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Cotidiano Sexta-feira, 15 de Agosto de 2025, 15:37 - A | A

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Apoio umas as outras

Quatro anos de Talibã: enfermeira brasileira revela realidade das mulheres no Afeganistão

Segundo Rebeca, Khost é uma das poucas localidades onde mulheres ainda podem exercer funções profissionais

Terra

Foto-Jojê Notícias
Nesta sexta-feira (15), completam-se quatro anos desde que o grupo fundamentalista islâmico Talibã voltou ao poder no Afeganistão. Desde então, o país vive sob um regime marcado pela repressão sistemática às mulheres, que estão proibidas de frequentar universidades, academias, salões de beleza, parques e de ocupar diversos postos de trabalho. Em entrevista à RFI, a enfermeira obstetra brasileira Rebeca Rolim, da ONG  

Nesta sexta-feira (15), completam-se quatro anos desde que o grupo fundamentalista islâmico Talibã voltou ao poder no Afeganistão. Desde então, o país vive sob um regime marcado pela repressão sistemática às mulheres, que estão proibidas de frequentar universidades, academias, salões de beleza, parques e de ocupar diversos postos de trabalho. Em entrevista à RFI, a enfermeira obstetra brasileira Rebeca Rolim, da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), compartilhou sua experiência após seis meses atuando em uma maternidade no leste do país.

 

A brasileira Rebeca Rolim, integrante da Médicos Sem Fronteiras, acaba de concluir sua primeira missão no Afeganistão. Durante seis meses, ela atuou na província de Khost, próxima à fronteira com o Paquistão, em uma maternidade especializada no atendimento a gestações de risco. O objetivo da missão era claro: reduzir a mortalidade materna e ampliar o acesso a serviços de saúde de qualidade em uma das regiões mais vulneráveis do país.

Segundo Rebeca, Khost é uma das poucas localidades onde mulheres ainda podem exercer funções profissionais, especialmente na área da saúde, prestando assistência a outras mulheres. Em entrevista à RFI, ela relata a profunda sororidade entre as afegãs, que, mesmo diante das severas restrições impostas pelo regime talibã, encontram formas de se apoiar mutuamente e ressignificar uma realidade marcada pela exclusão e pelo silêncio no espaço público.

"Uma das coisas mais bonitas que vi na região foi o apoio que uma mulher dá à outra. Isso é muito forte. Elas se ajudam, elas colaboram entre si, criam fundos de questões financeiras para esse apoio. Se uma mulher precisa, a outra auxilia", diz a brasileira.

Como é a circulação de mulheres no país
Rebeca Rolim conta como funciona na prática a regra do governo para que as mulheres afegãs possam circular nas ruas, sempre "com o acompanhamento de um homem chamado mahram. "Elas não podem circular sem a presença desse homem. Até mesmo para ir à instituição, para ir ao hospital, elas têm que estar acompanhadas de um homem. Durante os exames, apenas mulher pode examinar outra mulher", destaca.

Na maternidade onde Rebeca atuou, homens não têm permissão para entrar. Apenas mulheres - como mães, sogras, irmãs e cunhadas - podem acompanhar as gestantes durante o atendimento. Ainda assim, Rebeca ressalta que nenhuma mulher fica desamparada: mesmo aquelas que chegam sozinhas para o trabalho de parto recebem atenção e acolhimento.

"As outras acompanhantes auxiliavam fazendo uma massagem, segurando a mão, trazendo uma comida (...) Isso era muito bonito de se ver. Como elas conseguem ressignificar toda essa realidade que a gente vê que é triste, mas como elas se fortalecem em um apoio comunitário", enfatiza.

Corte da USAID e a crise de saúde no país
O retorno do Talibã ao poder em Cabul, em 15 de agosto de 2021, ocorreu pouco antes da retirada final das tropas dos Estados Unidos e da OTAN, encerrando quase duas décadas de presença militar estrangeira no Afeganistão. Desde então, o país mergulhou em uma crise humanitária profunda, marcada por repressão política, colapso econômico e deterioração dos serviços públicos.

A situação se agravou ainda mais neste ano, com a suspensão do financiamento externo pelos Estados Unidos, medida determinada pelo presidente Donald Trump. O corte afetou diretamente programas essenciais, como o de assistência à saúde pública, já fragilizada.

Segundo dados da MSF, 422 unidades de saúde foram fechadas ou tiveram suas atividades interrompidas desde o fim do financiamento, deixando milhares de afegãos sem acesso a cuidados médicos básicos.

"A redução de apoio internacional, principalmente da USAID, em relação aos fundos e ao auxílio que havia na região, acabou causando a escassez de medicamentos essenciais e uma maior fragilidade no sistema de saúde. O que aumenta, sim, a crise humanitária, a crise de saúde no país", informou Rebeca Rolim à RFI.

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