A meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais surgiu como um consenso científico e diplomático em 2015, com o Acordo de Paris. Ela foi definida após uma série de estudos mostrarem que esse valor representava um “limite seguro” para evitar os efeitos mais devastadores das mudanças climáticas – como secas intensas, colapso de ecossistemas, aumento extremo do nível do mar e impactos graves à saúde humana.
A lógica por trás desse número era clara: quanto menor o aquecimento, menores os riscos. Relatórios do IPCC (painel da ONU sobre clima) mostraram que, mesmo com 1,5°C, o planeta já enfrentaria perdas consideráveis, mas que esses impactos seriam muito piores com 2°C ou mais. Estabelecer esse teto era uma forma de preservar o futuro de bilhões de pessoas, especialmente nas regiões mais vulneráveis.
No entanto, os dados mais recentes apontam que esse limite já está sendo superado. Em 2024, o planeta atingiu a marca de 1,6°C de aquecimento: a questão que os cientistas avaliam é se isso foi um novo padrão ou apenas o registro pontual em um ano.
E, pior: estudos publicados nas revistas "Nature Climate Change e Nature Communications" indicam que manter o aquecimento em 1,5°C talvez não seja mais suficiente para impedir o colapso de geleiras na Groenlândia e na Antártida – regiões que armazenam gelo capaz de elevar o nível do mar em até 65 metros nos próximos séculos.
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Além disso, um relatório da ONU afirma que, mesmo no cenário mais otimista, a chance de limitar o aquecimento global a 1,5°C é de apenas 14%.
O mundo segue emitindo mais gases de efeito estufa do que deveria, e os compromissos atuais assumidos pelos países são insuficientes. A continuidade desse padrão aponta para um aquecimento médio entre 2,5°C e 2,9°C até o fim do século.
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Aquecimento global pode estar contribuindo para a elevação do nível dos oceanos mais rápido do que se imaginava — Foto: Unsplash
A consequência direta disso é a intensificação de eventos extremos. Segundo especialistas, ondas de calor, inundações, secas e colapsos alimentares se tornarão cada vez mais frequentes e severos. As regiões costeiras, em particular, correm riscos elevados – estima-se que mais de 230 milhões de pessoas possam ser afetadas pela elevação do nível do mar.
A mensagem da ciência é clara: cada fração de grau importa. Embora 1,5°C tenha sido um marco simbólico e político, a realidade atual exige metas ainda mais ambiciosas e ação imediata para mitigar os impactos. Isso significa cortar drasticamente as emissões, reduzir a queima de combustíveis fósseis e financiar a adaptação de países mais pobres. Porque, como alertam os cientistas, cruzar esse limite pode nos levar a um ponto de não retorno.