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NOTÍCIAS Segunda-feira, 01 de Julho de 2019, 07:00 - A | A

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REVISTA O DIÁRIO

O primeiro patrimônio histórico de Primavera do Leste

Trata-se do túmulo de Joana Cândido de Mello, popularmente conhecida como “Velha Joana”

Jaqueline Hatamoto

A cidade que é conhecida no estado e no Brasil, devido a sua organização e planejamento estratégico e que neste ano completou 33 anos, teve o primeiro patrimônio histórico reconhecido em 2018. Trata-se do túmulo de Joana Cândido de Mello, popularmente conhecida como “Velha Joana”, a primeira moradora de Primavera do Leste que viveu aqui de 1930 a 1950.

Os relatos mais antigos contam que Velha Joana viveu sozinha em um pequeno casebre próximo a um córrego que mais tarde passou a ser chamado de “Córrego Velha Joana”.  O local onde se encontra o túmulo da antiga moradora se tornou uma praça. O túmulo da pioneira foi cercado de paus de aroeira e recentemente foi recuperado e reconhecido como primeiro patrimônio histórico de Primavera do Leste.

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O resgate da história de Velha Joana foi feito por Eraldo Fortes, em um documento fornecido pelo Conselho Municipal de Turismos, o ex-coordenador da pasta e ex-secretário de Assistência Social relata como conseguiu levantar as informações sobre esta importante personagem da história de Primavera do Leste.

Fortes conta que “em meados de 2008, enquanto era implantado o Instituto Memória da Câmara Municipal, centenas de pioneiros foram entrevistados e indagados sobre a vinda para o Estado de Mato Grosso. Homens e mulheres das mais diferentes partes do país deram o testemunho, relataram as aventuras, sonhos, desejos de conquistar essa terra e aqui construir famílias.

Dentre tantas histórias de dificuldades e superação surge uma história envolta em mistérios e fantasias de uma senhora chamada Joana, que teria habitado às margens de um córrego e que mais tarde veio a ser sepultada também nessa região, e a sepultura fora cercada de paus de aroeira na imensidão do cerrado selvagem.

A existência da Velha Joana sempre intrigou quem aqui chegou fazendo parte do imaginário popular, sempre existiram perguntas como: Será que ela existiu? Joana tinha família? Como vivia Velha Joana? Como morreu? Muitas histórias eram contadas, mas nada se compara a sepultura rústica e imponente para afirmar que aqui viveu uma pessoa.

“Ainda em 2008, levado pela curiosidade e o desejo de descobrir algo de concreto sobre essa misteriosa senhora, estive em Poxoréu e por acaso cheguei na casa da professora Adenildes, que foi uma das primeiras educadoras do então distrito de Primavera do Leste, em 1985. Na casa de Adenildes encontrei a mãe dela, chamada de Edite, costureira e que naquele momento convalescia de uma cirurgia e pouco pôde falar, mas esse pouco foi bastante, essa senhora nada mais era do que a neta da Velha Joana”, relata Eraldo.

Passaram-se 10 anos desse encontro, e, de lá para cá, a história novamente foi esquecida, “mas tinha algo que me inquietava e preocupava que era a preservação do túmulo da Velha Joana, que aos poucos vinha sendo destruído por ação de vândalos, pelo fogo, pela ação do tempo ou pela própria omissão de nossos governantes, de tempos em tempos passava e observava, os palanques sendo destruídos, arrancados, mas a cruz se mantinha firme, robusta, forte e intacta”, relembrou.

Quando em 2018, a Coordenação de Turismo foi criada e Eraldo nomeado à pasta, ele tomou providências e o primeiro ponto turístico a ser catalogado foi a sepultura da Velha Joana. “A partir daí fui em busca de informações de nossa desconhecida moradora. Retornei à casa de dona Edite em Poxoréu e a encontrei forte e com muita lucidez e aos poucos comecei a juntar fragmentos da nossa história, pois, Edite foi casada com um dos 15 netos de Velha Joana, Sr. Bemjamin Francisco de Sousa. Das longas conversas apurei que Velha Joana veio do Estado de Goiás, da cidade de Caiapônia e teve um casal de filhos, José Leôncio, que foi assassinado em Goiás e Ana Verginia de Souza, conhecida como Anita que veio a se casar com Benedito José de Souza e dessa união tiveram quinze filhos. A família viveu na Fazenda Invernadinha, no interior de Poxoréu e a subsistência da família vinha basicamente do garimpo de diamantes, plantação de bananas, café, feijão e criação de gado”.

Fortes descobriu ainda que na época em “Velha Joana” habitou a área onde no futuro seria instalada Primavera do Leste, não existiam estradas e os caminhos eram trilhas no meio do cerrado, o cavalo e a carroça eram os únicos meios de transporte. Nas pescarias, Joana armava a rede no alto das árvores para se proteger do ataque de onças e outros animais selvagens e costumava andar armada e se tratava de uma eximia atiradora. 

“As viagens de Joana eram feitas a cavalo ou carros de boi, não haviam estradas e a localização mais precisa era a linha do telégrafo que cortava o Mato Grosso rumo ao Estado de Goiás, geralmente partia até o povoado de Capim Branco, onde havia uma Estação Telegráfica e algumas casas onde eram adquiridos produtos de primeira necessidade, eram viagens longas, solitárias e com muitos perigos”, relatou Fortes.

Entre as histórias que ouviu sobre “Velha Joana”, que mais deixou o ex-coordenador de Turismo surpreso, foi de como a moradora solitária morreu. “José Sobrinho conta que a mesma sabia e avisou o dia exato da sua morte, e que nesse dia permaneceu em seu leito e ao ser indagada pela filha o motivo de estar na cama até mais tarde, respondeu com uma pergunta: Você esqueceu que dia é hoje? Hoje é o dia que eu vou morrer, no final da tarde Joana foi enterrada e sua sepultura cercada de paus de aroeira”. 

“A Praça construída em homenagem à Velha Joana  simboliza a força e a determinação de todos os pioneiros e desbravadores que enfrentaram grandes desafios para tornar essa grande região numa das mais férteis e promissoras desse País”, destacou Fortes. A praça que homenageia a pioneira foi restaurada pela família Gasparotto, pioneira na plantação de arroz no município.

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