Os sites dos principais veículos de informação da Europa repercutem, na manhã desta quinta-feira (10/7), o anúncio do presidente americano, Donald Trump, da imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos.
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O líder republicano justificou sua decisão em uma carta enviada ao presidente Lula, divulgada nas redes sociais, na qual critica “a maneira como o Brasil trata o ex-presidente Bolsonaro“, o que, segundo ele, é “uma caça às bruxas”.
A medida foi revelada durante uma coletiva de imprensa na qual o presidente dos EUA esteve ao lado de líderes de países africanos, na Casa Branca, nessa quarta-feira (9/7). Segundo Trump, o Brasil está no topo da lista de nações que sofrerão o novo aumento tarifário.
Poucas horas após o anúncio, Trump divulgou uma carta formal informando que a tarifa-base de 50% será aplicada a todas as exportações brasileiras para os EUA, com início previsto para agosto. A carta detalha ainda que produtos já taxados, como alumínio e aço, poderão receber tarifas adicionais cumulativas.
A justificativa de Trump é o suposto déficit comercial dos Estados Unidos com o Brasil. No entanto, os dados do Departamento de Comércio dos EUA mostram o oposto: em 2024, os EUA tiveram um superávit de aproximadamente US$ 7,4 bilhões nas trocas comerciais com o Brasil. Ou seja, os americanos exportaram mais do que importaram do país sul-americano.
Trump “declara guerra a Lula”
Além do argumento econômico, Trump mencionou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado por tentativa de golpe de Estado. Para Trump, o processo seria uma “caça às bruxas” e parte de uma perseguição política.
Na Europa, o jornal francês Le Monde afirma que “Donald Trump instrumentaliza as tarifas alfandegárias para apoiar Jair Bolsonaro e declarar guerra a Lula”. O periódico destaca trechos da carta enviada ao presidente brasileiro, especialmente o parágrafo em que Trump afirma que o julgamento do ex-presidente de extrema direita não deveria ocorrer, além de críticas a supostos ataques às eleições de 2022 e à liberdade de expressão.
Le Monde lembra que o anúncio de Trump ocorre após vários dias de tensões entre os Estados Unidos e o Brasil, tendo como pano de fundo a cúpula do Brics. A matéria destaca que Bolsonaro não escondeu sua “grande felicidade” e agradeceu “calorosamente” ao amigo americano nas redes sociais.
Trump também criticou decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, como a suspensão de contas em redes sociais e veículos de mídia que não estavam respeitando a legislação brasileira. Trump acusou Moraes de promover censura e afirmou que o Brasil estaria violando princípios básicos da liberdade de expressão.
Trump chegou a ameaçar abrir uma investigação formal contra o Brasil com base na chamada Seção 301 do Ato de Comércio de 1974 — a mesma ferramenta jurídica usada por ele em 2018 para justificar tarifas contra a China. Essa cláusula permite ao governo americano investigar práticas comerciais que considera desleais, podendo resultar em retaliações econômicas.
Outros jornais europeus também destacaram a decisão de Trump. Para o diário espanhol El País, o presidente americano “ultrapassa um limite em suas ameaças comerciais”.
O site do jornal classificou como uma “bomba” o anúncio das tarifas suplementares de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos Estados Unidos, e lembrou que o valor é o mais alto imposto até agora a qualquer dos países ameaçados nesta última rodada da guerra comercial de Trump, “multiplicando por cinco a tarifa que Washington aplicou a Brasília em 2 de abril”, afirma o El País, evocando uma “punição formal” e uma “represália”.
Resposta de Lula
O jornal britânico The Guardian dá destaque à resposta do presidente Lula a Trump, que lembrou nas redes sociais que “o Brasil é um país soberano, com instituições independentes, que não aceitará ser tutelado por ninguém”.
The Guardian também salienta as explicações do líder petista sobre a independência do Judiciário nacional e a rejeição da sociedade brasileira a conteúdos com manifestações de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática. “Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira”, escreveu Lula.
O diário britânico ressalta ainda que além do Brasil, sete outros países foram visados pelos anúncios de Trump na véspera: Filipinas, Brunei, Moldávia, Argélia, Líbia, Iraque e Sri Lanka. Para o diário britânico, as ameaças aumentam os temores de que a controversa estratégia comercial do presidente americano possa agravar a inflação nos Estados Unidos.
O governo Lula afirmou que, caso a tarifa de 50% seja realmente implementada, o Brasil responderá com medidas de reciprocidade comercial, podendo incluir sobretaxas aos produtos americanos ou levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Tensão foi iniciada durante a reunião do Brics
A tensão entre os dois países já havia se intensificado no início da semana, após uma troca de declarações indiretas pela imprensa. No domingo (6), Trump acusou o Brics — bloco composto, hoje, por 11 países — de ser uma aliança “antiamericana”, e afirmou que pretendia “desmantelá-lo” por meio de tarifas comerciais.
Em resposta, o presidente Lula reagiu durante a cúpula realizada no Rio de Janeiro. “O mundo mudou. Nós não queremos um imperador”, disse Lula. “Se ele acha que pode impor tarifas, outros países também têm o direito de impor tarifas”.