Na esteira dos primeiros colonizadores que chegaram a Primavera do Leste merece destaque aquele que acabou se tornando o primeiro prefeito quando da emancipação do município em 1986: Darnes Egydio Cerutti. Em sua última entrevista concedida ao Jornal O Diário em 2011, próximo de completar 75 anos de idade, ao lado da esposa Terezinha Cerutti, fez relatos que somam-se à parte da já conhecida história deste emigrante gaúcho, nascido em Frederico Westphalen, que adquiriu uma área de 2 mil hectares através do irmão, Adilson Cerutti. Este por sua vez adquiriu a terra do Sr. Bortolo Ambrósio.
No início da década de 1970, Darnes Cerutti possuía dois postos de combustível no Sul do país, bem como uma transportadora de cargas. Mesmo assim decidiu investir no cerrado mato-grossense. Em fevereiro de 1973, usando a própria transportadora ele enviou a mudança de Bortolo e todo o equipamento necessário os trabalhos de abertura do cerrado, inclusive um jipe para o transporte local. A chegada do empresário para conhecer a região aconteceu no mês de março daquele ano e ele decidiu permanecer por aqui. Dona Terezinha conta que na única pensão existente na época e que ficava no entroncamento entre a MT 130 e a BR 070, a “Pensão da Dona Selma”, havia uma tábua para amarrar cavalos, a qual também era utilizada como tiro ao alvo. “Ali o Darnes escreveu em carvão: marco de uma futura cidade; pois ele já acreditava que o local se desenvolveria”.
Quanto ao início dos trabalhos na lavoura, após as dificuldades para a abertura das áreas, Darnes resolveu plantar soja, apesar da falta de variedades. Em uma oportunidade, quando estava no Banco do Brasil em Poxoréu, durante conversa com um grupo de produtores de Mirassol do Oeste, que tinham uma espécie de sementes desenvolvida para o clima do cerrado, ele adquiriu 20 sacas do grão. Plantou dez sacas daquela soja e distribuiu o restante para outros produtores, sem cobrar qualquer valor por isso.
Aos poucos, a movimentação dos agricultores ia aumentando e outros problemas foram surgindo, entre eles a falta de óleo diesel para abastecer máquinas e caminhões. Para conseguir alguns tanques era necessário uma verdadeira viagem, na grande maioria das vezes sendo preciso ir até Dom Aquino, o que também inviabilizava a cada dia a atividade que já era difícil.
Foi por essa época que Darnes, já tendo conhecimento com representantes da Shell, resolveu pedir a instalação de um posto na região. Foi até Campo Grande em busca de uma resposta e ficou sabendo que a intenção era montar um estabelecimento próximo ao “Paredão”, já que por aqui não se acreditava em resultados rentáveis. Ele porém não desistiu.
SURGE UM POSTO
No ano de 1975 foi autorizada a concessão de um posto de revenda às margens da BR 070 no sentido Cuiabá X Barra do Garças e próximo ao entroncamento da MT 130. Nascia então o posto Barril, de uma sociedade entre Darnes Egydio Cerutti e Adevino Castelli. Havia apenas uma bomba para óleo diesel e outra para gasolina, mas as vendas se tornaram expressivas: cerca de 30 mil litros por semana, enquanto anteriormente não se acreditava que isso seria vendido em um mês todo.
Em depoimentos do casal Darnes e Terezinha, a história mostra que em torno do posto iniciou-se realmente uma grande movimentação que daria origem a outras pequenas empresas, comércios e instituições. A primeira “igreja-escola” construída, ficava bem ao lado do posto e o próprio Darnes se encarregava de contribuir com o salário do professor, para manter os primeiros alunos estudando.
Foi no próprio posto Barril que a comunidade começou a tomar banho “no chuveiro quente”, segundo relata Terezinha. “Era até bonito de ver. Eles faziam filas para conseguir tomar banho aqui”, diz ela. Isso era possível em função dos motores geradores instalados e que possibilitavam a geração de energia elétrica durante parte do dia e também da noite. É necessário destacar ainda que, mesmo antes da emancipação do município tanto a rede CEMAT, ainda utilizando os geradores e a SECAMAT, já estavam operando no local. Esta última veio apenas para instalar uma torneira para saída de água, mas Darnes bateu o pé e exigiu que fosse “implantada água encanada”, o que foi feito em pouco tempo. Ele próprio destaca que “um grupo de representantes da comunidade se mobilizou para que estes benefícios fossem implantados, bem como para a instalação do posto telefônico, o que ocorreu logo em seguida”.
CAMINHAR PELAS PRÓPRIAS PERNAS
Foi no início da década de 1980 que a criação do distrito também começou a criar contextos que levariam à emancipação. A lei número 4.351 de setembro de 1981, decretada pelo então governador Frederico Campos criou o distrito de Primavera. Em 26 de fevereiro de 1983 um grupo de pessoas se reuniu e fizeram a descrição de necessidades prementes para o desenvolvimento da região. Um documento foi redigido e enviado ao presidente da Assembleia Legislativa, Ubiratan Spinelli.
Um ano mais tarde, em agosto de 1984 uma reunião no salão paroquial da Matriz São Cristóvão, constituiu a Comissão Pró-emancipação, cujo presidente eleito foi Darnes Cerutti. Com o passar dos meses, além de ofícios enviados ao governador, solicitando benfeitorias para o distrito, a Comissão também se mobilizou para conseguir pelo menos cem assinaturas para o abaixo assinado que deveria ser remetido à Assembleia Legislativa, solicitando a emancipação. O ano de 1985 foi vivido praticamente em função do movimento de emancipação. A publicação foi feita no Diário Oficial na página 22, edição de 07 de fevereiro de 1986, do Decreto Lei aprovado pela Assembleia Legislativa. Em 13 de maio de 1986 foi sancionada a Lei número 5.014, criando em definitivo o município de “Primavera do Leste”.
Em seguida foi iniciado o processo que levaria à eleição do primeiro prefeito, vice e vereadores do município. Para prefeito concorreram pelo PFL, José Fernando Barbosa a prefeito, tendo Sebastião Patrício como vice, além de 10 candidatos a vereador. Já pelo PMDB disputaram, Darnes candidato a prefeito, tendo Milton Braff como vice e 12 candidatos na chapa de vereador. No dia 15 de novembro de 1986 os primaverenses retornaram novamente às urnas, desta vez para escolher os seus representantes políticos. O resultado final elegeu Darnes Cerutti e vice com 1.541 votos, contra 1.480 do adversário. Os vereadores eleitos foram Adevino Castelli, Antônio Renosto, Leonildo Gorri, Waldomiro Riva, Sérgio Luiz Costa, Waldemar Arequini e Paulo Zeni.
Um prefeito sem prefeitura...
Retornando aos depoimentos do casal Cerutti, podese observar as dificuldades que marcaram o início da primeira administração. Na verdade Darnes e Milton Braff não foram conduzidos à prefeitura porque ela literalmente não existia, assim como os vereadores não tinham câmara propriamente dita. Terezinha Cerutti conta que inicialmente “desde toalhas, cadeiras, mesas, tudo nós levamos de casa para que pudesse haver pelo menos uma referência”.
Apesar disso, ao mesmo tempo em que conseguiu instalar os prédios públicos em locais alugados, o prefeito ia nomeando secretários, contratando servidores, adquirindo maquinários, alguns deles com o próprio dinheiro, mas “não era possível parar, agora que os primaverenses tinham obtido mais uma conquista”. Com a ajuda da própria comunidade aos poucos tudo ia se ajeitando e com as primeiras arrecadações as obras tiveram continuidade. As alternativas encontradas pela administração sempre davam resultado. Uma delas foi a montagem de um caminhão para fazer pontes no interior. Como as distâncias eram muito grandes e não era possível ir e voltar no mesmo dia, foi montada uma cozinha, lugar para dormir, enfim, tudo o que os trabalhadores precisassem, o que permitia ir e ficar vários dias sem retornar até em casa. Isso aumentava a agilidade nos trabalhos e proporcionava economia aos cofres públicos, ainda praticamente vazios.
Foi durante a administração Darnes Cerutti que diversos prédios e obras foram construídas. Entre elas podem ser enumeradas a escola Mauro Weiss, doze escolas municipais no interior, a biblioteca Municipal, construção do Centro de Saúde Oswaldo Cruz, quadra de esportes da escola Alda Scopel, entrega do Conjunto Habitacional Tancredo Neves, em conjunto com o governo do estado, aquisição de veículos e implantação de diversos projetos. O lema da administração foi “Administrando com a Comunidade”.
UM PREFEITO SEM PREFEITURA...
Retornando aos depoimentos do casal Cerutti, pode-se observar as dificuldades que marcaram o início da primeira administração. Na verdade Darnes e Milton Braff não foram conduzidos à prefeitura porque ela literalmente não existia, assim como os vereadores não tinham câmara propriamente dita. Terezinha Cerutti conta que inicialmente “desde toalhas, cadeiras, mesas, tudo nós levamos de casa para que pudesse haver pelo menos uma referência”.
Apesar disso, ao mesmo tempo em que conseguiu instalar os prédios públicos em locais alugados, o prefeito ia nomeando secretários, contratando servidores, adquirindo maquinários, alguns deles com o próprio dinheiro, mas “não era possível parar, agora que os primaverenses tinham obtido mais uma conquista”.
Com a ajuda da própria comunidade aos poucos tudo ia se ajeitando e com as primeiras arrecadações as obras tiveram continuidade. As alternativas encontradas pela administração sempre davam resultado. Uma delas foi a montagem de um caminhão para fazer pontes no interior. Como as distâncias eram muito grandes e não era possível ir e voltar no mesmo dia, foi montada uma cozinha, lugar para dormir, enfim, tudo o que os trabalhadores precisassem, o que permitia ir e ficar vários dias sem retornar até em casa. Isso aumentava a agilidade nos trabalhos e proporcionava economia aos cofres públicos, ainda praticamente vazios.
Foi durante a administração Darnes Cerutti que diversos prédios e obras foram construídas. Entre elas podem ser enumeradas a escola Mauro Weiss, doze escolas municipais no interior, a biblioteca Municipal, construção do Centro de Saúde Oswaldo Cruz, quadra de esportes da escola Alda Scopel, entrega do Conjunto Habitacional Tancredo Neves, em conjunto com o governo do estado, aquisição de veículos e implantação de diversos projetos. O lema da administração foi “Administrando com a Comunidade”.
VALEU A PENA
No plano pessoal, olhando para trás, tanto Terezinha quanto Darnes expressam que “as dificuldades foram muitas, mas valeu a pena, tanto ter vindo para o Mato Grosso quanto ter aceitado o desafio de ser o prefeito, neste caso o primeiro admininstrador”.
Naquele início da década de 1970, buscando novos horizontes, crescimento financeiro e novos desafios, quase certamente nenhum deles imaginaria tudo o que poderiam enfrentar. Terezinha por exemplo deixou a faculdade de Arquitetura na Pontifícia Universidade Católica em Porto Alegre, para acompanhar o marido rumo ao Mato Grosso. “Meu cunhado uma vez veio nos visitar e disse que não sabia o que nós dois estávamos fazendo aqui, nesse lugar”, relata Terezinha. Ao longo dos primeiros anos em que o posto estava em funcionamento são centenas de histórias a serem contadas. Eles sempre participaram de uma forma bastante social no crescimento da região. Quando alguém precisava de um medicamento por exemplo muitas vezes era Terezinha quem tinha para oferecer, sem nada cobrar. “Em troca eles vinham me trazer mamão, ovos, frutas, mas eu não queria porque estava fazendo porque alguém estava precisando. Mesmo assim a insistência era grande”, comenta.
Para comprar algum produto havia muita limitação. Em Poxoréu ainda se conseguia alguma coisa. Se não tivesse a alternativa era Rondonópolis que também não oferecia tanta diversidade. Em Cuiabá o principal lugar era o “Supermercado Cecília”, mas quando a necessidade era extrema. Por isso muitos que viviam na região, sem condições, muitas vezes passavam necessidades. Como alternativa para conseguir algo diferente Terezinha assava pão e trocava nas propriedades, às vezes por leite de égua ou mandioca.
Darnes também era bastante procurado para levar as pessoas em Poxoréu, principalmente quando o motivo era doença. Como tinha um veículo e nunca cobrava o “frete” sempre batiam à porta, independentemente do horário. Eles se lembram que numa época “brava”, quando os tiros e facadas eram constantes, principalmente aos domingos, sem exceção, eram procurados por alguém, pedindo que levassem uma pessoa para o médico. Como Darnes tinha uma Caravan, servia às vezes de transporte funerário e outras de ambulância. Para tentar reduzir as brigas, principalmente no período da noite se eram originadas na pensão da cidade alguém gritava “desliga o gerador”. Sem energia a festa logo acabava.
REUNIÃO NO “VATICANO”
Outra lembrança é com relação à falta de opções para o lazer. Televisão eles não tinham e a opção era o rádio ou o toca-fitas. Foi assim que algumas famílias começaram a se reunir numa espécie de chapéu de palha, que atualmente ficaria as uns cem metros do posto, no sentido escola Mauro Weiss. “Ali nos reuníamos sempre e cada um tinha uma especialidade na cozinha e fazia um prato diferente”, conta Terezinha. Segundo as informações, Darnes era um expert na galinha com arroz.
E foi desse chapelão que surgiu um apelido o qual ninguém sabe explicar: Vaticano. E foi ali no Vaticano que foi fundado o Rotary Clube de Primavera, com a vinda de um representante de Rondonópolis, especialmente para a ocasião.
E por esses relatos nota-se que também foram épocas muito boas, como por exemplo quando Terezinha se lembra da primeira criança nascida em Primavera do Leste, que foi a filha de Pedro Castelli, Viviane. “Outros já haviam nascido, mas lá em Poxoréu. Porém aqui onde o povoado estava crescendo, ela foi a primeira pessoa”. O parto foi feito no hospital São Lucas, pelo médico Milton Braff.
Darnes Cerutti também é um dos fundadores da PRIMACREDI e o terceiro presidente da cooperativa. Sua vida está baseada na linha da administração e empreendedorismo, assim como muitos outros que contribuíram para o nascimento, crescimento e continuidade do município de Primavera do Leste. Este é apenas um resumo da história que caberia certamente em muitos outros capítulos, mas que demonstram a força de vontade e o dinamismo daqueles que vieram decididos a prosperar e a ajudar outros a conquistar também o seu espaço.
DARNES HOJE
Atualmente, Darnes Cerutti mora em Porto Alegre/RS, onde faz tratamento de saúde. Em entrevista recente, o filho Felipe Cerutti, responsável pela administração dos negócios da família, explicou que o pai descobriu uma hidrocefalia há 7 anos. “Ele foi para o Sul para fazer uma cirurgia para implantação de uma válvula. Este primeiro procedimento não deu certo e após a realização de uma outra cirurgia, meu pai teve meningite. Entre este período, ele veio diversas vezes para Primavera, mas está definitivamente em Porto Alegre há 3 anos”, informou Felipe.