Decisão do dia 26 de fevereiro, que decretou os mandados cumpridos na segunda fase da operação Sodoma, revela que o Ministério Público (MP) acusou o ex-secretário estadual Pedro Nadaf (Casa Civil e Indústria e Comércio) de tentar escapar da prisão que havia sido decretada contra ele em setembro de 2015, ainda na primeira fase da operação.
Segundo apontou o MP à juíza Selma Rosane dos Santos Arruda, da Sétima Vara Criminal da capital, Nadaf ficou sabendo previamente da operação que o prenderia e chegou a adquirir passagem para deixar o estado, evitando assim o cumprimento do mandado de prisão preventiva. Procurada, a defesa do ex-secretário explicou que, de fato, ele teve conhecimento prévio da operação, mas jamais tentou fugir da operação Sodoma.
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Nadaf também teve mandado de prisão preventiva expedido na segunda fase da operação. Ele se encontra preso no Centro de Custódia de Cuiabá (CCC) desde o dia 15 de setembro junto aos ex-secretários Marcel de Cursi (preso na primeira fase) e César Zílio (preso na segunda fase), o ex-governador Silval Barbosa (preso na primeira fase) e o ex-procurador do estado Francisco Lima (preso no dia 17 de fevereiro).
Investigações
De acordo com as investigações do MP, que vasculharam o disco rígido de um computador apreendido, foram adquiridas duas passagens aéreas com embarque marcado para as 18h54 do dia 15 de setembro (data em que a operação Sodoma foi deflagrada) com destino a São Paulo nos nomes de Karla Cintra, ex-assessora de Nadaf na presidência da Federação do Comércio de Mato Grosso (Fecomércio), e de Pedro Jamil Nadaf Filho.
De acordo com o MP, embora a segunda passagem estivesse em nome do filho do ex-secretário, o fato “demonstra a intenção da representada [Karla], em conluio com Pedro Nadaf, de se furtar à aplicação da lei penal e ainda obstar a instrução criminal, que apenas não se concretizou em razão da deflagração da operação Sodoma naquele dia”.
Além disso, o MP constatou a existência de uma passagem aérea somente de ida para o dia 16 de setembro com destino a Brasília em nome de Pedro Nadaf. No texto da decisão do dia 26 de fevereiro, a juíza da Sétima Vara Criminal registra que, embora o ex-secretário tenha esclarecido que tinha uma audiência judicial para comparecer em Brasília, “não ficou esclarecido o motivo pelo qual não houve aquisição de passagem de volta”.
A mesma decisão resgata diálogos “bastante reveladores” sobre a suposta intenção de Nadaf e do ex-secretário Marcel de Cursi de “se furtarem à aplicação da lei penal”. Conforme o relatório policial, os diálogos, devido ao conteúdo comprometedor, foram deletados pouco antes de a operação Sodoma ser executada, “o que indica a clara intenção de ocultar e de dificultar a descoberta da verdade”.
Outro lado
O advogado Alexandre Abreu, que defende Nadaf na operação Sodoma, explicou à reportagem que o próprio ex-secretário já esclareceu à Justiça em interrogatório que, de fato, teve conhecimento prévio da operação Sodoma. O advogado, entretanto, refutou as acusações do MP segundo as quais seu cliente tentou escapar da prisão.
Abreu declarou que o MP produziu uma “inversão extraordinária” ao atribuir a Nadaf uma tentativa de fuga com base na passagem aérea adquirida em nome de seu filho, Pedro Jamil Nadaf Filho, que estuda em São Paulo. O ex-secretário, esclareceu Abreu, de fato estava prestes a viajar à época da operação, mas a Brasília, com intuito de comparecer a uma audiência da Justiça do Trabalho. O advogado informou que a intimação da audiência e a passagem estão devidamente inseridos nos autos do processo criminal da operação Sodoma.
Em relação às mensagens no telefone celular, Abreu defendeu que o teor delas não incriminam seu cliente e que, mesmo que o fizesse, não haveria ilegalidade deletá-las, uma vez que ninguém é obrigado a produzir prova contra si. Por fim, a acusação da tentativa de fuga, segundo o advogado, consiste numa “nítida vontade de confundir, de querer atribuir a Nadaf situações que não correspondem à realidade”.
Nadaf atualmente aguarda o julgamento de três pedidos de Habeas Corpus referentes às acusações da primeira fase da operação Sodoma, no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), no Superior Tribunal de Justiça (STF) e no Supremo Tribunal Federal (STF).