Sábado, 04 de Outubro de 2025
icon-weather
DÓLAR R$ 5,34 | EURO R$ 6,31

04 de Outubro de2025


Área Restrita

Notícias do Agro Segunda-feira, 29 de Setembro de 2025, 09:53 - A | A

Segunda-feira, 29 de Setembro de 2025, 09h:53 - A | A

Brasil deve plantar menos arroz

Saiba os efeitos na produção e no consumo

Nos últimos 15 anos, brasileiros deixaram de consumir 2 milhões de toneladas do cereal, e demanda não deve aumentar, mesmo com preços em baixa

Administração

Por 
Luciana Franco — São Paulo-Globo Rural 
Foto-Canva

O Brasil deve plantar menos arroz na safra 2025/26. O novo ciclo agrícola começou com preços em queda e estoques maiores que os da safra passada. De outro lado, o comportamento do consumidor no país não tem apresentado mudanças significativas. 

Indicadores mostram que o cereal vem pesando menos no bolso dos brasileiros. Em agosto, a queda média foi de 2,33% pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país. No acumulado de 2025 até o mês passado, a retração é de 16,77%.

✅ Clique aqui para seguir o canal do CliqueF5 no WhatsApp

✅ Clique aqui para entrar no grupo de whatsapp 

Ainda assim, previsões apontam para uma demanda estável pelo arroz no mercado interno. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta um consumo de 11 milhões de toneladas no ciclo 2025/26, o mesmo volume do ciclo passado (2024/25). Os últimos anos foram de leves variações, com os números se mantendo pouco acima dos 10 milhões de toneladas.

Evandro Oliveira, analista da Safras & Mercado, no entanto, acredita que o consumo no mercado interno não deve passar das 10,5 milhões de toneladas, volume semelhante ao da safra 2021/22.

“Se o cenário apontasse para um volume acima deste patamar as vendas não estariam tão travadas”, diz. “A demanda interna caiu 2 milhões de toneladas nos últimos 15 anos”, acrescenta.

Oferta e demanda de arroz no Brasil

Safra Estoque inicial Produção Importação Suprimento Consumo Exportação Demanda total Estoque final
2018/19 812,3 10.483,6 1.037,7 12.333,6 10.780,3 1.365,7 12.146,0 187,6
2019/20 187,6 11.183,4 1.351,1 12.722,1 10.205,7 1.762,4 11.968,1 754,0
2020/21 754,0 11.766,4 895,1 13.415,5 10.802,1 1.311,1 12.113,2 1.302,3
2021/22 1.302,3 10.780,5 1.337,3 13.420,1 10.506,4 2.067,1 12.573,5 846,6
2022/23 846,6 10.031,8 1.550,3 12.428,7 10.324,1 1.696,7 12.020,8 407,9
2023/24 407,9 10.577,0 1.421,5 12.406,4 10.547,4 1.362,2 11.909,6 496,8
2024/25 496,8 12.756,9 1.400,0 14.653,7 11.000,0 1.600,0 12.600,0 2.053,7
2025/26 2.053,70 11.462,40 1.400,00 14.916,10 11.000,00 2.100,00 13.100 1.816,10

Ele explica que a produção de arroz foi acompanhando a evolução populacional do Brasil. “A partir de 2004 o cereal começa a ser impactado pelo efeito renda, ou seja, com salário melhor o consumidor migra para outros produtos como proteínas, comidas industrializadas e itens de maior valor agregado.

Na safra passada, a produção chegou a 12,75 milhões de toneladas, 2 milhões a mais que na anterior. E o Brasil também vem importando arroz do Paraguai. Só no ano passado, foram 740 mil toneladas.

Para a próxima safra estimativas iniciais indicam que os paraguaios vão aumentar a área em 5% e colher mais de 1,5 milhão de toneladas. A continuar o atual ritmo, as vendas para o mercado brasileiro devem chegar a 1,2 milhão. 

Com o consumo interno estabilizado e um crescimento pequeno das exportações, o atual ciclo começou com estoques quase cinco vezes maiores de uma safra para outra, pressionando os preços. Esse contraste entre a oferta robusta e a demanda retraída traz incerteza para os produtores.

Nos últimos 12 meses, os preços do arroz recuaram 44,7%, chegando a R$ 66,47 a saca, segundo o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com base no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional. Na sexta-feira (26/9) a referência ficou em R$ 60,96 a saca de 50 quilos. No mês, é uma retração de 9,37% no preço pago ao rizicultor. 

Queda no plantio e na produção 

As primeiras projeções da Conab para 2025/26 apontam retração da área cultivada, de 1,76 milhão para 1,66 milhão de hectares. A estatal também estima redução de 4,8% na produtividade das lavouras, o que deve fazer a colheita cair 11%, para 11,5 milhões de toneladas.

No Rio Grande do Sul, responsável por 70% do arroz brasileiro, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) estima uma redução de cerca de 5% na área, para 920 mil hectares. Ainda insuficiente para reequilibrar as contas do produtor, afirma Oliveira, da Safras & Mercado. “Estimamos uma redução necessária na área de cultivo no Rio Grande do Sul de 12%.”

Denis Dias Nunes, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), vai além. “Acreditamos que será necessária uma redução de 15% a 20% na área de cultivo na próxima safra”, avalia.

 

Ele calcula que o custo médio de produção de R$ 15 mil por hectare, produtividade de 9 toneladas por hectare e preços médios de R$ 66 a saca resultam em uma receita de aproximadamente R$ 11 mil por hectare. O aumento do consumo interno de arroz é considerado fundamental para a recuperação do equilíbrio financeiro do setor. 

“Descapitalizados, muitos devem reduzir os tratos culturais das lavouras, o que tende a impactar ainda mais a produtividade”, sinaliza. “Sem campanhas de estímulo e medidas que reduzam o custo Brasil, dificilmente conseguiremos reverter a queda da demanda”, avalia Nunes. 

Enquanto o consumo doméstico segue fraco, as exportações brasileiras devem ganhar força. A Conab estima crescimento de 31,3%, podendo alcançar 2,1 milhões de toneladas. Em 2024 os embarques somaram 1,4 milhão de toneladas em queda de 20% sobre as vendas de 2023.

“O setor tem trabalhado na abertura de novos mercados como Nigéria, México, América Central e Oriente Médio. Porém, barreiras comerciais ainda limitam avanços mais significativos”, diz o diretor de Assuntos Internacionais da Associação Brasileira da Indústria de Arroz (Abiarroz), Gustavo Trevisan.

Comente esta notícia

Rua Rondonópolis - Centro - 91 - Primavera do Leste - MT

(66) 3498-1615

[email protected]