Entre 2020 e 2023, o agronegócio foi o setor privado que mais atuou no combate à insegurança alimentar no Brasil, respondendo por mais da metade das iniciativas empresariais voltadas à questão. O desempenho superou os setores de Alimentos & Bebidas e Comércio Varejista, segundo levantamento da Fundação José Luiz Setúbal. No entanto, a maior parte dessas ações está concentrada no Sudeste e Sul do país, deixando Norte e Nordeste, regiões com os maiores índices de fome, com cobertura insuficiente.
“O agro está à frente, mas ainda não está onde mais importa. É preciso sair da zona de conforto e investir em territórios de maior vulnerabilidade, com projetos estruturantes e visão de longo prazo”, afirma Pedro Luiz dos Santos, pesquisador do Instituto Pensi, da Fundação José Luiz Setúbal.
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A pesquisa identificou que mais de 70% das ações do setor privado se concentram nas extremidades da cadeia alimentar, especialmente na produção e no consumo, negligenciando etapas intermediárias como armazenamento, processamento e distribuição. Esses gargalos são justamente onde ocorrem perdas significativas de alimentos no Brasil, que desperdiça cerca de 55 milhões de toneladas por ano. Ainda assim, menos de 5% das ações analisadas abordaram o reaproveitamento ou a redução dessas perdas.
Outro ponto crítico apontado é o baixo grau de institucionalização dos investimentos. Menos de 40% das empresas analisadas contam com institutos ou fundações próprios, o que dificulta a continuidade, a escala e o foco estratégico das ações. A maioria das iniciativas está vinculada a departamentos de marketing ou responsabilidade social, com poucos indicadores de impacto e transparência.
“Estamos falando de um país com capacidade de alimentar o mundo — e ainda temos milhões passando fome. O agronegócio tem papel fundamental na correção dessas distorções, mas precisa olhar para a cadeia como um todo e para além da porteira”, destaca o pesquisador.