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“Planejava orgia?”

Ex-Testemunha de Jeová denuncia “comissão do sexo”

À coluna, a mulher denuncia que foi levada a uma sala com três homens e teve de detalhar a relação sexual. O casal foi exposto à igreja

 

Metrópoles
NSC Total

 

 

Mesmo após 11 anos longe do grupo religioso, Carina — que preferiu se identificar apenas pelo primeiro nome — ainda carrega marcas do tempo em que frequentou encontros das Testemunhas de Jeová, religião que ela classifica como uma seita. 

Depressão e ansiedade generalizada são alguns dos transtornos com os quais foi diagnosticada e que, agora, atribui ao passado “sombrio” da época em que fazia parte da religião, em Suzano, São Paulo (SP).

A mulher procurou a coluna para denunciar as situações que viveu. Hoje ativista na defesa de pessoas que se consideram vítimas do grupo, ela foi Testemunha de Jeová por cerca de 20 anos, teve o primeiro contato com a religião aos seis anos de idade.

“Nunca fui uma jovem considerada espiritualmente forte, na visão deles. Isso porque eu tinha amizade com pessoas críticas, tinha um pensamento crítico, não era completamente dominada pelos preceitos da seita”, explicou.

 

Ao longo dos anos em que frequentou a igreja, Carina teve alguns relacionamentos amorosos, sobretudo durante a adolescência. Ela afirma, no entanto, que tudo ocorria às escondidas, já que só é permitido se relacionar com pessoas da mesma religião.

O início do trauma

O que Carina descreve como um pesadelo teve início, principalmente, após sua primeira relação sexual, em 2010. “Eu tive relações antes do casamento. Quando isso acontece, a consciência pesa. Mesmo que eu não fosse completamente dominada, sentia que precisava contar, porque estava descumprindo uma regra da organização”, lembrou.

 

Tomado pelo sentimento de culpa, o casal procurou os anciãos, homens considerados maduros, responsáveis por liderar e cuidar espiritualmente da congregação local, e confessou o “pecado”.

Após expor o que haviam feito, ambos foram submetidos a uma comissão judicativa, uma espécie de “julgamento”, em que os anciãos avaliam casos de transgressão ou violação das regras internas da organização.

 
“Eles fizeram uma reunião comigo, depois com o meu namorado e, por fim, com os dois juntos. Me colocaram em uma sala com três homens, que começaram a perguntar como foi a relação sexual. Primeiro, perguntaram individualmente, para verificar se haveria contradições”, revelou.

“Questionaram se tínhamos premeditado, se era algo recorrente, quantas vezes aconteceu, se foi em motel ou em casa, e até se planejávamos chamar mais pessoas para participar do ato sexual”, detalhou.

Após ouvirem as respostas do casal, os anciãos decidiram que ambos deveriam ser expulsos da igreja. “Para consertar a situação, a gente acabou se casando, mas o relacionamento durou apenas quatro anos. Quando meu casamento terminou, em 2014, passei pela segunda comissão judicativa após me envolver com outra pessoa”, lamentou.

Segundo ela, a segunda experiência foi ainda pior, dessa vez, foi denunciada por um colega da igreja. “Eu havia me relacionado com alguém de fora da religião. Fui chamada para conversar e, então, assumi o que tinha feito.”

 

As perguntas se repetiram. “Quiseram saber quando foi, quantas pessoas sabiam e até em que posição a relação aconteceu. Senti muita vergonha, porque essas comissões são compostas apenas por homens, que decidem sua vida. Você tem que falar tudo e esperar o julgamento”, contou.

Quando saiu da sala, após ser expulsa, Carina sentiu alívio, mas o pesadelo não havia terminado. A mulher foi publicamente exposta a todos que frequentavam a igreja. Anunciaram seu nome e sua expulsão, sem mencionar o motivo. 

“Falaram meu nome do púlpito, na tribuna, e deixaram as pessoas à vontade para interpretar como quisessem. Normalmente, todos já sabem que é algo relacionado à questão sexual. Então, o expulso vira alvo de críticas e apontamentos.”

Após ser proibida de continuar fazendo parte do grupo, Carina enfrentou problemas familiares. “Eu morava com meus pais, mas queria ficar com esse rapaz com quem me relacionava. Meu pai me colocou para fora de casa. Fiquei casada com esse homem por nove anos. Ele é o pai do meu filho.”

Eternamente marcada
Hoje, Carina é casada com outro dissidente, que também enfrenta os mesmos traumas psicológicos decorrentes, segundo eles, do período em que viveram na “seita”. 

“A história de vida dele é basicamente a mesma. Também passou por comissão judicativa e pelas mesmas perguntas ridículas que eu. Hoje, sofre com depressão profunda e ansiedade”, relatou.

Atualmente, ambos fazem tratamento psicológico e psiquiátrico, com acompanhamento regular de profissionais da saúde. Também atuam no apoio a pessoas que viveram experiências semelhantes, que eles definem como traumáticas.

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