O Mundo Agro reabre sua porteira para especialistas e representantes do setor publicarem artigos, e o engenheiro agrônomo Anderson Galvão, diretor da Céleres, aborda um tema preocupante: a pirataria de sementes de soja.
Combater a semente pirata é garantir a sustentabilidade da agricultura
“A pirataria de sementes de soja representa cerca de 11% da área plantada no Brasil, de acordo com levantamento da Céleres e da CropLife Brasil. A prática, embora reduza custos no curto prazo, impõe prejuízos econômicos, operacionais e institucionais ao produtor. Sementes piratas, ou ilegais, não possuem certificação ou registro e são vendidas no mercado informal. Elas apresentam menor taxa de germinação, vigor e maior suscetibilidade a pragas e doenças. O resultado são perdas médias de produtividade de 4 sacas por hectare. Para se ter uma ideia, cada ponto percentual de semente certificada adquirida pelo agricultor resulta em quase 100 mil sacas a mais, um faturamento adicional de R$ 40 milhões.
O Rio Grande do Sul tem o maior percentual do país, três vezes maior que a média nacional, uma prática que resulta em perdas anuais de R$ 1,1 bi ao Estado. Estima-se que o fim desse mercado poderia incrementar em R$ 6,6 bilhões a arrecadação pública do país em dez anos. Os impactos não se restringem à porteira. A indústria de sementes enfrenta ociosidade de até 40% devido à pirataria, que compromete o lançamento de novas variedades e biotecnologias, fundamentais para enfrentar novas pragas e as mudanças do clima.
Além das perdas econômicas, há um custo ambiental relevante. A redução da produtividade incentiva a expansão da fronteira agrícola, o que contraria os princípios de sustentabilidade e gera repercussão negativa da imagem do agronegócio brasileiro.
No campo jurídico, o produtor se expõe a sanções severas. As multas previstas são de até 250% do valor da carga apreendida, além de perda de benefícios fiscais. A aparente vantagem financeira da semente pirata é, na verdade, uma armadilha de curto prazo. Além de perdas produtivas, o agricultor perde acesso a crédito, seguro e ao suporte técnico dos produtores de sementes legais.
Superar essa realidade demanda mais que ações punitivas. É fundamental construir uma consciência coletiva no setor, onde o uso de sementes certificadas seja reconhecido como estratégia de gestão, produtividade e sustentabilidade da agricultura.”