Posteriormente eles ainda participaram de esquema para ocultar a origem da arma utilizada no homicídio. A pistola foi inserida em confronto policial forjado ocorrido em 12 de julho de 2024, poucos dias após a execução de Renato, o que na visão do MP demonstrou intenção de dificultar as investigações. Além disso, todas as munições pertenciam à Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, especificamente ao Batalhão ROTAM, unidade que serviam.
Para o MP, Jackson e Ícaro se aproveitaram das posições como militares para além do crime, obstruir as investigações em diversos momentos, além de usar o aparato do Estado nas empreitadas criminosas.
“Conforme apurado nas investigações, os denunciados Jackson Pereira Barbosa e Ícaro Nathan Santos Ferreira concorreram ativamente para o crime de abuso de autoridade praticado por policiais militares em serviço. Com o claro objetivo de manipular a investigação criminal, utilizaram-se do aparato estatal e da condição de agentes da segurança pública para criar uma narrativa falsa que desviasse o curso das investigações e responsabilizasse criminalmente terceiros inocentes pelos feitos da organização”, cita.