Uma tentativa de entrega suspeita de R$ 10 mil em espécie na sede do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), em Cuiabá, desencadeou uma investigação que envolveu autoridades policiais, membros do Judiciário e revelou indícios de uso fraudulento da identidade do presidente do TJMT, o desembargador José Zuquim Nogueira. O caso aconteceu no dia 12 de agosto e veio à tona no dia seguinte, após a divulgação de um vídeo gravado por Zuquim, que relatou estar “estarrecido” com a situação.
Segundo o presidente do TJMT, um motorista de aplicativo chegou à guarita do fórum para entregar um envelope contendo o dinheiro. O entregador afirmou que a corrida havia sido solicitada por uma conta vinculada ao nome e à foto do próprio desembargador, e que a encomenda deveria ser entregue a ele. No entanto, ao chegar ao local, ninguém apareceu para receber o pacote. Diante da ausência do destinatário e de respostas evasivas por meio do aplicativo, o motorista se dirigiu a um policial militar que estava em serviço no TJMT e relatou a situação.
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O PM verificou o conteúdo do envelope, constatou a presença de cédulas de dinheiro e percebeu, ao consultar o celular do motorista, que a corrida havia sido feita em nome do presidente do tribunal. Ao saber da situação, Zuquim gravou o vídeo, que circulou em grupos de WhatsApp, no qual negou qualquer envolvimento com a entrega e manifestou perplexidade diante do uso de sua identidade.
As primeiras diligências da Coordenadoria Militar do TJMT apontaram que o dinheiro havia sido entregue ao motorista por um homem que conduzia um veículo Corolla prata, estacionado na área externa do fórum. A análise das imagens de câmeras de segurança identificou o responsável pela entrega como o sargento da Polícia Militar Eduardo Soares, que posteriormente se apresentou espontaneamente à corporação. Ele foi preso sob acusação de falsidade ideológica e associação criminosa.
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Já as investigações realizadas pela Polícia Civil com base em conversas interceptadas indicaram que a operação havia sido articulada supostamente a pedido de Jackson Pereira Barbosa, outro policial militar já preso por seu envolvimento na execução do advogado Renato Nery, em julho de 2024 em Cuiabá. As conversas mostram detalhes da negociação da entrega, incluindo instruções ao motorista de que, ao chegar ao fórum, bastaria informar que o envelope era destinado ao presidente do TJMT.
No aplicativo, a conta usada para solicitar a corrida exibia o nome e a foto de Zuquim, reforçando a tentativa de dar aparência de legitimidade à operação. Durante a interação com o motorista, a pessoa que se passava pelo desembargador chegou a solicitar seu número de telefone, mas o entregador recusou, alegando motivos de segurança.
No início de dezembro, o Superior Tribunal de Justiça negou mais um tentativa do policial militar Eduardo Soares de Moraes conseguir um habeas corpus. As investigações ainda não elucidaram os motivos da farsa.
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