Um novo tratamento experimental com células-tronco eliminou a necessidade de insulina farmacêutica em pacientes com diabetes tipo 1 de difícil controle.
Os resultados, considerados promissores, foram publicados nesta semana no conceituado periódico científico New England Journal of Medicine e representam um possível avanço significativo no cuidado da doença.
Batizada de zimislecel, a terapia foi desenvolvida por pesquisadores do Hospital Geral de Toronto, no Canadá, em parceria com a Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Ela utiliza células-tronco pluripotentes que são transformadas em ilhotas pancreáticas em laboratório — ou seja, estruturas especializadas na produção de insulina — e depois implantadas no organismo dos pacientes.
PRÓXIMOS PASSOS: O estudo, ainda em andamento, está na fase 2 e agora seguirá para a fase 3 de testes clínicos, com expectativa de que o tratamento possa ser submetido à aprovação regulatória em 2026.
Como funciona a terapia
As células do zimislecel são aplicadas em um vaso sanguíneo que irriga o fígado. No local, elas se instalam e começam a produzir insulina naturalmente, sem a necessidade de injeções externas. Para evitar rejeição, os participantes tomam imunossupressores, assim como ocorre em transplantes de órgãos.
METODOLOGIA: Nesta fase, participaram 14 pessoas com diabetes tipo 1, sendo que 12 receberam a dose completa da terapia. Após um ano, 10 delas (83%) não precisavam mais aplicar insulina, algo inédito para muitos desde o diagnóstico.
“Em muitos casos, eles estão livres da insulina pela primeira vez”, afirmou Trevor Reichman, diretor do programa de transplante de pâncreas e ilhotas do Hospital Geral de Toronto e autor principal do estudo.
Resultados positivos e efeitos colaterais
Além da suspensão do uso da insulina, os participantes apresentaram:
- Zero episódios de hipoglicemia grave, condição que pode causar confusão mental, convulsões e até hospitalização;
- Melhora no controle glicêmico, com níveis de hemoglobina glicada abaixo de 7% — considerado ideal para pessoas com diabetes;
- Maior tempo com glicemia em níveis normais e menor variabilidade glicêmica, o que reduz riscos de complicações.
Segundo os pesquisadores, os efeitos colaterais observados foram leves ou moderados. Dois pacientes morreram durante o período do estudo, mas as mortes não foram relacionadas à terapia.
Próximos passos e desafios
A próxima fase da pesquisa envolverá 50 participantes e deve começar nos próximos meses. O objetivo é confirmar os resultados e preparar o tratamento para avaliação por agências reguladoras como a FDA (EUA) e a Health Canada.
Apesar dos avanços, um dos principais desafios é a necessidade de imunossupressores. O laboratório Vertex Pharmaceuticals, que financia o estudo, trabalha em alternativas para eliminar esse requisito, incluindo técnicas de encapsulamento das células e edição genética para torná-las invisíveis ao sistema imunológico.
O que é o diabetes tipo 1
A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune crônica que atinge principalmente crianças e jovens. Ela ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói as células do pâncreas responsáveis por produzir insulina — hormônio essencial para regular o açúcar no sangue.
Diferente da diabetes tipo 2, que pode ser controlada com mudanças de estilo de vida e medicamentos orais, a tipo 1 exige monitoramento constante da glicose e aplicações diárias de insulina, o que impacta diretamente na qualidade de vida dos pacientes.
O novo tratamento, se aprovado, pode mudar esse cenário e representar uma alternativa revolucionária para milhões de pessoas que convivem com a doença em todo o mundo.