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Citricultura

Por que não temos bergamota o ano todo?

Saiba como funciona a safra e a entressafra da fruta no Brasil

Administração

 

 
Agrolink - Aline Merladete
 
Foto: Pixabay

A bergamota, também conhecida como tangerina ou mexerica em diferentes regiões do Brasil, é uma fruta tipicamente sazonal. Segundo o pesquisador Roberto Pedroso de Oliveira, da Embrapa Clima Temperado, a safra brasileira se estende de março a outubro, com picos de produção em junho e julho. Fora desse período, a oferta é escassa, impactando o consumo e os preços.

A ausência da fruta no mercado ao longo de todo o ano não é uma questão exclusivamente climática, mas também fisiológica. "Para uma planta cítrica produzir, ela precisa formar reservas energéticas, florescer, fixar os frutos e desenvolver a maturação. Esse ciclo leva de 10 a 16 meses, dependendo da variedade", explica o pesquisador.

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A citricultura brasileira é sustentada por uma ampla diversidade genética, que inclui não apenas as tangerinas, mas também laranjas, limões, limas ácidas, pomelos e vários híbridos. Essa variedade permite ajustar o cultivo conforme o clima e as demandas do mercado. "No Brasil, a base da citricultura é a laranja. Já na China, por exemplo, o foco são as tangerinas e os kumquats", compara Oliveira.

Entre as principais cultivares de laranja estão a pera, valência, navelina e a caracara, de polpa vermelha. No campo das tangerinas, o destaque vai para grupos como as satsumas (Okitsu), as comuns (Ponkan, mexerica do Rio) e os híbridos (Murcote, Nadorcott, Decopom). Essa diversidade é essencial para prolongar a oferta de frutas cítricas ao longo do ano.

Variedades precoces, de meia estação e tardias ajudam a estender a oferta

O Brasil cultiva variedades de bergamota com diferentes janelas de colheita e para uma oferta mais ampla a opção é a diversificação de cultivares.

- Precoces: como a Okitsu (grupo Satsuma), com colheita entre março e maio;

- Meia estação: como a Ponkan, mais consumida no país, com safra entre junho e julho;

- Tardias: como a Murcote, colhida entre agosto e outubro, e a Montenegrina, comum no Sul.

As diferenças permitem o cultivo escalonado, dentro de uma mesma região ou propriedade. "Isso otimiza o uso da infraestrutura, distribui a demanda por mão de obra e garante renda por mais meses ao produtor", destaca Oliveira.

PESQUISA

Programas de melhoramento genético buscam cultivares ainda mais precoces ou tardias. Iniciativas no Brasil, como as conduzidas pela Embrapa e pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), utilizam hibridação controlada e seleção de mutações em campo para desenvolver novas variedades adaptadas a diferentes climas e demandas de mercado. "Estamos alinhados a centros internacionais como os dos Estados Unidos, Espanha, Itália, Austrália e Japão", afirma. 

Mesmo com variedades tardias, a conservação prolongada é limitada. A perda de sabor, textura e valor nutricional é inevitável com o tempo. "A depender da variedade e das condições, a fruta pode ser conservada por 4 a 10 dias em temperatura ambiente, 1 a 3 semanas em geladeira, ou até 90 dias em câmaras frias com controle de umidade", detalha o pesquisador.

Cultivares de casca aderida, como a Murcote, têm maior durabilidade. Para extensão da vida útil, processos de lavagem, seleção, cerificação e tratamento fúngico são fundamentais.

Entressafra: impacto no mercado e soluções de importação

Durante os meses de entressafra (novembro a fevereiro), o preço da bergamota pode triplicar em relação aos meses de pico da safra. "Para suprir a demanda, o Brasil importa tangerinas da Espanha nesse período", afirma Oliveira. Em paralelo, produtores buscam ampliar o cultivo de variedades precoces e tardias para aproveitar os preços mais altos.

A localização geográfica também influencia a janela de colheita. Em regiões mais quentes, como o norte do Paraná, a colheita pode ser antecipada em até 20 dias. Já em áreas frias, como o Rio Grande do Sul, o ciclo tende a atrasar. "A Ponkan, por exemplo, é colhida com diferença de quase um mês entre os dois estados", compara o pesquisador.

Mudanças climáticas 

Eventos extremos como estiagens prolongadas, geadas e enchentes estão se tornando mais frequentes e afetam todas as fases do ciclo da bergamoteira. A variabilidade climática compromete desde a floração até a maturação dos frutos. "A citricultura não está imune aos efeitos das mudanças climáticas", alerta o pesquisador. 

A entressafra também pode ser oportunidade para pequenos produtores e agroindústrias. A polpa congelada permite aproveitamento integral da fruta, enquanto a casca pode ser usada na extração de óleos essenciais, com demanda nos mercados alimentício, cosmético e farmacêutico.

"A mexerica de cheiro, por exemplo, é rica em óleos essenciais valorizados no exterior. Já o bagaço pode servir de insumo para energia ou ração animal", exemplifica o pesquisador da Embrapa.

Roberto Pedroso ainda destaca que, com planejamento, investimento em variedades e tecnologias de conservação, é possível ampliar o acesso à bergamota no mercado nacional e, quem sabe, transformar o Brasil também em exportador regular da fruta nos próximos anos.

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