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Notícias do Agro Terça-feira, 19 de Agosto de 2025, 14:07 - A | A

Terça-feira, 19 de Agosto de 2025, 14h:07 - A | A

Produtores inadimplentes devem auentar

Agronegócio tem dívida recorde e inadimplência deve crescer ainda mais

Novas normas do Banco Central restringem renegociação de dívidas e aumenta o número de produtores inadimplentes nos próximos meses

 

As renegociações constantes das dívidas, as novas formas de financiamento via mercado de capitais e, mais recentemente, o “tarifaço” imposto pelo governo dos EUA aos produtos agropecuários exportados pelo Brasil encobriram – ou pelo menos embaçaram - o aumento acentuado do endividamento e da inadimplência dos produtores rurais e das empresas do agro no país.

Diante disso, o Banco Central implementou novas orientações no final do primeiro semestre, ampliando exigências para renegociação das dívidas rurais, o que deve dificultar renegociações, elevando o número de produtores e empresas para a inadimplência. 

Foram introduzidas mudanças no Manual de Crédito Rural, o MCR. Para renegociação de dívidas, as instituições financeiras devem agora comprovar se o devedor tem um problema de caixa momentânea e tem condições de pagar a dívida ao longo do tempo.

“É uma alteração na avaliação de risco. A instituição financeira analisará aquilo que o mutuário poderá enfrentar mais à frente, subjetivamente, como aumento de tarifas, custos de transporte, guerras, eventos climáticos, preços das commodities”, alerta Ademiro Vian, economista e professor da FGV, especialista em crédito rural.

Renegociação já exige do devedor comprovar dificuldade na comercialização, ou de frustração de safras e de ocorrências prejudiciais ao desenvolvimento das explorações. Ou ainda, comprovar que houve perdas causadas por fatores climáticos que levaram a aumento de dívidas anteriores e impediram pagamento de dívida junto ao Sistema Nacional de Crédito Rural. Mas não para nisso.

Bem mais restrita, o MCR indica que “a renegociação fica condicionada, ainda, a que a instituição financeira analise o conjunto das atividades e a capacidade econômica do mutuário, incluindo bens de sua propriedade que possam ser comercializados ou recursos financeiros oriundos de outras atividades que possam ser utilizados para pagamento das dívidas a serem prorrogadas, inclusive para a quitação das parcelas vincendas ao longo do prazo concedido para a renegociação”, como consta da resolução 5.229, do Conselho Monetário Nacional. 

“A análise envolverá outras atividades do mutuário, como operações de barter, CPRs, títulos no mercado de capitais, compromissos com bancos, cooperativas, tradings e distribuidores de insumos...”, diz Vian.

“Seguindo as regras, obter prorrogações de prazo e outras facilidades ficará mais difícil e o índice de inadimplentes crescerá, limitando o crédito para operações futuras”, explica.

 

Atrasos do agro prejudicam lucro de banco

Maior financiador do agronegócio do país – desembolsou cerca de R$ 100 bilhões ao setor em 2024 –, o Banco do Brasil apontou na semana passada que setor deixou de recolher R$ 12,73 bilhões, considerando atrasos superiores a três meses, o que reduziu o lucro do banco no segundo trimestre.

“É o maior nível de inadimplência já visto no agro na história do Banco do Brasil”, disse Tarciana Medeiros, presidente da instituição.

Com mais de R$ 404 bilhões em carteira no agro, o BB viu o índice de inadimplência crescer rapidamente de 2023 para cá. De menos de 1% em 2023, a inadimplência saltou para quase 2,5% em 2024 e já se aproxima de 4%, metade nas regiões Centro-Oeste e no Sul, concentrada em produtores de milho, sojicultores e pecuaristas.

Banqueiros em alerta

O banco Santander admite que a inadimplência tende a crescer nos próximos meses. Com mais de R$ 22 bilhões concedidos ao setor, desde o início deste ano, a instituição tem emitido alertas.

Durante conversa com jornalistas em maio, na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), o diretor de agro do banco, Carlos Aguiar, ressaltava que com juros na casa dos 20% ao ano e preços das commodities em queda, o produtor rural teria dificuldade para liquidar as dívidas.

Pouco mais de 60 dias depois, durante o Congresso da Andav, a associação nacional dos distribuidores e revendas, em São Paulo, Aguiar foi incisivo: “o produtor precisa desalavancar”. Ou seja, vender alguns ativos, sejam imóveis e outros bens, para sair desse endividamento.

Até o final de 2023, o agronegócio brasileiro desfrutou de demanda crescente, preços em alta e custos relativamente bons. Produtores e empresas do setor agro avançaram nos investimentos e demandaram crédito.

“Houve exagero em muitos casos. Compras de terras e troca de máquinas às vezes desnecessárias. Produtores foram atrás de recursos no mercado de capitais e, de certo modo, sem preparo”, lembra Ademiro Vian, que também é produtor rural.

Para ele, que nos últimos 30 anos acompanha a evolução do crédito rural, é aconselhável mesmo desfazer do que é possível e pagar as contas, pois com os juros atuais, a rentabilidade do agro não remunera o custo do recurso obtido no mercado.

No Itaú, banco que tem cerca de R$ 130 bilhões no setor, a diretoria não admite alta acentuada de inadimplência e argumenta que a carteira é “equilibrada, com boas garantias”, como informou a jornalistas.

A direção do Bradesco, com quase R$ 80 bilhões nesse segmento, também argumenta que os atrasos nos pagamentos das linhas concedidas ao agro estão sob rigoroso controle.

Para dirigentes do Itaú e do Bradesco, após esse período difícil – já passou por outros - o setor retomará sua lucratividade e pujança. Mas é bom não esquecer que, desta vez, o governo federal dispõe de poucos recursos.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Qual é a situação atual do endividamento no agronegócio brasileiro?

O agronegócio brasileiro enfrenta um nível recorde de endividamento e inadimplência, com a situação se agravando devido a novas normas do Banco Central que dificultam a renegociação de dívidas. O Banco do Brasil, maior financiador do setor, reportou que o agronegócio deixou de recolher R$ 12,73 bilhões em dívidas com atrasos superiores a três meses, o que impactou seu lucro.

Quais mudanças foram implementadas pelo Banco Central?

O Banco Central introduziu novas orientações que aumentam as exigências para a renegociação de dívidas rurais. As instituições financeiras agora precisam comprovar que o devedor enfrenta problemas momentâneos de caixa e que tem condições de pagar a dívida ao longo do tempo. Além disso, a análise deve considerar a capacidade econômica do mutuário e suas atividades financeiras.

Como a inadimplência tem se comportado nos últimos anos?

A inadimplência no agronegócio cresceu de menos de 1% em 2023 para quase 2,5% em 2024, com previsão de chegar a 4%. Esse aumento é concentrado em regiões como o Centro-Oeste e o Sul, afetando principalmente produtores de milho, sojicultores e pecuaristas.

Quais são as perspectivas para o futuro do crédito no agronegócio?

Os bancos, como o Santander, alertam que a inadimplência deve continuar a crescer nos próximos meses, especialmente com a alta dos juros e a queda nos preços das commodities. Especialistas recomendam que os produtores considerem vender ativos para reduzir o endividamento.

O que os especialistas dizem sobre a gestão de dívidas no setor?

Ademiro Vian, economista e produtor rural, sugere que os produtores devem se desfazer de ativos desnecessários e focar em pagar suas dívidas, já que a rentabilidade atual do agronegócio não cobre os custos do crédito obtido no mercado.

Como os bancos estão reagindo a essa situação?

Bancos como Itaú e Bradesco afirmam que suas carteiras estão equilibradas e sob controle rigoroso, embora reconheçam a dificuldade atual. Eles acreditam que, após esse período desafiador, o setor poderá recuperar sua lucratividade.

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