O ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), afirmou nesta terça-feira (14) que a Venezuela é um país "amigo" e que, por isso, o Brasil não pode ficar "indiferente" à atual situação política do país. Serra deu a declaração após se reunir em Brasília com Henrique Capriles, um dos principais líderes da oposição ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
A Venezuela enfrenta uma grave crise política e econômica, com recessão, inflação em alta, falta de produtos alimentícios e medicamentos e protestos contra Maduro. A oposição tenta convocar um referendo para revogar o mandato do presidente e apresentou à justiça eleitoral mais de um milhão e meio de assinaturas de apoio.
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"Temos uma política clara de não intervenção em assuntos internos de outros países, mas não podemos ficar indiferentes a qualquer tipo de atropelo da democracia, de desrespeito aos direitos humanos e à situação bruta de carências que hoje envolvem a população venezuelana", declarou Serra após o encontro, realizado no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores.
"Nós estamos dispostos a cooperar para todo e qualquer entendimento democrático que tire este país, vizinho e amigo, da situação em que se encontra", acrescentou.
'Peso' do Brasil
Ao deixar o Itamaraty, Capriles declarou que, embora não possa falar em nome do governo brasileiro, deixa o país com "tranquilidade" por ter sido ouvido por parlamentares e por Serra.
A jornalistas, o líder venezuelano declarou que não pediu "ingerências" sobre o seu país, mas, em razão do "peso" na região, cobrou que o Brasil não fique "indiferente", porque isso é "doloroso".
"Não estamos aqui para pedir qualquer coisa coisa. O que nós estamos buscando é o respeito à Constituição. Não estamos buscando algo que não tenha sentido, queremos o diálogo e o que estamos pedindo é o referendo. Ou seja, eleições. A solução para a crise que vivemos é uma consulta popular. O povo venezuelano precisa ter a decisão em suas mãos", disse.
Encontro com senadores
Antes de se encontrar com Serra no ministério, Capriles já havia se reunido, no Senado, com parlamentares aliados ao presidente em exercício, Michel Temer. Em declaração à imprensa, ele disse esperar que a “indiferença” do Brasil em relação à situação da Venezuela tenha acabado.
Após a reunião no Itamaraty com o líder da oposição venezuelana, Serra avaliou que um país que tenha presos políticos “não é democrático” e “não usufrui da democracia muito claramente”.
"Temos uma preocupação grande com os efeitos sociais do regime venezuelano que se traduzem numa crise econômica descomunal e no desabastecimento da população em relação a alimentos e a medicamentos", acrescentou o chanceler brasileiro.
Reunião com Temer
No início da noite, um grupo de senadores, entre eles Aécio e Caiado, foi recebido por Temer para discutir a situação da Venezuela. Capriles não participou.
Ao G1, Caiado disse que o grupo levou ao presidente em exercício o que o líder venezuelano havia dito na reunião realizada mais cedo no Senado.
Além disso, relatou o senador, os parlamentares pediram que o governo brasileiro se posicione, via mecanismos internacionais, como a OEA, a favor do referendo contra Maduro.
Segundo a assessoria de Aécio, o senador mineiro defendeu que o Brasil adote "postura mais firme" em relação ao atual cenário de crise política e econômica na Venezuela.