A nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, anunciada por Donald Trump, deve causar um forte impacto na economia do Brasil, especialmente no setor do agronegócio. Apesar da apreensão entre produtores e exportadores, especialistas afirmam que a carne bovina brasileira pode se tornar ainda mais competitiva no mercado internacional e, em alguns cenários, até mais barata para o consumidor interno.
A medida, que entrou em vigor em 1º de agosto, coloca em xeque as relações comerciais entre Brasília e Washington e traz consequências diretas para um dos principais motores da balança comercial brasileira: o setor de carnes.
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O impacto imediato no comércio Brasil–EUA
Os Estados Unidos são o segundo maior importador da carne bovina brasileira, atrás apenas da China. Em 2024, os americanos compraram 229,8 mil toneladas, um aumento de 65,7% em relação a 2023, movimentando US$ 1,35 bilhão.
Entre janeiro e abril de 2025, as exportações somaram 135,8 mil toneladas, um salto de 161,2% frente ao mesmo período do ano anterior. No entanto, com o anúncio da tarifa, o fluxo começou a cair entre maio e junho, refletindo a incerteza do setor e as dificuldades de negociação com compradores americanos.
De acordo com analistas de mercado, o tarifaço imposto por Trump tem motivação política e econômica. A medida é uma tentativa de proteger a indústria bovina dos Estados Unidos, pressionada pelo aumento da competitividade da carne brasileira, mais magra e vendida a preços inferiores.
Carne bovina brasileira: competitividade global e efeito dominó
Mesmo diante das barreiras impostas por Washington, especialistas apontam que a carne bovina brasileira deve continuar competitiva no mercado internacional.
Isso porque países como Paraguai, Uruguai, Argentina e Austrália, potenciais substitutos do Brasil nas exportações para os EUA, praticam preços mais altos. A substituição da carne brasileira por produtos desses países pode encarecer a produção americana e abrir novas oportunidades para o Brasil em outros mercados.
Segundo analistas da Esalq/USP e da AgriFatto, essa diferença de preços pode gerar um realinhamento global das exportações de carne, com a carne brasileira ganhando espaço em regiões como Ásia, Oriente Médio e América Latina.
Além disso, a possível queda na cotação do boi gordo — usada como referência para o preço da carne — pode tornar o produto ainda mais competitivo no cenário global.
A China segue como principal cliente da carne bovina brasileira
Embora os Estados Unidos representem um mercado importante, o principal destino da carne bovina brasileira continua sendo a China.
Em 2024, o país asiático importou 1,33 milhão de toneladas, o equivalente a 46% das exportações brasileiras de carne, movimentando US$ 6 bilhões, segundo dados da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).
A China é o “grande player” do mercado mundial de carne, comprando volumes expressivos para abastecer seu consumo interno — especialmente de cortes dianteiros, usados em pratos tradicionais ensopados.
Dessa forma, analistas avaliam que a nova política tarifária dos EUA não representa um colapso para o setor, mas exige adaptação e diversificação de mercados.
Queda na cotação do boi gordo: efeito direto da tarifa
Com a imposição das tarifas americanas, há uma expectativa de queda na cotação do boi gordo, hoje avaliado em torno de R$ 299,70 por arroba (15 kg), segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
O movimento deve beneficiar frigoríficos exportadores, que podem aumentar suas margens de lucro com o custo mais baixo da matéria-prima.
Entretanto, para os pecuaristas, o cenário é menos favorável. A redução da arroba diminui a rentabilidade no campo, desestimulando o investimento na produção.
“Com menos exportações, o setor perde incentivo à produção, e o boi gordo tende a cair de preço, beneficiando os frigoríficos, mas penalizando os produtores”, resume um consultor de mercado agropecuário.
Se o preço do boi gordo cair de forma significativa, a carne bovina brasileira poderá ficar mais barata no mercado interno. Contudo, especialistas alertam que a redução de preços ao consumidor não é imediata, pois o varejo tende a manter as margens até o equilíbrio da oferta.
O consumidor brasileiro pode pagar menos
Com a queda da cotação do boi gordo e a possível saturação do mercado interno — resultado da realocação de estoques destinados à exportação —, o consumidor pode, enfim, sentir algum alívio no bolso.
A expectativa é de preços mais estáveis e até redução pontual em alguns cortes, especialmente entre setembro e outubro.
Ainda assim, analistas reforçam que o impacto dependerá da demanda doméstica, do nível de consumo nas redes varejistas e da estratégia de precificação das grandes redes de supermercados.
Mesmo que os frigoríficos ampliem a oferta, o varejo tende a manter os preços se o consumo não crescer.
Frigoríficos em vantagem, pecuaristas em alerta
A indústria frigorífica deve ser a grande beneficiada no curto prazo. Com a redução dos preços do boi gordo, as margens de exportação aumentam.
Além disso, os frigoríficos podem reajustar contratos internacionais e diversificar os destinos da carne brasileira, explorando mercados que ofereçam melhor custo-benefício.
Já os pecuaristas deverão enfrentar uma fase de margens mais apertadas. A produção pode desacelerar caso o volume de exportações não encontre novos destinos rapidamente.
O governo, por sua vez, monitora o setor e avalia incentivos fiscais e estratégias comerciais para mitigar perdas, sobretudo nas regiões mais dependentes da exportação de proteína bovina.
Alternativas para o Brasil no mercado internacional
Diante do tarifaço dos EUA, o Brasil busca novos mercados estratégicos para absorver o volume que antes era destinado aos americanos.
Entre os destinos analisados estão México, Egito, Canadá, Chile e Emirados Árabes Unidos — países que já compram carne brasileira e possuem potencial para ampliar suas importações.
Cada um desses mercados apresenta particularidades:
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México: grande consumidor de carne magra usada em hambúrgueres;
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Egito: comprador tradicional de proteína brasileira e potencial de crescimento;
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Canadá: parceiro comercial estável e com boa logística de importação;
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Chile: mercado próximo e de alta demanda por cortes premium;
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Emirados Árabes: em expansão e com grande consumo de produtos halal.
A diversificação é vista como essencial para reduzir a dependência de mercados politicamente voláteis, como o americano.
Efeitos políticos e econômicos do tarifaço
O tarifaço de Donald Trump reacende o debate sobre o protecionismo econômico dos Estados Unidos. A medida tem repercussões não apenas comerciais, mas também políticas e diplomáticas.
Especialistas avaliam que o governo brasileiro deve agir com cautela, buscando soluções diplomáticas antes de cogitar retaliações comerciais.
O Itamaraty e o Ministério da Agricultura trabalham em conjunto com o setor privado para reduzir as perdas e proteger a imagem do Brasil como fornecedor global confiável de alimentos.
O futuro da carne bovina brasileira
Apesar da turbulência gerada pelo tarifaço, o Brasil mantém posição de destaque no mercado global de proteína animal.
O país é líder mundial em exportação de carne bovina e conta com infraestrutura consolidada, tecnologia de rastreabilidade e padrão sanitário reconhecido internacionalmente.
A expectativa é que, mesmo com o impacto da nova tarifa, a carne bovina brasileira continue sendo uma das mais competitivas do planeta, fortalecendo sua presença em novos mercados e preservando o protagonismo do agronegócio nacional.
O setor, no entanto, exige previsibilidade e segurança jurídica, fatores que só virão com estabilidade diplomática e diversificação de parceiros comerciais.














