O ex-governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), afirmou nesta quarta-feira (11), durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura supostas irregularidades nas obras da Copa do Mundo, que a culpa pelos atrasos na finalização dos projetos recai sobre a “burocracia da legislação” – citando a Lei das Licitações – e a existência de interferências inesperadas durante a execução das obras.
Convocado a depor na CPI da Assembleia Legislativa de Mato grosso (ALMT) na condição de testemunha, Silval se negou a assinar o termo de compromisso de falar apenas a verdade. Orientado por seus advogados, ele alegou que responde a ação judicial que envolve parte dos objetos de investigação da CPI e que não queria correr o risco de produzir provas contra si mesmo. A condição foi aceita por unanimidade pelos membros da CPI.
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O ex-governador, que se encontra preso no Centro de Custódia de Cuiabá desde o dia 17 de setembro, suspeito de participação em esquema de fraudes na concessão de incentivos fiscais em Mato Grosso, ainda aproveitou os questionamentos para defender a forma como foram lançadas e conduzidas as obras da Copa do Mundo em Cuiabá e Várzea Grande, região metropolitana da capital, e negou que houve falta de gestão na condução dos projetos.
“Não foi problema de gestão. Não faltou dinheiro no momento que precisava. Houve atrasos nas obras por entraves que apareceram. Idealizamos as obras, começamos, e aí nos deparamos com as desapropriações, todas por via judicial, houve interferências que precisavam ser removidas pelas concessionárias de água e telefone. Sem contar que não existe memória de projeto em Cuiabá e Várzea Grande. Ali na [Trincheira do] Santa Rosa, por exemplo, descobrimos a existência de uma adutora que abastece 60% da cidade”, disse.
Silval também apontou a falta de materiais essenciais para a execução das obras como uma das principais barreiras encontradas por sua gestão. “Aqui faltou tudo. Na época da Copa, faltou cimento, faltou emulsão asfáltica, faltou pó de brita, chegou a faltar areia”, afirmou.
Especificamente sobre os inúmeros problemas encontrados para a construção da Arena Pantanal, no Bairro Verdão, o ex-governador apontou duas falhas graves: a existência de uma nascente no local, sem que um projeto de drenagem estivesse pronto no início da obra (o que gerou aditivo ao contrato) e a inexistência de fundação no projeto principal. As interferências da Federação Internacional de Futebol (Fifa) durante a obra também foram criticadas.
“A Fifa, a cada momento, mandava uma alteração do projeto sobre como deveria ser a arena para a Copa do Mundo. Foram mais de 200 alterações do projeto original feitas pela Fifa e isso tudo foi onerando tanto o valor da arena quanto os prazos para a execução da obra”, justificou.
'Coragem'
Durante seu depoimento, Silval defendeu que houve planejamento para a execução de todas as obras e apontou os quatro anos de gestão como o período de maior avanço da capital. Ele alegou, ainda, ter aproveitado o momento da Copa do Mundo – e os recursos e oportunidades que foram oferecidas, à época – para fazer “investimentos que, em 300 anos, Cuiabá não recebeu”.
“Em muitos depoimentos, ao que parece é que o planejamento de todas as obras que foram feitas em Cuiabá entre 2010 e 2014 foi o maior caos do mundo. Eu quero refutar isso e dizer que foi o maior avanço que nós tivemos em uma gestão de quatro anos de mobilidade urbana”, disse.
Alegando ter tido “coragem” para transformar a Grande Cuiabá, Silval negou que tenha deixado um “estado arrasado” e sem dinheiro em caixa para tocar as obras pendentes. Apenas para dar continuidade à obra do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), segundo o ex-governador, foram deixados R$ 200 milhões encaminhados junto à Caixa Econômica Federal.
Segundo ele, a imprensa e aqueles que criticam o andamento dos projetos na capital estão focando em “pequenos problemas” e não estão sendo justos ao avaliarem as mais de 100 obras que ele diz ter lançado na época.
“Poucos governadores terão a coragem para fazer a transformação que nós fizemos em quatro anos em Cuiabá e Várzea Grande. Ninguém fala das pontes que fizemos sobre os rios Cuiabá e Coxipó, da duplicação de avenidas. Focam em duas ou três obras que deram problemas, e que são passíveis de correção, mas não enxergam o restante que fizemos. Onde houve atraso, houve razão. Falar que é problema de gestão, criticar, pegar microfone e xingar é muito fácil”, criticou.
Nova convocação
O depoimento de Silval foi encerrado após pouco mais de três horas, mas deve ter continuidade nesta quinta-feira (12), após nova convocação da CPI.