O ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Eduardo Tagliaferro, disse, nesta quarta-feira (3/9), que enviou aos Estados Unidos um material que, segundo ele, prova que o gabinete de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fraudou relatórios para justificar uma operação contra empresários bolsonaristas em 2022. Tagliaferro informou que mais pessoas podem ser sacionadas a partir disso.
“Todo o material foi encaminhado ao governo dos Estados Unidos e já está aqui em andamento no Parlamento europeu. Eu não tive resposta ainda (dos EUA). O que eu tive de resposta é que, com base nisso, mais pessoas serão sancionadas”, declarou em entrevista ao Contexto Metrópoles.
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Tagliaferro relatou que o envio dos documentos foi feito há uma semana e que houve uma conversa com integrantes do Departamento de Estado dos EUA. Na ocasião, foi perguntado quem seriam as pessoas mais próximas do magistrado.
“Eu informei todas as pessoas mais próximas do ministro Alexandre de Moraes. Então seriam assessores, seriam juízes de dentro do seu gabinete”, disse.
O material também foi compartilhado com o Parlamento Europeu.
“Ele não chegou antes no Parlamento Europeu porque aqui na Europa o mês de agosto é um mês praticamente morto, nada trabalha, e os trabalhos se iniciaram agora, no mês de setembro”, afirmou.
Nessa quarta-feira (2/9), Tagliaferro participou da Comissão de Segurança Pública do Senado, de forma remota, em sessão no mesmo dia do início da fase final do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na ação penal por suposta tentativa de golpe, relatada por Moraes. O colegiado é presidido por Flávio Bolsonaro (PL) e dominado por aliados do ex-presidente.
Tagliaferro atuou como chefe de gabinete na Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE em 2022, durante a gestão de Alexandre de Moraes à frente da Corte.
O que aconteceu
Em agosto de 2022, o Metrópoles revelou trocas de mensagens entre empresários que defenderam abertamente um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder. Dias depois, esses empresários foram alvos de uma operação da PF. A lista de integrantes do grupo “Empresários & Política” incluia Luciano Hang, da Havan, José Koury, do Barra World Shopping e Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia, entre outros.
Segundo Tagliaferro, Moraes se baseou inteiramente na reportagem para justificar a ação e afirmou que o relatório para embasar a operação foi feito dias depois dela ter sido realizada, em uma tentativa de abafar as críticas. No processo, consta que o documento foi feito em 22 de agosto, um dia antes da operação.
“A busca e apreensão foi realizada em 23 de agosto. Porém, se os senhores observarem, os relatórios e todo o material que a mim foi passado para montar aquela farsa, são dos dias 26, 27 e 28 de agosto”.
O ex-assessor apresentou prints das supostos materiais produzidos por ele a mando do juiz auxiliar de Moraes, Airton Vieira, incluíndo mapas mentais sobre as investigações e o envolvimento dos empresários. Segundo Tagliaferro, Moraes não sabia que a produção do material havia sido delegado a ele por Vieira.
“Esse documento que foi apresentado por Alexandre de Moraes para justificar e dizer que existia uma investigação preliminar para a busca e apreensão, foi confecionado por mim, a pedido de Airton Vieira, que não sabia mecher com computador. Isso chegou às minhas mãos por acaso, Moraes nem sabia que Airton Vieira tinha me passado. Airton me pediu para não falar nada”, disse o ex-servidor.
Tagliaferro denunciado
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou mês passado ao STF o ex-assessor.
Tagliaferro foi investigado pela PF pelo suposto vazamento de mensagens trocadas no gabinete do ministro Alexandre de Moraes.
Gonet denunciou o ex-assessor pelos crimes de violação de sigilo funcional, coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolve organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.