Em Cuiabá, 307 casos de abusos sexuais contra crianças e adolescentes foram registrados no primeiro semestre deste ano. Em muitas situações, os agressores são os próprios pais das vítimas que, segundo a Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica), têm entre 10 e 13 anos de idade.
Os casos foram denunciados à delegacia por familiares, amigos e até vizinhos das vítimas. O delegado responsável pelas investigações, Eduardo Augusto Botelho, explica que a maioria dos registros na delegacia se refere à violência sexual. De acordo com ele, foram instaurados 682 procedimentos de janeiro a junho, sendo que 45% deles são de crimes sexuais contra menores.
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“Muitas vezes esses casos não são revelados, a família não denuncia e ficam na obscuridade. Pessoas que são ligadas, de alguma forma, à vítima é que levam a situação para a delegacia e começamos a apurar se a família tinha conhecimento do ato e se agia para evitá-lo”, declarou o delegado.
Botelho ressalta que em 95% dos crimes investigados os suspeitos possuem uma ligação anterior com a vítima. Antes de praticar o ato, segundo ele, os agressores procuram ganhar a confiança para depois colocar o intento criminoso em prática. “Como esses crimes são praticados por pessoas próximas à vítima, elas possuem certa dificuldade em tornar público os abusos sofridos, motivo pelo qual os responsáveis devem estar atentos a qualquer mudança repentina de comportamento”, frisa.
Desse modo, as investigações apontam que os agressores estão no seio da família e são, na maioria das vezes, tios, primos, padrastos, vizinhos e até professores. Dado divulgado recentemente pelo G1 aponta, por exemplo, que sete professores foram presos este ano suspeitos de violência sexual contra crianças e adolescentes, em Mato Grosso, e 12 respondem a processo administrativo na Secretaria Estadual de Educação (Seduc-MT) pela prática do crime. Alguns dos casos ocorreram dentro de escolas e até mesmo em salas de aulas, cujas vítimas têm idades entre 9 e 16 anos.
Os fatos foram descobertos após denúncias e boletins de ocorrências registrados em delegacias de Cuiabá e também no interior do estado, que resultaram em inquéritos, processos criminais na Justiça e administrativos.
Eduardo Botelho informou também que houve aumento de registros de abusos sexuais envolvendo padrastos contra enteadas. Ele contou que em uma semana chegou a receber quatro casos deste tipo e o que chamaria a atenção é a postura das mães das vítimas diante do fato. “O que é estranho é que nesses casos a própria mãe dá mais valor na palavra do investigado do que nos relatos da filha. Essa postura pode estar relacionada a questão econômica da família e a dependência financeira”, destacou.
Outros registros na delegacia contra menores são por lesão corporal, abandono intelectual, abandono material, maus tratos e abandono de incapaz.
Casos
Um dos casos registrados na Delegacia de Defesa e Direitos da Criança e do Adolescente, na capital, foi a de um empresário, de 51 anos, que conseguia atrair as vítimas oferecendo a elas “um dia de princesa”, com presentes, passeios e dinheiro em troca de relações sexuais em suítes de luxo de motel. Ele é réu em três ações na Justiça e chegou a ser preso, no dia 14 de maio, pelo estupro de meninas entre 12 e 16 anos. Atualmente ele é monitorado por tornozeleira eletrônica.
A elas, ele oferecia presentes como celulares, quantias em dinheiro – em geral, de R$ 100,00 a R$ 400,00 - e passeios de carro. Conforme as investigações, as vítimas eram levadas para manter relações sexuais com ele em suítes de luxo de um motel perto da saída de Cuiabá para o município de Chapada dos Guimarães, a 65 km de distância.
Outro fato que ganhou repercussão foi a prisão de dois professores de duas escolas de futebol para crianças, e que teriam abusado sexualmente de 20 alunos. Conforme a Polícia Civil, os suspeitos, de 52 e 34 anos, faziam promessas de que os garotos entrariam em grandes clubes de futebol do país. Em troca disso, os meninos tinham que ter relações sexuais com os professores.