Olá, aqui quem escreve é Roberto Peixoto, repórter de Meio Ambiente no g1. Este é o Termômetro da COP30, edição #DIA 3, um boletim com o essencial que você precisa saber sobre a Conferência do Clima em Belém, a primeira na Amazônia!
Neste terceiro dia, veja em 7 tópicos o que movimentou as negociações, os bastidores e as curiosidades da cúpula.
Na edição de hoje, te contamos como um protesto surpreendeu a segurança da conferência, por que a Arábia Saudita virou símbolo de impasse nas negociações e como a China entrou no centro das discussões climáticas.
1 - Em alta X em baixa
- EM ALTA: ???? A conversa sobre transição justa esquentou em Belém. Países de diferentes blocos se aproximaram da ideia de criar um mecanismo global para garantir que a mudança para uma economia de baixo carbono aconteça de forma inclusiva. Na prática, o debate é sobre como fazer essa virada sem deixar ninguém pra trás, apoiando trabalhadores, comunidades e países que ainda dependem de setores poluentes. A proposta empolgou as delegações e virou uma das pautas mais vivas da COP30.
- EM BAIXA: ????️A Arábia Saudita, por outro lado, virou o principal obstáculo nas negociações sobre o plano para outro tipo de transição: a transição energética. O país, que depende do petróleo, vem bloqueando qualquer tentativa de incluir novas metas para reduzir o uso de combustíveis fósseis. Como tudo na COP precisa de consenso, a resistência saudita pode travar um dos principais resultados esperados da conferência.
A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, celebrou o avanço das negociações sobre transição justa: "Os negociadores nos dão muita esperança".
2 - Brisa de esperança: a montanha chinesa estabiliza
Olha só essa: depois de anos batendo recordes, as emissões de dióxido de carbono (CO2) da China, o maior poluidor do planeta, pararam de crescer.
E isso não é pouca coisa. Segundo os especialistas do "Carbon Brief", o país está há 18 meses com emissões estáveis ou em queda, o que pode fazer de 2025 o primeiro ano real de recuo.
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Evolução das emissões da China. — Foto: Sarah Follador/Arte g1
O motivo é um combo poderoso: mais energia solar e eólica e menos gasolina e diesel. As placas solares estão se multiplicando pelo país e a venda de carros elétricos está em alta.
Só a geração solar cresceu 46% e a eólica 11%, o que fez com que quase todo o crescimento no consumo de energia fosse coberto por fontes limpas. Desde janeiro, o país já adicionou 240 gigawatts de energia solar e 61 de eólica, um novo recorde global.
Se esse ritmo continuar até dezembro, a China pode fechar 2025 com uma leve queda nas emissões, pequena em números, mas importante por sinalizar o começo de uma virada.
"A China entende [a transição verde] melhor do que qualquer outro. Ele [Trump] está cedendo a liderança para a China. O presidente Xi está vibrando", disparou o governador da Califórnia, Gavin Newsom em entrevista ao blog da Andréia Sadi durante a COP (leia a reportagem).
3 - Traduz aí, g1
O QUE É MITIGAÇÃO? Mitigação é aquele palavrão que, no fundo, quer dizer algo simples: atacar o problema pela raiz. É reduzir as emissões de gases de efeito estufa, proteger florestas, investir em energia limpa e, claro, diminuir a dependência dos combustíveis fósseis.
Na COP30, essa ideia se conecta ao chamado mapa do caminho, o plano que o Brasil tenta costurar pra mostrar quem faz o quê, até quando e com quais recursos pra frear a crise climática.
Mas tem pedra no caminho desse mapa: justamente a Arábia Saudita, gigante do petróleo, que está se opondo a novas metas e tentando travar o debate para longe dos combustíveis fósseis. Como tudo na COP precisa de consenso, um só “não” pode riscar o mapa inteiro.
4 - Ponto de tensão do dia: o 1º teste da presidência brasileira
A presidência da COP30 tem até esta quarta-feira (12) para resolver o primeiro impasse das negociações: o que fazer com quatro temas sensíveis que ficaram fora da agenda oficial.
Pra evitar a tradicional “briga de pauta” que costuma travar o início das conferências, o Brasil decidiu tirar esses assuntos da plenária principal e tratar cada um em consultas separadas. O pacote inclui financiamento climático, comércio internacional, lacuna de ambição das metas climáticas e relatórios de implementação, quatro pontos que, na prática, se cruzam.
Segundo Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, a ideia é buscar uma saída conjunta:
As consultas começaram na segunda, continuam hoje e devem mostrar se a presidência brasileira vai conseguir transformar esse nó diplomático no primeiro avanço concreto da conferência.
5 - Raio do Dia
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O embaixador do Iraque recebe o prêmio em nome do grupo G77+China. — Foto: Climate Action Network
???? O tradicional “Fóssil do Dia” da COP, aquele prêmio organizado paralelamente por ambientalistas e que normalmente ironiza países que atrapalham as negociações do clima, teve uma reviravolta nesse segundo dia de cúpula. Em vez de apontar um vilão, o destaque foi positivo: o “Raio do Dia” foi para o G77+China, grupo que representa 134 países em desenvolvimento.
Eles foram reconhecidos justamente por defender a criação de um mecanismo global de transição justa dentro da ONU, uma forma de garantir que a mudança para uma economia de baixo carbono aconteça de modo mais justo, sem deixar ninguém para trás nem aumentar dívidas de países pobres.
"A negociação de transição justa está entre as principais expectativas para essa COP. Tal negociação tem potencial para tratar da grande questão que preocupa muitos países, que é o medo de que a transição para uma economia de baixo carbono prejudique suas economias e aprofunde desigualdades sociais", diz a especialista em política internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim.
Segundo a rede Climate Action Network, que organiza as premiações diárias, a proposta do grupo foi um “sopro de liderança” num momento em que muitas negociações ainda patinam. A ideia é fortalecer o diálogo entre governos, trabalhadores e comunidades afetadas, e colocar as pessoas, não os lucros, no centro da ação climática.
A arte que inspira a logo da cobertura do g1 na COP30 vem direto da Ilha do Marajó, berço de uma das identidades mais marcantes do Pará. Criada por povos indígenas que viveram na região há mais de mil anos, a arte marajoara é feita de barro, simetria e história, cheia de desenhos geométricos que representam cobras, sapos e figuras humanas em forma de animais.
Nossa repórter Paula Paiva Paulo foi até Icoaraci, bairro de Belém conhecido como polo da cerâmica marajoara, para conhecer o mestre Doca Leite, que há mais de 40 anos transforma argila em arte.
Ao lado do filho, Bruno Gonçalves, ele mostrou o passo a passo da produção e explicou como os tons de vermelho, preto e branco continuam vivos, agora com tintas modernas que imitam o urucum e o jenipapo usados pelos antepassados. Dê o play no vídeo acima. Vale muito a pena assistir!
7 - Além da imagem
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Manifestantes, entre eles indígenas, tentam entrar à força no local que sedia a COP30, em Belém (PA), na noite desta terça-feira (11). — Foto: REUTERS/Anderson Coelho

















