Uma mulher de 38 anos morreu em decorrência de um tipo raro de câncer ligado ao uso de próteses de silicone. O caso, tratado no Hospital de Amor, em Barretos (SP), foi descrito em artigo publicado na revista Annals of Surgical Oncology e representa o primeiro registro brasileiro de carcinoma espinocelular associado a implantes mamários (BIA-SCC, na sigla em inglês).
Segundo o mastologista Idam de Oliveira Junior, que acompanhou a paciente e é um dos autores do estudo, apenas 17 casos semelhantes foram documentados no mundo desde 1992.
“Não é motivo para pânico. O implante mamário continua sendo seguro, mas é importante reforçar a necessidade de acompanhamento médico contínuo, mesmo após muitos anos da cirurgia”, diz o médico.
O caso
A paciente colocou as próteses aos 20 anos e, quase duas décadas depois, percebeu alterações na mama esquerda, como inchaço e acúmulo de líquido. Exames de imagem indicaram a necessidade de retirada do implante, mas a biópsia revelou a presença de células malignas na membrana que envolve a prótese.
Quando chegou ao hospital, já apresentava uma lesão avançada, infiltrando músculos e ossos do tórax. Apesar da cirurgia e do início da quimioterapia, o tumor voltou pouco depois e se espalhou para o fígado e outros órgãos. Ela morreu em oito meses.
“Esse não é um câncer de mama tradicional, e sim um tumor que nasce na cápsula que se forma ao redor da prótese. É raro, agressivo e responde pouco à quimio e à radioterapia”, explica Oliveira Junior.
O que é a cápsula da prótese
A cápsula é um tecido fibroso criado naturalmente pelo corpo sempre que um implante de silicone é inserido. Funciona como uma película de proteção que envolve a prótese.
Na prática, é como se o organismo formasse um “embrulho” em volta do silicone, isolando-o do restante do corpo. Na imensa maioria das mulheres, essa estrutura não gera problemas.
Condição excepcionalmente rara
O pesquisador ressalta que o BIA-SCC continua sendo uma condição raríssima, sem relação com um tipo específico de silicone, cobertura ou técnica cirúrgica. A principal hipótese é que um processo inflamatório crônico na cápsula possa levar a alterações celulares capazes de originar o tumor.