O juiz Ivan Lúcio Amarante, da Comarca de Vila Rica (1.122 km de Cuiabá), teria usado parte da propina de R$ 750 mil reais recebida do advogado Roberto Zampieri para pagar pais de santo para o seu “desenvolvimento espiritual e religioso”. Um deles é o Pai Fernando César Parada, da Casa Nossa Senhora do Rosário, em São Paulo (SP). As informações foram fornecidas pelo ministro corregedor nacional Mauro Campbell durante a 2ª Sessão Extraordinária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 27 de maio.
Parada teria recebido R$ 250 mil reais, enquanto Marcionei Dias Ferreira, que seria pai de santo em Cuiabá, recebeu R$ 217 mil. Outras duas pessoas, Diego Cerqueira Oliveira e Aline Melo da Silva, receberam R$ 74.909 e R$ 235 mil, respectivamente.
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Além desses pagamentos, Ivan usou a propina para a aquisição de dois imóveis em Cuiabá, que não foram declarados no imposto de renda, além de joias de luxo, como R$ 107.900 em uma peça da grife de Cecília Maria de Araújo Borges e R$ 117 mil em peça da grife italiana Bulgari. Amarante também investiu R$ 95 mil em duas armas de fogo.
Em sua defesa, conforme o ministro, Ivan negou ter recebido vantagem indevida e afirmou que todas as conversas encontradas ou eram profissionais ou seriam para “venda de fumaça”, ou seja, terceiros usando indevidamente seu nome. No entanto, o ministro destacou que “a proximidade ‘promíscua’ entre o juiz Ivan e o advogado Zampieri era há muito tempo alardeada por terceiros”.
A descoberta do esquema de propina foi feita após o espelhamento do celular do advogado Roberto Zampieri, morto em dezembro de 2023. As mensagens trocadas entre o magistrado e o advogado revelaram uma relação de proximidade considerada “promíscua”, com indícios de corrupção, lavagem de dinheiro e omissão de patrimônio.
De acordo com o ministro, o juiz orientava e era orientado por Zampieri em diversas ações judiciais. Em várias ocasiões, o advogado indicava os pedidos que deveriam ou não ser acolhidos, além das teses jurídicas a serem adotadas. Em troca, Ivan teria recebido valores por meio de terceiros, entre eles a esposa e a ex-esposa.
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“O advogado, com preocupante frequência, pautava a conduta de Ivan, indicando os pedidos que deveriam ser ou não acolhidos e as teses jurídicas que poderiam ser por ele acampadas”, destacou.
Nas conversas entre os dois, Campbell esclareceu que o termo "organizar", frequentemente utilizado nas conversas entre o juiz e o advogado, era, conforme apurado, uma forma codificada de se referir a levantamentos em espécie destinados ao pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos.